Por Paula Vielmo
A tomada de uma decisão responsável demanda tempo e levou alguns anos até que efetivasse a desfiliação do Partido Socialismo e Liberdade. Entretanto, desde o ano de 2019 pra cá a situação interna piorou e antes mesmo do retorno para Barreiras (da qual estive distante entre 2019 e 2021), os indícios de que o PSOL local tornara-se uma legenda como todos os demais, selou a decisão política.
Cabe trazer à luz que entendo o partido político como um abrigo ideológico, que congrega uma diversidade de pessoas, lutas, movimentos, que buscam se movimentar em torno de um objetivo em comum, qual seja, no caso do PSOL, transformar a sociedade capitalista em uma sociedade socialista. Sigo acreditando na importância da organização política Partido.
Apesar da ruptura com o PSOL, é inegável a relevância da atuação nacional, sobretudo no Congresso Nacional e muitas frentes de lutas valiosas e combativas. Entretanto, para admirar a atuação parlamentar de membros de um partido, votar em suas candidaturas e contribuir financeiramente, não é necessário estar filiada. A filiação fala de um movimento permanente, agora inexistente.
Além disso, têm sido comum encontrar pessoas e ser interpelada pela pergunta: "E o PSOL?", ao qual respondo que não sei e que me desfiliei. Essa situação, recorrente, provoca certo desgaste pela sua repetição, mas compreendo a associação feita ao Partido no município, principalmente por ter sido candidata e exposto-me publicamente por três eleições: como candidata a vereadora em 2008, como candidata a Deputada Estadual em 2014 e como candidata a vereadora em 2016. Em todas as três, cumpri com uma tarefa política coletiva de construção partidária e propagação do programa político. Ademais, respeito cada pessoa que me pergunta, mas é fato que já comecei a construir o afastamento da minha figura do PSOL, o que se dará não apenas por um certo "sumiço", ausência de presença pela vida política municipal, mas igualmente pela ausência de candidaturas e envolvimentos nas campanhas eleitorais.
Escolhi para comunicar a minha desfiliação durante o mês de setembro, quando os Ipês-do-cerrado estão bastante floridos, mas é o calor do verão e as chuvas que temos vivido, que dão o tom da publicização desta decisão. De fato, o sol está baixo neste momento. A demora não trata apenas do período eleitoral, mas de uma certa tristeza com o fato. Em respeito ao Partido, encaminhei, como é correto fazer, uma correspondência em que requeria a desfiliação e comentava sobre a trajetória na organização. Até a data de hoje, não tive sequer retorno com um "ciente". Este fato, reforça os motivos que levaram ao rompimento, aos quais passo a expor abaixo.
O primeiro trata-se de uma ausência de vida orgânica, por meio de reuniões regulares, campanhas de filiações, atividades e eventos; movimentação nas redes e nas ruas. Tornar-se uma legenda partidária e um aparato para o personalismo dos esquerdomachos, do qual fraudes nas cotas de gênero certamente estiveram presentes e foram, para minha tristeza, negligenciadas.
O segundo motivo versa sobre uma ênfase no processo eleitoral em detrimento da agitação e movimentação política, que tem relação estreita com o primeiro motivo. É fato que os Partidos têm visibilidade durante os anos eleitorais, mas é fato mais ainda que a sua organicidade ocorre durante todo o tempo.
O terceiro e não menos importante fala sobre confiança política, valor sobre o qual é fundamental toda construção política.
O principal fato para desfiliar do PSOL foi notar que os motivos que me levaram a buscar sua construção em 2007 foram soterrados e substituídos por um personalismo comum cujas consequências são para a construção coletiva e cotidiana.
Por fim, guardo com carinho os bons momentos, as reuniões, formações políticas, banca de livros, viagens pela região Oeste, atos nas praças, pinturas de faixas e camisetas, elaboração de panfletos, cada assinatura de filiação e pessoa que conheci neste processo; igualmente não esqueço as rasteiras e ações traiçoeiras, as quais cabe a quem as provocou arcar com as consequências e, como Maria Bethânia, digo que "O que é teu já tá guardado / Não sou eu que vou lhe dar".
Agradeço imensamente cada pessoa que se filiou acreditando na possibilidade de construção de um projeto político para Barreiras, bem como cada voto de confiança durante as eleições em que estive candidata, bem como os suportes para as ações. São incontáveis!
Retorno à 2007 e resgato uma fala do meu amigo Claudio Roberto de Jesus, à época em que nos filiamos ao PSOL, parafraseando-o: não sou de luta porque estive no PSOL, mas estive no PSOL por ser de luta. E a única certeza, minha gente, é que a luta continua, porque os sonhos de transformação social não cabem numa legenda, mas cabem na política e na organização política coletiva. Sigamos!