quinta-feira, 30 de maio de 2013

Barreiras em imagens (II)

Vergonhosamente, a segunda postagem da série "Barreiras em imagens" aparece mais de dois anos após o início desta coluna. Não é por falta de imagens, é por falta de organização dessa blogueira. Desculpem!

Essa foto vai para JASON COIMBRA que me fez uma cobrança graciosa na página do blog no facebook

Respeito ao pedestre, não se vê por aqui!
Foto: Paula Vielmo - 22/04/2013

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Matéria do Jornal "A tarde" na superfície do problema

Por Nelma Aronia Santos¹

Foto: arquivo pessoal

Matéria do Jornal "A tarde" na superfície do problema: Essa é de lascar. Às vezes penso: Será ingenuidade, narcisismo, negligência ou cinismo de uma gente "desavergonhada", como diria Gregório de Matos? Pois é, o jornal "A tarde", de hoje, traz uma manchete na primeira capa, intitulada "Salvador é mostrada no exterior como "cidade em guerra". E na minha opinião, é, pois sei quantos mutilados, doentes ex drogados e vendedores ambulantes circulam todos os dias nos ônibus coletivos e quantas crianças e adultos pedem esmolas ou até mesmo comida nas bancas de acarajé e nos bares que permitem tal prática, mas isso, para quem já está com as retinas fatigadas de violência urbana, "é café pequeno", como se diz. 

O que fez Salvador receber o título de "cidade em guerra", foi o índice de mortos por arma de fogo. Esse é o ponto fulcral da ingenuidade, negligência, narcisismo ou cinismo que percebo na matéria, pois o jornal informa que a agência Reuters divulgou nos países europeus que Salvador teve "aumento de mais de 250% na taxa de homicídio, de acordo com o Centro de Estudos Latino-americanos (Cebela)". Em seguida, o jornal afirma que segundo dados do mapa da violência de 2013, publicado pelo mesmo Cebela, "revelam número é diferente. Segundo levantamento, o aumento no número de mortos por arma de fogo em Salvador foi de 157,8% no decênio 2000-2010". 

Por quê não se faz uma discussão para refletirmos sobre o problema? O que o editorial do jornal pensa sobre um assunto tão sério? O que pensa nosso prefeito e governador sobre o assunto? Mais surpreendente, foi o antropólogo consultado afirmar que "A repercussão internacional das imagens não terá impacto negativo para Salvador". Ainda segundo o antropólogo, "Vivemos a era da super-informação. Esse tipo de notícia é muito corriqueira. No exterior, é só mais uma imagem, que perderá destaque quando um fato no Oriente Médio chamar atenção". Não paramos aí. O secretário de turismo disse que "Essas fotos são posadas e artificiais". Como diz um personagem de Rubem Fonseca "Putaquepariu". Isso mesmo, tudo junto, pois a expressão sai como um vômito. Então, quer dizer que fiquemos satisfeitos porque o número de mortos, afinal, não foi tão grande assim. apenas 157,6% do total? ou então, fiquemos tranquilos pois, para nossa felicidade essa imagem será apagada por outra desgraça maior do Oriente Médio!!!? Quanto à fotografia "Pousada", pode até ser, mas como essas armas forma parar nas mão dos adolescentes? 

O que é mais irônico nessa tentativa de "acalmar os ânimos, pois a coisa não é tão ruim assim", é que no mesmo jornal tem uma foto de um hospital destruído, uma maca com alguém sendo atendido em precárias condições pois os profissionais da saúde estão paralisados, pessoas reclamando da guerra que é para conseguir um transporte coletivo, avião pulveriza inseticida sobre uma escola, ciclistas pedem respeito para evitar tragédia, corpo de suspeito que matou a cozinheira é encontrado morto. Ou seja, nosso jornal é um verdadeiro palimpsesto de violência e os estrangeiros é que são espetaculares? Quando vamos parar de fingir que está tudo bem e encarar nossos problemas?


¹  Professora da UNEB. Enviado para publicação em 04/05/13