sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Retrocesso na Câmara Municipal de Barreiras: o que esperar a partir de 2017?

Por Paula Vielmo


Distante de termos qualquer mudança política em relação aos 19 vereadores eleitos para o mandato 2017-2020, considero que tivemos  um retrocesso na composição da Câmara Municipal de Barreiras, cujo perfil a partir dos eleitos ficou ainda mais conservadora, tendo em vista a reeleição de 9 vereadores, dentro os quais alguns de posturas reacionárias ao extremo, como Gilson Rodrigues (DEM), o retorno de vereadores que já tiveram mandatos e não fizeram nada de significativo (Irmã Silma, Sobrinho, Cézar da Vila) e outros sem muito potencial para empreender mudanças significativas, tendo em vista a forma de fazer política. Em resumo, nada de novo!

Para piorar a já baixa quantidade de mulheres na política representativa, houve redução na presença de mulheres na Câmara de 5 para 3 vereadoras, sendo que nenhuma das eleitas tem práticas nem propostas voltadas para as mulheres ou à igualdade de gênero. Se o mandato de Karlúcia Macêdo (PMDB) como vereadora foi de destaque nos últimos anos, a partir da campanha como vice-prefeita, ela assume uma posição secundária, ficando praticamente invisível.

É comum após as eleições iniciarem debates e acordos sobre a presidência da Câmara Municipal. Em Barreiras não foi diferente e logo após a eleição, inúmeros eleitos já anunciavam a pretensão de assumir tal posto, tais como João Felipe (PTB), Gilson Rodrigues (DEM), Marcos Reis (PTN).

Infelizmente, é comum também nesta velha política no qual estamos inseridas/os, que a autonomia do poder legislativo seja colocada em xeque diante de uma maioria de vereadores/as sob a sigla do prefeito eleito. Em Barreiras também não foi diferente.

Dos 19 vereadores/as eleitos/as, segundo pesquisa no site do TSE, 11 estão sob a coligação/base de Zito Barbosa (DEM), a saber: Irmã Silma e Eurico Queiroz (PRB), Otoniel (PDT), Dra. Graça e João Felipe (PTB), Eugênio (PMDB), Dr. José Barbosa (PSC), Almery e Gilson Rodrigues (DEM), Carlos Costa (PHS) e Cézar da Vila (PT do B) e 08 foram eleitos como base da "oposição", por estarem na Coligação de Antônio Henrique (PP), a saber: BI e Carlão (PP), Vivi Barbosa (PC do B), Sobrinho (PPL), Beza (PSL), Professor Hipólito (PTC), 

Nesse jogo, em que o povo não é nada além do legitimador, o que não falta é gente desorientada e achando que "política é isso". Não! Isso é a velha política. A política como bem comum não se submete a desejos e mandos dos chefões de plantão, isso é da alçada da velha política, o que os ditos novos e antigos vereadores sabem muito bem fazer. 

No dia 28/12 uma notícia surpreendeu: "Gilson Rodrigues deve ser o novo presidente da Câmara de Barreiras". E no dia seguinte (29) "Zito reúne vereadores; Gilson já tem 16 votos", com direito a "selfie" sem qualquer pudor de intromissão de um Poder (Executivo) sobre o outro (Legislativo). Não bastasse, para posar de transparente, fazendo uso sofista das palavras, o vereador João Felipe (PTB) postou em sua página pessoal do facebook o acordo que decidiu pela chapa para a mesa diretora da Câmara e Gilson Rodrigues, do mesmo Partido de Zito, como presidente.

Esse fato nos faz refletir principalmente sobre duas questões:

1) A função de fiscalização do Poder Legislativo estará muito comprometida, com uma Câmara submissa e dependente do Prefeito (Executivo). Ao contrário do que possam argumentar, não se trata de "governabilidade", mas de submissão. Tanta, ao ponto de que um candidato eleito na base do candidato e atual prefeito não reeleito, Antonio Henrique, foi ameaçado, pelo Presidente Estadual do seu Partido, de perder o mandato, caso se negasse a "apoiar e votar no candidato que for indicado pelo prefeito eleito para a presidência da Câmara do Município".

2) Teremos na presidência da Câmara um vereador reeleito, sem nenhum trabalho relevante à comunidade e que ganhou projeção após divulgação de informações falsas envolvendo o debate de gênero uando da construção e tramitação do PME, o Plano Municipal de Educação (ainda não aprovado). Este mesmo vereador tem posições públicas que afrontam diretamente os Direitos Humanos, sobretudo das mulheres e pessoas LGBT. De fato, o conceito de gênero não é de amplo conhecimento e compreensão da sociedade, mas trata-se, resumidamente, das construções sociais dos papéis masculinos e femininos em sociedade (veja também texto que escrevi na época AQUI).

Esse cenário aponta que, sem dúvidas, teremos uma situação pior em Barreiras do que a maioria da população – enganada - decidiu nas urnas. Nesse contexto, destaca-se o jovem João Felipe, atual presidente do PTB, o 6º mais votado nas eleições de 2016, cuja trajetória inclui a militância estudantil secundarista, tendo ocupado o cargo de coordenador de Politicas para a Juventude na gestão da ex-prefeita Jusmari Oliveira, presidente da União da Juventude Socialista (UJS) em Barreiras, assessor parlamentar da ex-deputada estadual Kelly Magalhães e enquanto filiado do PC do B, por indicação da ex-deputada, ocupou o cargo de Coordenador Regional do Sine-BA,  na Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e Renda, tendo mudado de sigla partidária (veja nota do PC do B sobre o fato), filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro e de imediato assumido a presidência do mesmo. Necessário registrar a severa mudança ideológica (de um Partido considerado de “Esquerda” para um Partido considerado de “Direita”) para atender o objetivo de ser eleito, projeto alcançado com sucesso.

Esse jovem, que impressiona muita gente merece atenção em relação às suas velhas atitudes, ao discurso sedutor e ao caminho que trilha lado a lado com velhos políticos profissionais. Ele, que foi discriminado pela vereadora Núbia em determinada ocasião em virtude de sua orientação sexual agora se alia com aqueles que oprimem a sexualidade que foge da norma. Obviamente não se legisla com a sexualidade, mas é óbvio também que o que somos enquanto seres nos constituí como sujeitos políticos e influencia em nossas escolhas. Em tempos de ataques aos Direitos Humanos, toda atenção é preciosa e deve ser precisa.

João Felipe afirmou que a chapa para a Mesa Diretora da Câmara e o possível presidente Gilson não influenciarão no seu trabalho na Câmara e na defesa das minorias sociais. Essa afirmação demostra desconhecimento dos procedimentos e quem sabe, alguma inocência acerca do legislativo. Há quem creia nisso. 

De nossa parte, a convicção de que não teremos oposição ao prefeito, mas menos ainda fiscalização por parte da Câmara Municipal e deveremos intensificar tais ações do lado de fora. 2017 espera de nós muita luta, nada mais!



domingo, 4 de dezembro de 2016

Ato contra a PEC 55 e confronto com a PM em Brasília: o relato de quem estava lá

Por Paula Vielmo

No dia 29 de novembro, milhares de pessoas, vindas de todos os cantos do país estiveram em Brasília para o ato intitulado #OcupaBrasília, afim de manifestar-se contra a aprovação pelo senado da Proposta de Emenda a Constituição 55 (PEC 55). Eu estive presente, na caravana do SINASEFE-IFBA, juntamente com mais 40 pessoas (professores, técnicos/as e estudantes).

A nossa viagem foi longa. Saímos de Salvador na segunda (28) por volta de 10h da manhã e chegamos em Brasília quase 13h do dia seguinte. Muita gente! Diversidade de cores, idades, vestimenta, agrupamentos políticos. Uma programação também diversificada de acordo com o segmento: nós da Educação Pública tivemos uma aula sobre auditória da dívida e PEC 55 com Maria Lúcia Fattorelli, em frente ao MEC. Em seguida, às 16h começou a concentração no Museu Nacional e a partir das 17h marchamos em direção ao Congresso Nacional. 

Eu já havia participado de um ato em Brasília, que marchou até o MEC, mas nunca antes até o Congresso. Estava bastante empolgada e animada, afinal estava rodeada de milhares de pessoas (dizem entre 30 e 50 mil), gritos de ordem criativos, blocos por agrupamento (sindicatos, organizações estudantis, centrais sindicais), cartazes diferentes de tudo o que eu já havia visto, performances na rua, música, batucada, luta e alegria. 

Foto: jornalistas livres
Chamou minha atenção que as pessoas mais jovens usavam bastante o corpo para se manifestar: muitas frases de "Fora Temer" escritas pelos corpos, adesivos de protestos cobrindo os seios nus, trans, gays afeminados, embaralho do padrão visual de gênero. Tudo lindo! 

A marcha transcorria pacificamente até a chegada no Senado. Não demorou mais do meia hora pelas minhas contas e já estávamos correndo das bombas de gás lacrimogênio e de pimenta que tomaram conta do espaço.

Houve confronto de alguns poucos manifestantes com a PM, que de maneira absurdamente desproporcional jogou spray de pimenta no rosto de uma jovem que se manifestava no espelho d´ água do Congresso. Ninguém me contou, eu vi!

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Eu estava com o meu colega de campus do IFBA, Fábio Bordignon e na correria nos perdemos. Por alguns instantes eu só corri, até encontrar outra colega do IFBA e logo em seguida mais duas colegas e um estudante. O estudante, dizendo-se experiente em confrontos com a Polícia, foi o nosso guia. Não seguimos com a multidão, mas por fora dela.

Foto: Agência Brasil
Estava aflita. No caminho muitas pessoas (sobretudo mulheres), desmaiadas, sendo carregadas, vítimas da truculência da PM. Olhei para o alto e vi as bombas descendo. Estrondo no solo, barulho horrível, pavoroso. Correria. Mulheres, idosas, jovens, algumas crianças.

O carro de som pedia que a polícia parasse e pedia que quem tivesse leite de magnésia prestasse socorro aos demais. Haviam pontos de pessoas da área da saúde auxiliando. Eu, lá aflita. A sensação de impotência é sempre indescritível. A garganta começou a fechar e os olhos a arder. A camiseta serviria como recurso para proteger um pouco e dar condições para respirar.

Milhares de pessoas correndo. Olhei para o alto para procurar o som e vi alguns helicópteros sobrevoando. Eles jogavam bombas de gás lacrimogênio e pimenta do alto. Estava insuportável e a quantidade de pessoas passando mal aumentava.

Estávamos caminhando devagar quando três policiais se aproximaram e nos mandaram subir. Obedecemos. Atravessamos a rua de algum dos Ministérios. Outro grupo de policiais se aproximava, não sei quantos precisamente. Um deles gritou "desce porra". Havia uma escadinha estreita e foi por ela que nós e muitas outras pessoas desceram. Eu estava perdida. A sorte foi a colega que sabia o caminho e segurando na minha mãe disse para seguirmos.

Chegamos até o Museu Nacional. Precisávamos achar o restante da nossa caravana. O carro de som anunciava para nos reorganizarmos para retomar o ato. Eu queria ir. Fui. Estava impossível permanecer...a Polícia avançava e com ela a violência e as bombas de gás lacrimogênio. Não dava pra respirar. Fomos até a rodoviária em busca de nosso ônibus. Muitas pessoas correndo e a polícia avançando. Ficava cada vez pior para respirar por causa do gás. Os olhos ardiam e já não conseguiam ficar abertos sem lacrimejar.

Foto de autoria desconhecida, tirada de dentro do senado.
Encontramos um grupo de estudantes da nossa caravana. Uma tomada possibilitou ligar o celular que havia descarregado e ligar para alguém e saber onde estava o nosso ônibus. Todo mundo estava bem. Fomos embora, retornando para as nossas casas.


Desde a terça-feira que não paro de pensar no acontecido. A violência da polícia, a desproporcionalidade do ato, o enfrentamento, o nosso despreparo para o conflito apenas com nossas faixas, cartazes e gritos de ordem. As pessoas passando mal. 

Nunca estive em um campo de guerra, mas me senti em um naquele 29 de novembro.

Enquanto éramos agredidos, os senadores votavam a proposta que vai ferrar o povo brasileiro por 20 anos! Demorei para escrever porque não conseguia expressar o que aconteceu lá. Ainda não digeri. Não aceito a ideia de naturalizar o que aconteceu. Nenhuma delas. A luta continua!



1. Não tenho nenhuma foto de minha autoria porque o celular descarregou
2. Fotos disponíveis no site do SINASEFE: Clique AQUI
3. Vídeo do Mídia Ninja: Clique AQUI
4. Nenhuma foto ou vídeo é como vivenciar.






sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O caos municipal pós eleição

Por Paula Vielmo


Depois do resultado das urnas no dia 02 de outubro, o caos instalado em Barreiras, incrivelmente, piorou! A segunda-feira (03/10) começou com o aumento abusivo das tarifas, de R$2,30 para R$2,80. A culpa logo recaiu sobre o prefeito derrotado. A Prefeitura logo tratou de emitir "Nota de Esclarecimento" dizendo que foi decisão judicial e tirando o corpo fora. Balela! A culpa primordial é sim da prefeitura que decretou o aumento. E é culpa da conivência da justiça que autorizou a efetivação do aumento. 

De terça em diante os alardes sobre demissões de contratados/as na saúde e educação, sobre postos de saúde fechados, sobre consultas e cirurgias canceladas, sobre escolas se
m merenda, sobre suspensão de transporte escolar, sobre exonerações de cargos.

O povo, alardeado, se indigna pelos grupos de whatsApp. No facebook, um vereador eleito faz exibicionismo com vídeos para uma platéia eufórica. É o cúmulo da imbecilidade.

Há aquelas pessoas que chegam e perguntam: o que VOCÊS vão fazer, se referindo ao PSOL. Deveria ser, o que podemos fazer, juntos? A lamentável espera de que os outros façam, que aguarda heróis e heroínas. Indo de encontro à popularidade que isso gera, desculpem, mas seguimos em luta, sem heroísmo, mas junto. Quem luta só não vai longe e nosso alvo é um outro mundo! É preciso que o povo deixe de ser platéia e assuma o protagonismo. Até lá, vai ser disso pra pior!


domingo, 27 de março de 2016

Aumento da tarifa de ônibus: de novo, prefeito?!

Por Paula Vielmo


Imagem: Jornal Novoeste
O aumento das tarifas de ônibus, sobretudo no final ou início de cada ano já faz parte do calendário país afora e em Barreiras não é diferente. No entanto, felizmente a última tentativa de aumento das tarifas em dezembro de 2015 foi bloqueada pelo Ministério Público, por considerar realmente abusivo o valor do reajuste (que tinha bem mais cara de aumento mesmo!).

Passados alguns meses, contando com a tranquilidade da população barreirense, sofrendo com o calor nosso de cada dia, eis que o atual prefeito, novamente aparece com um Decreto para AUMENTAR as tarifas de ônibus, urbana e rural, sem qualquer transparência sobre os cálculos e sobre as planilhas.

Ninguém nega que a empresa prestadora do serviço precisa ter EQUILÍBRIO financeiro para funcionar e prestar o serviço, tampouco que as coisas estejam encarecendo, mas o AUMENTO continua ABUSIVO!

No velho oeste da Bahia, Barreiras é conhecida como terra sem lei, não por acaso. Aqui, o legislativo pouco ou nada atua e não consegue garantir o seu papel, seja por falta de vontade ou de dificuldades postas pelo executivo; aqui também, o judiciário é lento por demais e sempre precisa ser provocado, nunca age por conta própria, parecendo ter medo; por fim, o executivo age como bem quer, como se realmente o prefeito fosse ainda um coronel.

E nós, população? Ou reagimos, resistimos e lutamos, ou seremos vistos e tratados como submissos, pagando cada vez mais caro por um serviço cada dia mais ruim.

Não podemos jamais deixar de lembrar que a licitação do transporte, fato bastante recente, é fruto de pressão popular e ação da justiça (com muita contribuição desta que escreve, eu), não sendo de maneira alguma, iniciativa de governo atual ou anterior.

Também não podemos deixar de lembrar que a empresa ganhadora do serviço foi a mesma que atuava ilegalmente e tinha a proteção dos sucessivos governos. Lembremos muito bem disso, quando aparece gente de tudo que é lado bradando conta o aumento, mas estavam não faz muito tempo, fazendo parte de governos anteriores que mantinham a mesma prática de aumento (disso eu me lembro).

Por fim, continuemos SEMPRE em luta e vamos às ruas. Não aceitemos esse aumento abusivo, não aceitemos o serviço de péssima qualidade, não aceitemos (des)governos e não aceitemos oportunistas de plantão.

Dia 30 de março a partir das 16h na Praça Castro Alves, o povo vai novamente tomar o rumo de sua história, fazendo luta contra esse aumento. Lembremos que por trás desse aumento existe uma grande MÁFIA DO TRANSPORTE que deve ser combatida!



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

2016: ANO ELEITORAL À VISTA!

Por Paula Vielmo
Publicado originalmente no Blog Immagine



Começou o ano de 2016, um ano marcado por ser… ano eleitoral! Sim, a pauta principal nas rodas de diálogo é: quem será o prefeito? E a maioria esquece de indagar e se preocupar com “quem serão os/as vereadores/as?”. Eleições: esse é o tema da nossa reflexão de hoje.
Primeiro vamos diferenciar “ano político” (expressão muito utilizada) com ano eleitoral. Tal necessidade parte do fato da compreensão de que a política está no cotidiano de nossas vidas (mesmo para quem não gosta), mas as eleições, no Brasil, estão presentes de dois em dois anos.
Bem, em ano eleitoral, ouço e leio muito as pessoas dizendo que estão fartas dos desvios, da pouca ação dos representantes políticos e do descaso para com os direitos aos serviços como educação, saúde, cultural, lazer, esporte, moradia, transporte. Lembrando da tão caótica infraestrutura e saneamento básico, do qual ainda estamos distantes. Bem, eu também estou farta, indignada completamente!
Também é comum ouvir que diante desse cenário, precisamos de alguém “novo”. E esse novo, para a imensa maioria das pessoas é QUALQUER NOME NOVO. Eis que aí reside uma armadilha perigosa: nome novo não significa um novo projeto político, um novo jeito de governar e compromisso com o que é público. Esse, pra mim, é ponto chave que merece muito de nossa atenção no momento de votar em alguém.
Votar significa que você deposita suas expectativas que aquela figura irá fazer o que você acredita que precisamos, que ela fará diferente ou em alguns casos, o voto significa uma troca de favores. Essa prática de troca é muito comum – infelizmente, em nossas eleições, onde a miséria ou manutenção de privilégios de certas pessoas é preciosa moeda de troca.
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No entanto, votar não deve ser uma manifestação de que aquela (s) pessoas serão salvadores/as dos problemas. É fundamental que nós, eleitorado/população, acompanhemos o trabalho ou a ausência de trabalho, fazendo as devidas cobranças. A Constituição Federal de 1988 anuncia, de cara, em seu artigo 1º, parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Por fim, mas não menos importante, pouco se dá atenção à composição da Câmara Municipal (Poder Legislativo), a galera que deverá elaborar as leis, analisar e votar os Projetos de Leis e fiscalizar o Poder Executivo (Prefeito/a). Um voto que não é direto, e portanto, mais perigoso. O que significa voto não direto? Significa que você pode votar em um e eleger outro/a, pois é uma eleição “proporcional”, onde é eleito/a quem tem mais votos dentro de uma coligação e que “puxa” os votos dos demais para si.
Atenção ao que nossos “representantes” (não substitutos), fazem; atenção ao seu voto e as armadilhas eleitorais. Analise bem a trajetória política dos/as candidatos/as, o Partido (tem aqueles que estão no ranking da corrupção), quem está junto na coligação. Conhecer o todo, o contexto, é essencial para as mudanças que queremos e precisamos! Vote com plena consciência.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

FEMINISMO, AFINAL DO QUE TRATA?

By Paula Vielmo | fevereiro 17, 2016
Publicado originalmente no Blog Immagine



Diversas matérias analisando o ano de 2015 apontaram manifestações de caráter feminista como destaque na conjuntura nacional e internacional. A filósofa política internacionalmente reconhecida, Nancy Fraser, em palestra que tive a honra de assistir na Reitoria da UFBA, em novembro de 2015 em Salvador, apontou que a revolução do século XXI perpassará pelo feminismo.
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Sem dúvidas, esse fenômeno reaparece com força após a década de 60, agora em nossos dias, sendo inclusive uma das suas bandeiras (o combate a violência contra a mulher) tema da redação do ENEM em 2015. Todavia, mantêm-se muitas dúvidas de décadas atrás. Há muita gente que não sabe do que se trata, outras que tem medo ou outras que distorcem, por conveniência ou ignorância o real sentidohier do feminismo. Se o feminismo na década de 60 foi propagandeado como algo perigoso, ainda permanecem resquícios sobre esse provável “perigo” também em nossos dias. Um perigo real às hierarquias entre homens e mulheres, de fato!
Pense rapidamente: o que você sabe sobre feminismo? O que entende?  O que já leu sobre? O que já ouvir falar sobre? O que acredita que o feminismo defende? Após essa breve reflexão, de certa maneira complexa, prossiga a leitura com minha tentativa de ser didática e elucidar algumas dessas questões e conceitos pouco entendidos.
Pois bem, o feminismo é um movimento político, filosófico e social que estuda/analisa/busca eliminar a condição social de desigualdade entre homens e mulheres. Diante disso, o feminismo defende igualdade de direitos entre mulheres e homens, ou, nas palavras da Professora Doutora da UFBA, Cecília Sardenberg, o feminismo “objetiva erradicar a ordem de gênero patriarcal, ou seja, erradicar o sexismo, a discriminação, a exploração e opressão sexual do gênero masculino sobre o feminino”. Patriarcal? Sexismo? Gênero? Que linguagem é essa?
O feminismo surge em oposição à dominação masculina, chamada de patriarcado. Essa dominação masculina ou patriarcado é a “identificação e centralidade no gênero masculino, que implica na predominância de relações assimétricas e hierárquicas entre os sexos” (Cecília Sardenberg). O patriarcado se manifesta através do machismo, que são as ações no dia a dia, que a gente conhece muito bem (“mulher no volante, perigo constante, “ei, sua gostosa”, “você nem parece mulher com esse cabelo curto”, “com essa saia curta tá pedindo…”, “mulher não sabe exatas”, etc e tal)
O conceito de gênero é muito confundido com o conceito de sexo, MAS, gênero não é sinônimo de sexo! Sexo diz respeito aos aspectos físicos/fisiológicos que distinguem os machos das fêmeas da espécie humano e gênero se refere aos  processos de construção cultural de relações que não decorrem de características sexuais diferenciadas entre homens e mulheres, mas de processos construtores dessas diferenças, produzindo, nesse movimento, desigualdades e hierarquias (Sardenberg e Macedo).
O feminismo não defende inversão de relação de dominação; não defende que as mulheres dominem os homens, mas luta para que haja o fim de relações de dominação,garantindo oportunidades iguais para homens e mulheres. A dominação de um sexo sobre outro é chamado de “sexismo”. O feminismo não defende o sexismo!
Mas, afinal, por que o feminismo é necessário? Porque existem desigualdades de gênero que precisam ser combatidas. Por exemplo, as mulheres recebem em média salários 40% menores do que os homens em uma mesma função; porque as mulheres sofrem determinadas violências somente pelo fato de serem mulheres (vide a tipificação do FEMINICIDIO no Código Penal em 2015); porque as mulheres sofrem mais violência sexual/estupros do que os homens; porque apesar de sermos mais de 51% da população e do eleitorado, somos quase invisíveis nos cargos de representação política; e porque essas relações desiguais não são naturais, mas construídas socialmente ao longo do tempo, podendo então serem desconstruídas.
Ficou com alguma dúvida? Escreva-me: pvielmo@yahoo.com.br, que responderei com muita satisfação, pois contribuir com a desconstrução de equívocos é prazeroso pra caramba!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Flores e Pedagogia Feminista em prática

Por Paula Vielmo
Pedagoga Feminista


Pedagogia Feminista: O conjunto de princípios e praticas que objetivam conscientizar indivíduos, tanto homens quanto mulheres, da ordem patriarcal vigente em nossa sociedade, dando-lhes instrumentos para superá-la e, assim, atuarem de modo que construam a equidade entre os sexos. (Cecilia Sardenberg )



Sem sombra de dúvidas fevereiro iniciou com uma grande surpresa profissional para mim, quando repentinamente recebi no dia 01, de uma estudante do curso de Enfermagem do IFBA três belas flores. Quando eu trabalhava como recreadora no município, era comum receber bilhetes e desenhos das crianças e até um ou outro presente, mas de adultos isso é bem mais raro e para mim, foi inédito. No entanto, apesar das flores terem me comovido, foi a motivação que me causou profunda reflexão e que gostaria de compartilhar com vocês, o que chamei comigo mesma de uma Pedagogia Feminista em prática.

Bem, uma semana atrás, havia conversada com a referida estudante, que procurou espontaneamente orientação pedagógica em virtude de dificuldades que estava sentindo no curso, sobretudo no que diz respeito à apresentação de seminários, ou seja, expressar-se em público. O curso Técnico em Enfermagem é um curso feminino e mais de 90% das turmas é composta por mulheres. Somado a isso, lembremos que na divisão sexual do trabalho, as profissões ligadas ao cuidar, como a enfermagem, são as profissões consideradas femininas, portanto, justifica-se a presença maciça de mulheres. Por fim, lembremos um fato importante: as mulheres geralmente têm mais dificuldade de se expressar publicamente em virtude da educação voltada para os espaços privados (lar), devendo manter-se calada, quieta, tímida. Tais características são consideradas virtudes femininas.

Dito isso, quando recebi as flores, fiquei sem entender o motivo. Foi então que veio a surpresa quando ela relatou que estava passando por problemas em casa e eu havia ajudado. Como assim, pensei eu? Não havia percebido nada de diferente em nossa conversa. Em seguida ela disse que o marido estava cobrando casa limpa e organizada, o que gerava pressão e desgaste em casa e ela estava abalada com isso. Eis que de repente, eu percebi o que havia acontecido e entendi o motivo das flores! 

Em nossa conversa, orientei sobre a rotina de estudos, local, organização do tempo. A estudante estava dormindo bem pouco e fui saber por quê. Ela acordava muito cedo para organizar a casa e preparar o almoço. Eu, como pedagoga feminista, entendendo que é importante que ela tenha tempo para estudar e que uma mulher tem várias jornadas de trabalho, disse que todos os moradores da casa devem ser/estar envolvidos nos cuidados domésticos e sugeri que ela dividisse as tarefas domésticas com o marido e o filho de 8 anos, sendo que ela faria as refeições, o marido lavaria a louça e o filho tiraria a poeira. 

Gente, eu jamais imaginei que isso ali acima, faria tanta diferença na vida de alguém. Foi o que motivou ela a me dar as flores, mas mais do que isso, foi uma prova cabal de como as mulheres sofrem com a sobrecarga de trabalho e com as exigências que se mantém em um contexto de trabalho diferenciado. Eu recebi as flores, dizendo que não precisava, que era o meu trabalho.

No entanto, não aprendi sobre isso em meus estudos sobre Pedagogia ou na minha graduação em Pedagogia, um curso também feminino. Aprendi sobre as desigualdades de gênero com o feminismo e me apaixonando por ele, busquei fazer relações com a educação até chegar à Pedagogia Feminista, pela qual também me apaixonei, tamanha a proximidade com a Pedagogia Transformadora, de quem já era seguidora.

Fiquei muito feliz naquela noite, mas fiquei muito triste também, pensando que a situação daquela mulher-trabalhadora-mãe-estudante não é única e que o feminismo é extremamente necessário. Por fim, ela me disse que conversou com o marido e ele ficou de contribuir mais nas tarefas domésticas. E sorriu!  Sim, o feminismo possibilita finais felizes!


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Chuvas em Barreiras: um desejo que torna-se uma tragédia anunciada

Por Paula Vielmo
(amante de chuvas)


Em tempos de reformulação do PDU - Plano Diretor Urbano, 
talvez esse textinho seja provocativamente útil.


Salvo falha da memória, o ano de 2015 foi de profunda estiagem, com raros pingos de água caindo do céu. Numa região conhecida por sua numerosa produção agrícola, isso é terrível. Não para o agronegócio que mantém as suas monoculturas latifundiárias utilizando até a última gota das águas dos rios, com seus inúmeros pivôs, mas de tragédia absoluta para os pequenos produtores rurais, que segundo um amigo agrônomo quando questionei como estavam plantando, disse "não estão".

Nesse cenário, somado ao clima de baixa umidade constante, de muita poeira e pouco vento; de problemas de saúde, sobretudo no sistema respiratório (mais das crianças e idosos); de queimadas e de fumaça se infiltrando de maneira violenta em nossos pulmões, um desejo latente: chuva!

Sim, a chuva tão desejada, tão esperada, tão necessária, demorou horrores para chegar, mas chegou! Queria que fosse um texto, uma reflexão, um relato e, sobretudo, uma vivência, totalmente positiva. Não é.

Fonte da imagem: Rádio Barreiras
A chuva por nós, tão aguardada, agora nos lembra a situação caótica em que nossa cidade encontra-se, sem qualquer infraestrutura no centro ou bairros não centrais para receber tanta água. Estamos, sem qualquer dúvida, diante de uma cidade despreparada e sem planejamento para receber de maneira saudável e positiva a água advinda da natureza.

Se antes, sair de casa significava deparar-se com poeira, agora não é mais nem com lama, mas com inundações que inviabilizam o direito de ir e vir; se os buracos eram "quase naturais", haja vista as décadas e décadas de suas existências sem mudanças, eles agora crescem com a força das águas ou se tornam invisíveis, aumentando a possibilidade de acidentes seja de automóvel, bike, ou a pé;

Os pedestres tem que conviver com a falta de educação dos motoristas, acelerados, jogando água para todos os lados, sem qualquer possibilidade de proteção, pois não há calçadas; Não há calçadas! E inacreditavelmente, agora está pior.

Bairro: Loteamento Rio Grande.
Fonte da imagem: Rádio Barreiras
Os usuários do transporte coletivo, antes expostos ao sol escaldante devido a ausência de paradas de ônibus cobertas (sim, as fatídicas placas nos postes continuam lá, firmes e fortes, saí governo e entra governo), estão expostos à água que caí sem parar.

As cenas são chocantes. E são reais! 

Eu, adoradora e amante de chuva, não consigo sequer aproveitar com total alegria esse momento, em virtude das condições degradantes, desumanas e caóticas em que Barreiras está, literalmente, submersa! E a responsabilidade é dos sucessivos governos e o total descompromisso, irresponsabilidade e falta de planejamento. 

A chuva é previsível, o orçamento público é de mais de 300 milhões por ano e a gente continua vivendo esse dilema, entre saber se é bom ou ruim ter chuva?! 

Até quando, ficaremos reféns da inoperância de Saulo, Jusmari, Antônio Henrique e semelhantes? Até quando teremos uma Câmara Municipal que se preocupa com a pequena política, enquanto o povo praticamente se afoga? Até quando a justiça ficará omissa, com os olhos vedados por conveniência e não por imparcialidade?

Que seja logo, a chuva precisa ser aproveitada como um bem natural ao qual temos que reverenciar , e de modo algum, temer. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Até quando o Centro Histórico será dominado pelo desconforto acústico?

Por Paula Vielmo

Primeiro domingo de 2016, mas me senti no ano todo de 2015. Obviamente necessitamos para transformações e mudanças, de muito mais do que "virar a folha do calendário", mas em tempos de início de ano e de perspectivas latentes, cabe o trocadilho para estimular a reflexão. Tudo bem, mas afinal, sobre o que trato?

Refiro-me aqui de algo que me incomoda faz muito, muito, muito tempo e diz respeito ao nosso patrimônio cultural e histórico, mas mais do que isso, diz respeito às condições de lazer a que estamos submetidos/as aqui em Barreiras, velho oeste da Bahia. Não somente aqui, mas é aqui que moro, logo, é aqui onde essas questão mais incomodam, pois estão bem próximas.

Faz realmente muito tempo que o chamado "Centro Histórico" virou um "Centro de Desconforto Acústico" (ou seria Poluição Sonora?), onde inúmeros bares disputam mais do que clientela, mas o som que dominará o espaço. Sim, considero uma relação de dominação, onde estabeleceu-se uma disputa nada saudável - sobretudo aos nosso ouvidos - de sons cada vez mais altos.

Além disso, a privatização do bem público salta aos olhos diante da banalização do inaceitável. Até pintar o asfalto, certos bares já fizeram. Sério, PINTAR O ASFALTO!

Foto: Paula Vielmo (07/01/2016)

Sabemos que temos um Poder Público altamente descompromissado e inoperante em relação a todas as demandas da população, mas é necessário frisar que é de responsabilidade do EXECUTIVO/ PREFEITURA fiscalizar as festas e sons expostos em via pública no Centro Histórico, bem como a possível poluição sonora a que as pessoas que frequentam o local ou que residem na região, estão submetidas. E tem legislações sobre isso e é de responsabilidade do LEGISLATIVO/ VEREADORES(AS) fiscalizar o cumprimento ou não das leis. Que tristeza, essa sensação permanente de que estamos em uma terra sem lei!

Bastaria uma regulamentação e conscientização dos donos e donas dos bares/karaokês e um revezamento de sons, considerando a distância pequenina entre os estabelecimentos para tornar/retornar o Centro Histórico ao local de lazer dos mais agradáveis da cidade. É possível e é necessário!

E aí, Prefeitura, que é que você vai fazer? O que a Câmara vai fazer?


Observação: troquei a foto no texto, pois era do Vieirinha e causou atrito com o pessoal do Bar, que eu a-do-ro. Nunca foi minha intenção atrelar o Vieira ao desconforto acústico, pois considero-o exemplo de resistência cultural em Barreiras, então troquei por essa foto que eu mesma tirei, após o texto ter sido escrito.