domingo, 28 de fevereiro de 2010

Xadrez nas escolas, cadê?


A Lei Nº. 846/009 aprovada em 03 de junho de 2009 pela Câmara Municipal de Barreiras instituiu nas Escolas Públicas Municipais o Programa Escolar de Xadrez Pedagógico - "Pró-Xadrez", a ser realizado com estudantes de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental.

Na lei, criou-se a Coordenadoria do Projeto Xadrez Escolar, vinculada a Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer e a Sala Municipal de Xadrez, sob responsabilidade da mesma secretaria.

Em todos os eventos públicos que participei após a aprovação dessa lei, inclusive o Encontro Pedagógico deste ano (2010), a Secretária Municipal de Educação orgulhosamente citava como ganho qualitativo a aprovação deste projeto. Ainda no ano passado, houve formação para professores/as trabalharem com o Pró-Xadrez que segundo a Lei aprovada, deveria ser "implantado nas escolas públicas municipais, num prazo máximo de 8 (oito) meses" (Art. 8°.)

O prazo já expirou em 03 de fevereiro e na próxima quarta-feira (03/03) faz um mês que deveria estar funcionando e ainda não está. As aulas no município já começaram, sob uma grande desorganização, pedagógica e administrativa que reina no governo "Cidade Mãe" e nada se fala sobre o programa de xadrez nas escolas, nem sobre a coordenadoria e a sala que deveriam ser criadas também.

Quando o programa será posto em prática para a comunidade estudantil das séries finais do ensino fundamental? Será mais uma ação fictícia?


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Quando a escola é de vidro (Ruth Rocha)


Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.
Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter
no vidro.
É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!
O vidro dependia da classe em que a gente estudava.

Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.
Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.
E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano era um horror.
Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.
E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.

Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados
no vidro, nem assim era confortável.
Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até
batiam no professor.
Ele ficava louco da vida e atarrachava a tampa com força, que era pra não sair mais.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que
a gente falava...
As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.
Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se
respiravam direito...

A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física.
Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a
bater uns nos outros.
As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. e na aula de educação física elas
ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinha jeito nenhum para
Educação Física.
Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.
E alguns meninos também.
Estes eram os mais tristes de todos.
Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza!

Se agente reclamava?
Alguns reclamavam.
E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso
que ela tinha boa postura.
Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam
vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.
Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até
coisa pior...

Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos
vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio
encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas
coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
Aí não tinha vidro pra botar esse menino.
Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...

Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.
O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas
mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
E os professores não gostavam nada disso...
Afinal, o Firuli podia ser um mal exemplo pra nós...
E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele
espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.
Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.

Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro,
como qualquer um.
Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
Mas Dona Demência não era sopa.
Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
Já no outro dia a coisa tinha engrossado.
Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.

Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá
da escola.
Seu Hermenegi ldo chegou muito desconfiado:
- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na
escola. Um perigo!
A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele
estava falando mal do Firuli.
E seu Hermenegi ldo não conversou mais. Começou a pegar as meninos um por um e enfiar á
força dentro dos vidros.

Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do
vidro - já tinha dois fora.
E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na
correria começamos a derrubar os vidros.
E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais dona Demência já estava na
janela gritando - SOCORRO! VÂNDALOS! BÀRBAROS!
(pra ela bárbaro era xingação).
Chamem o Bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina...

Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava
acontecendo.
E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou
assanhado e começou a sair dos vidros.
Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a
quebrar.
Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa,
que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.
Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro
comprar aquela vidraria tudo de novo.

Então diante disso seu Hermenegi ldo pensou um pocadinho, e começou a contar pra todo
mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava
bem certo, as crianças gostavam muito mais.
E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho,
não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:
- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...

Seu Hermenegi ldo não se pertubou:
- Não tem importância. Agente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta
outras coisas...
E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
Depois aconteceram mui tas coisas, que um dia eu ainda vou contar...

_____________

Nas nossas escolas as crianças estão em vidros invisíveis, bem mais difíceis de quebrar...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Hoje tem espetáculo?


Na quinta-feira (18) à tarde, houve uma "assembléia" da APLB-Sindicato no Centro Cultural de Barreiras, com as presenças da prefeita e da secretária de Educação.

A (auto) "representante" do dito sindicato apresentou alguns pontos do planos de cargos do magistério municipal que está sendo reformulado e destilou uma, das muitas infelizes frases naquela tarde: "já passou a hora de discutir, agora é pra ser votado". É foi exatamente a partir dessa concepção que a criatura dirigiu a "assembléia", apenas informando o que já tinha sido discutido, mas através de pontos e não do documento integral. E tratorou o debate, impedindo que a platéia (porque não era uma plenária) se manifestasse. Ela literalmente podou o direito de expressão da categoria que afirma representar. E continuou, berrando no microfone, competindo deslealmente com quem tentava gritar da platéia. Houveram reações contra aquela situação, e a tirana do microfone teve que ceder um pouco.


Em seguida convidou a prefeita e a secretária de educação para subirem ao palco, e no microfone negado à categoria, falar sobre algumas reivindicações e esclarecer alguns pontos em questão, como: 1) pagamento dos títulos; 2) vale transporte não entregue, mas descontado; 3) desconto de INSS do o 13º salário.

Não vou me ater a fala da secretária porque não vale a pena, mas é preciso registrar que a mesma informou que na segunda, quando iniciam as aulas, começam também os cursos da Plataforma Freire e não terá na data profissionais para substituir os/oas professores/as que farão os cursos, e orientou que os/as demais professores/as que não farão os cursos sejam solidários/as juntando as turmas para não mandar as crianças embora na primeira semana de aula. Será que a secretária aguentaria ficar com 50 crianças da educação infantil em solidariedade à falta de organização e planejamento da secretaria de educação?

Durante as falas, muitas informações repassadas tanto pela secretária como pela prefeita provavelmente contavam com a falta de informação da maioria dos/as professores/as, já que algumas afirmações não passam de pura lorota, como afirmar ser grande vantagem quem dá aula para as Séries Finais do Ensino Fundamental (5ª a 8ª) trabalhar apenas três dias e ter mais tempo para planejar e ignorar que na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental não há a garantia desse tempo, mesmo previsto em leis maiores como a LDB; afirmar que foi nessa gestão que começou a pagar o piso salarial nacional, desconsiderando que o mesmo passou a valer a partir de 01 de janeiro de 2009. Não vou dar muita atenção à fala da prefeita nesse episódio, apesar de que ela é, de fato, um excelente objeto de estudo para a análise do discurso neoliberal.

Ir para aquela reunião só aumentou a minha indignação com as cenas totalmente absurdas que presenciei e meu repúdio por este sindicato pelego e suas lideranças politicamente incorretas, já que a concepção de liderança parece estar atrelada a um poder de mando e desmando sobre as demais pessoas, um grande equivoco que deve ser combatido. Fica o meu repúdio ao que vi e ouvi naquela quinta, que me envergonha enquanto membro desta categoria profissional.


Paula Vielmo

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Colegiado de Letras do Campus IX da UNEB promove Oficina de Roteiro para Cinema e TV

Publicado: 19/02/2010 09:45

Da redação J. Nova Fronteira


Você já pensou em adaptar seu conto ou autor preferido para cinema ou TV? Chegou agora a sua chance de por em prática o cineasta que existe dentro de você.


Será realizada em Barreiras, pelo Colegiado de Letras do Campus IX da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), uma Oficina de Roteiro para Cinema e TV.


O curso ocorrerá entre os dias 19, 20 e 21 de março, nas dependências da Uneb e disponibilizará 40 vagas. O custo da inscrição será de R$ 100,00 (cem reais).


A oficina será dividida em aulas práticas e teóricas que incluem análises de roteiros, exercícios práticos de construção de um roteiro e de adaptações e será ministrada pela escritora, cinevideo documentarista, doutora em Semiótica e Comunicações, Cristina Fonseca.


Idealizadora dos pioneiros Cursos livres de Roteiro do Centro de Arte Senac, Cristina Fonseca também é pesquisadora e roteirista de documentários rurais da Rede Globo, TV Cultura, além de efetuar várias direções e roteiros de importantes documentários para televisão, entre os quais:


Carmen Miranda, A Embaixatriz do Samba (1992); Os Sertões: Euclides da Cunha (1996); Duas Águas: João Cabral de Melo Neto (1996); Biblioteca Mindlin - Um Mundo em páginas (2003).


Programa:
- O que é um Roteiro;
- O Storyline, a Sinopse e o Argumento;
- Gêneros Narrativos;
- O Plôth e a Construção de Personagens;
- Mostra de alguns trabalhos icônicos;
- Noções Básicas de Roteiro, Desenvolvimento e Aplicações;
- Exercícios de pré-roteiro e desenvolvimento de um projeto para o final do curso;
- Análise do tempo e espaço no cinema e TV;
- Adaptação de um conto para um curta de 5 min.

__________

Para maiores informações procure o Colegiado de Letras:

(77) 3611-3950 (ramal 209)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Salve a criatividade popular!

Adorei essa imagem assim que vi. É ou não muito criativa e verdadeira?


Foto de cartaz durante manifesto do "Bloco" Mudança do Garcia, no carnaval. (Salvador/2010)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Governo quer congelar salário dos servidores por 10 anos

CONTRIBUIÇÃO DA AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA NA LUTA CONTRA O PLP 549

PARA PERMITIR OS EXPLOSIVOS GASTOS COM A DÍVIDA PÚBLICA, GOVERNO QUER CONGELAR SALÁRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS POR 10 ANO


O Senado Federal aprovou o PLS 611, numerado como PLP 549 na Câmara dos Deputados, com proposta de limitação dos gastos com pessoal e outros gastos sociais da União, mediante alteração de dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF.

Por outro lado, a mesma LRF, em seu artigo 30, incisos I e II, indica que caberia ao Congresso Nacional e ao Senado Federal estabelecer os limites para a dívida mobiliária e consolidada da União, o que até

hoje não foi feito.

Os gastos com endividamento têm crescido de forma exponencial, como demonstrado no gráfico a seguir, superando excessivamente os gastos com Educação, Saúde, Previdência, Assistência Social, e principalmente com Pessoal. No ano de 2009, os gastos com endividamento da União consumiram 36% dos recursos orçamentários, sem considerar a parcela da dívida que foi “rolada”. Caso considerada a rolagem, os gastos com

a dívida corresponderiam a 48% de todos os gastos da União.


Gráfico 1 - Orçamento Geral da União – Gastos selecionados – R$ milhões

(COMPUTANDO O GASTO COM JUROS E AMORTIZAÇÕES DA DÍVIDA PÚBLICA)

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional - SIAFI. Não inclui a rolagem, ou “refinanciamento” da dívida.

Portanto, enquanto aos trabalhadores é aplicada política de arrocho salarial, a dívida pública tem atualização monetária garantida por lei, e os gastos efetivos com juros não têm sido divulgados de forma transparente, tendo em vista que o valor dos “Juros e Encargos da Dívida” constante do Orçamento da União Executado computa tão somente a parcela dos juros que supera a inflação (denominados “juros reais”).

Ou seja, os dados são divulgados segundo metodologias distintas: enquanto gastos com pessoal e demais áreas sociais computam os valores nominais correntes efetivamente pagos (embutidos os eventuais reajustes salariais e de benefícios ao longo dos anos, decorrentes da inflação), os gastos com juros da dívida pública são descontados do IGP-M calculado sobre o estoque da dívida.

Cabe esclarecer que para comparar os gastos, devem ser consideradas sempre tanto os valores dos juros como das amortizações informados no Orçamento da União Executado, pois a rubrica “amortizações” engloba a parcela do rendimento dos títulos da dívida (parte dos juros nominais) correspondente à atualização monetária.

No Gráfico 2 a seguir transcrevemos o comparativo normalmente divulgado pelo governo, que divulga os dados do orçamento utilizando metodologias distintas para demonstrar os gastos sociais e os gastos com a dívida pública. Ou seja, compara apenas os “juros reais” (que exclui a parcela da atualização monetária) com o pagamento efetivo dos gastos com pessoal, educação, saúde, previdência e assistência social, que são considerados pelos valores nominais correntes efetivamente pagos.

Gráfico 2 – Orçamento Geral da União - Gastos selecionados – R$ milhões

(METODOLOGIA DO TESOURO NACIONAL QUE INFORMA SOMENTE OS JUROS E EXCLUI PARCELA DOS JUROS CORRESPONDENTE AO IGP-M)

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional – SIAFI – Balanço Orçamentário

Conforme demonstrado, a distorção é enorme e subestima os valores efetivamente gastos com o endividamento público. Os dados demonstram a diferença de tratamento dos trabalhadores e do capital. Demonstram também que os gastos financeiros vêm crescendo velozmente, tomando recursos de todas as demais áreas sociais.

Por essas razões, a luta dos trabalhadores públicos contra o PLP 549 deve agregar a discussão sobre o endividamento público.


Brasília 9 de fevereiro de 2010

Maria Lucia Fattorelli

COORDENAÇÃO DA AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Estágio Interdisciplinar de Vivência e Intervenção em Áreas de Reforma Agrária


O tempo passou tão depressa que não tenho lembrança desde quando tenho vontade de participar de um Estágio Interdisciplinar de Vivência, mas sei que fazia muito tempo.

Partir para o EIVI, foi antes de qualquer coisa a realização de um sonho, um conjunto de expectativas em torno da organização e funcionamento do MST e o desafio de desligar-me das/oas companheiras/os de luta e ir sozinha para um espaço desconhecido, com pessoas também desconhecidas.


CAPACITAÇÃO

Partimos (73 pessoas) de Salvador em direção a Santo Amaro da Purificação no dia 09 de janeiro de 2010 em direção à Escola Municipal Edvaldo Machado Boaventura onde houve a capacitação para o estágio.

No período de 04 dias durante a capacitação, muitas novidades: a divisão em brigadas, para que todas/os trabalhassem e em todas as funções (alimentação / limpeza / mobilização, disciplina e mística); a metodologia envolvente, lúdica, dinâmica; monitoras/es preparadas/os, atentas/os e dedicadas/os; muita música; muita mística; imensa criatividade, organização comprometida e a maravilha de tantas áreas do conhecimento juntas, complementando-se em prol de uma mesma causa. Estudamos sobre a questão agrária, como funciona a sociedade e como superar o capitalismo, educação popular e a organização do MST (esta última o grupo em que fiquei não estudou por conta do tempo). Foi tão maravilhoso, que ficaria imenso demais relatar por aqui detalhadamente.

Não posso deixar de citar a diversidade de pessoas incríveis, inteligentes, estudiosas e militantes que estavam por lá, as quais tive grande prazer em conhecer e conviver por alguns dias, mesmo estando num momento de introspecção e sendo por lá irreconhecivermente a Paula que as pessoas por aqui conhecem: comunicativa, articuladora...

À esquerda: "Eu e Hugo" (ógue, óógue, me coloca no seu blog) e em seguida, "Dêvid, eu e Aline"

Destaco na capacitação as intervenções organizadas pelas feministas, como cartazes, mística e pintura de camisetas. "São flores, são armas, mulheres em ação, unidas na luta pela revolução". Outro destaque foi o super animado e cheio de POSITIVIDADES, Hugo, figura indescritível


VIVÊNCIA NO ASSENTAMENTO

A vivência no assentamento foi um marco, sem dúvidas. O assentamento em que fiquei tem pouco mais de três anos desde a ocupação. A terra é muito ruim e por conta disso o fazendeiro facilitou o processo de desapropriação - por interesses próprios; vivem no local 40 famílias, mas que ainda não tem condições de viver apenas da terra e a maioria, principalmente dos homens, fazem "bicos" na cidade. No assentamento tem uma associação, cuja sede fica onde era a casa da fazenda. Neste local também funciona a escola para os adultos, alfabetizados pela jovem Professora Gil. Não tem energia elétrica nem água encanada. Infelizmente ainda não produzem em áreas coletivas nem se organizam conforme determina a cartilha do MST e isso, porque é necessário um processo de reeducação das práticas e ideologias por parte dos/as assentados/as. As pessoas que ocupam terras através do MST são pessoas comuns, cuja ideologia capitalista está em seu meio, mas sofre com o que ele (capitalismo) provoca. Sabem da necessidade de se organizar coletivamente e estão caminhando para isso.

A casa que me adotou tinha 5 pessoas (mãe, padrasto, dois meninos e uma menina), comigo éramos seis. Era uma casa pequena, de adoubo, com plantação de aipim, banana, tomate...e algumas galinhas. Tinha também uma cachorra chamada Serena, cuja história de sofrimento é tão cruel quanto a das pessoas que viviam por lá, de abandono e maus tratos.

A rotina durante as férias conforme soube foi alterada: dormiamos um pouco mais tarde (+/- 11 horas) e levantávamos também mais tarde (+/- 6h30). O lema posto pela matriarca era: trabalhar pela manhã e descansar/ brincar/ se divertir a tarde. Assim, de manhã os homens mais velhos buscavam "água para gasto", ou seja, para uso no que fosse preciso (do rio) e para beber (da fonte) e as mulheres e menino mais novo limpavam a casa, lavavam a louça, alimentavam os animais e a mãe cozinhava, auxiliada pelas filhas. A divisão do trabalho pelo gênero é muito presente na comunidade e também na casa onde fiquei, devido aos papéis sociais definidos para homens e mulheres.

No almoço, a mãe servia os pratos de todos da casa, dividindo o alimento cuidadosamente preparado. Não havia variedade de cardápio, mas o bom e presente alimento que sustenta: arroz, feijão, farinha e carne de sertão, e as vezes macarrão e salada. Sempre tinha café preto, para tomar no café, almoço, à tarde. Quero destacar a divisão de tudo que entrava na casa. Pouco ou muito, era dividido igualmente entre todos os/as moradores/as.

Na vivência com a família tive muita, mas muita sorte. A minha família Sem Terra foi maravilhosa! Receberam-me com carinho e após o primeiro dia já me sentia totalmente à vontade e estava enturmada. Conquistar o irmão de 16 anos foi mais difícil, mas nada que uma atenção aos jogos não resolvesse. Jogos, aliás, estavam muito presentes: dama, trilha (que ensinei-os a jogar), dominó. Eram excelentes em raciocínio e as jogadas eram altamente pensadas, principalmente por parte do padrasto, homem inteligente e paciente. Os banhos de rio também eram constantes, inclusive minhas costas ficaram vermelha de tanto abusar nos primeiros dias. A mãe educa as crianças com diálogo e limites, o que resulta na boa educação que presenciei.

No segundo dia houve a troca do telhado de metade da casa (que era coberto por lona) , momento esperado pela família e que tive a honra de participar. No terceiro dia de vivência chegou "tia Luzia" (irmã da mãe do assentamento) com os três filhos e dois sobrinhos, o que fez com que ficassemos em 12 pessoas na casa, o que tornou a casa e a rotina bem mais agitada, porém divertida. A crinçada era ótima e muito animada!

Pedrinhas

Ainda com a família que me adotou, fizemos um passeio ao assentamento vizinho onde mora o companheiro da "minha mãe" (do assentamento). Nas Pedrinhas, assentamento de 12 anos, as coisas são mais avançadas: energia elétrica, plantações e criação de gado, casa de bloco/ tijolo. Ao chegar lá, correria das crianças até o que não dispunhamos no assentamento Santa Maria: água gelada por parte das da cidade e televisão por parte das do campo. Após o almoço fomos até a lagoa do assentamento e na bica. Muitas paisagens bonitas. Retornamos tarde da noite, após a novela, caminhando na escuridão por 01 hora. A sensação de caminhar no escuro é muito ruim, pois não tem-se segurança de onde pisar, já que a única iluminação era da lua e das estrelas. Nesse dia, devido a programação da família, perdi a programação no assentamento: oficina com as crianças (que eu iria coordenar com outros dois camaradas) e com os adultos. Fiquei triste por não ter participado da oficina com as crianças, pois criei grande expectativa em torno dessa atividade.

Dentre as ações coletivas, fizemos a limpeza da fonte que estava com limo e organizamos um mutirão para trocar o telhado da associação/ escola, cujas madeiras estavam parcialmente podres e representavam um risco para a comunidade. Nesse mutirão para a troca do telhado, houve pouco envolvimento por parte de toda a comunidade, porém muito envolvimento por parte da maioria dos homens da comunidade que estavam no dia do mutirão, o que fez com que o trabalho rendesse os bons frutos de um telhado novo e seguro, com o apoio constante do nosso trabalho fazendo o que podíamos.

Reforma do telhado da associação/ escola

Antes do mutirão, fomos no mato buscar algumas madeiras para a reforma, o que necessitou de levantar cedo e percorrer um longo caminho, com pequenas ladeiras na subida e descida. Foi uma caminhada cansativa, e após termos 16 madeiras para serem carregadas na volta, por 12 pessoas, um retorno de sofrimento. Pensei que não iria aguentar e aos poucos as dores físicas foram aumentando e eu me distanciando do grupo. E de repente, estava perdida no meio do mato! Segui adiante e achei um caminho, mas estava furiosa com o fato de ter sido deixada pelas demais pessoas, e nesse momento, veio-me a mente os/as compas queridos/as que jamais deixariam qualquer companheiro/a para trás.

Entre as atividades realizadas, muitas fogueiras nutridas com conversas e brincadeiras, inclusive uma intitulada "noite cultural", com direito a algumas delícias. E também uma oficina com a juventude do assentamento que explicitou o grande potencial que há por lá. Em meio a tantos acontecimentos, a turbulência vivida por outros/as companheiros/as e socializadas com o grupo de estagiários/as. Sofrimento só absolvido agora, depois de algum tempo após a vivência. Ao retornarmos da vivência, depois de nove dias, a despedida foi dolorosa. O sentimento era de carinho por pessoas que provavelmente não verei mais, por causa da grande distância.


AVALIAÇÃO

Quando retornamos da vivência, para a Escola em Santo Amaro, socializamos ludicamente e resumidamente como foi em cada assentamento, resultando em uma vasta criatividade e muitas emoções. Mas eu ainda estava resistente e indignada por não ter estado num assentamento minimamente organizado.

Nesse retorno para avaliação, houve também a apresentação dos projetos permanentes desenvolvidos nos assentamentos ou para serem desenvolvidos. Escolhi o grupo que discutiu sobre Educação Popular com a Professora Nair Casagrande, que ministra uma disciplina optativa com essa temática e contribui com o trabalho desenvolvido pelo NEPPA (Núcleo de Estudos em Práticas e Políticas Agrárias).


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luta pela reforma agrária é visivelmente necessária para um país justo, pois é inadmissível que a concentração de terras aumente ano após ano no Brasil e que o modelo de reforma agrária seja de minifundios ao invés de perceber e garantir a terra como um bem social que deve ser socializada e produzida coletivamente. É também desumano perceber que o modelo de reforma agrária não garante que os/as assentados/as vivam da terra, pois não lhes dá condições de produzir na terra que agora é sua.

Apesar de ter sofrido uma grande decepção com a desorganização do assentamento, foi sem dúvidas uma grande experiência que provocou reflexões internas profundas.


Paula Vielmo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Alguns absurdos cotidianos - a mais - da gestão" Cidade Mãe"


Que Barreiras é "Terra Sem Lei" nós sabemos, e seria bom, caso estivessemos numa sociedade comunista, porém como estamos num Estado Burguês, as leis servem para regular algumas coisas, mas por aqui é tudo fora do controle, e me parece ser proposital e pertinente para a continuidade dos desmandos cotidianos.

Visitando o site da Prefeitura Municipal de Barreiras, deparei-me com uma publicidade que causou-me espanto. O site do Poder Executivo Municipal está divulgando (gratuitamente?) a inauguração de uma nova empresa privada que se instalou por aqui e abre essa semana.

É dessa maneira que os recursos públicos são investidos? Será que o mercadinho que não representa o grande capital tem esses mesmos privilégios? Já sabemos a resposta...

E por último, hoje, quando fui até a Prefeitura, mais exatamente na Secretaria de Administração e Finanças, 11:00h, encontrei tudo deserto e fechado ou fechando. Todos/as funcionários/as foram "dispensados" para ir ao evento de assinatura do início (será? Tomara que sim!) das obras de saneamento básico em Barreiras. Traduzindo: público para o circo armado na Praça Landulfo Alves.

Porém o que me revolta é a naturalidade e naturalização de tais práticas, já culturais e cada vez piores por estas bandas de cá. E fazem isso certos/as da impunidade. A diferença é que agora temos espaços como a internet e os blogs podem ter papel social-político ao denunciar tais situações. E por aqui vou falar, sempre!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

PARA QUE VEREADORA (O)?

A Prefeitura Municipal de Barreiras está realizando graças a ordem/intervenção do Ministério Público, Processo Seletivo para a contratação de funcionários na área de Educação. Ao exigir que fosse realizado um processo Seletivo o Ministério Público visava pôr fim na indecorosa indicação de contratados e, sobretudo atender a legislação que diz que o profissional em educação deve ser contratado via Concurso Público. Essa medida poria fim também no inojável leilão das escolas/vagas, impediria que algum funcionário depois do “processo seletivo” em que as/os candidatas (os) entregaram seus currículos para as/os vereadoras (es) e destes para as mãos da prefeita, subisse em uma mesa e anunciasse: Fulana (o) você está em tal escola, Beltrana (o) você está em tal escola, Cicrana (o) você está em tal escola. Segundo informações oficiosas isso aconteceu o ano passado.


Desde que foram abertas as inscrições deste Processo Seletivo, as pessoas questionavam quanto a lisura do mesmo. Pois, tem-se de forma oficiosa notícias de que antes mesmo das inscrições começarem as/os vereadoras (es) já estavam recebendo currículos.. Desse modo as pessoas temiam a interferência/influência política (de políticos com mandato) no resultado do Processo Seletivo. Justamente o que o Ministério Público almeja acabar.


Pois bem, foi tremendo de indignação que eu assisti e ouvi, ontem (01/02/2010) segunda-feira, na Escola Municipal Dr. José da Costa Borges uma vereadora com um classificador contendo currículos conferindo a lista que fora publicada com os nomes das/dos aprovadas (os) na primeira fase seletiva e MANDANDO incluir nomes que não fora selecionados. Essa cena causou em mim sentimentos de raiva, decepção, tristeza, revolta, indignação, inconformação, insatisfação,..., diante de tamanha injustiça, desrespeito, arbitrariedade e medidas/posturas antidemocráticas, enfim da FALTA de DECORO PARLAMENTAR.


Fiquei me questionando se era papel / função / tarefa / atribuição / missão e/ou responsabilidade da vereadora fazer aquilo; se ela compunha alguma comissão responsável pelo Processo Seletivo; se ela fora eleita pela quarta vez consecutiva para aquilo. Fui pesquisar na constituição Federal sobre o papel, função, responsabilidade e/ou atribuição das/dos vereadoras (es) e estou publicando no final o que encontrei. Me questiono também se o papel/função/tarefa/atribuição/missão e/ou responsabilidade da vereadora não seria a de fiscalizar o repasse do FUNDEB, o que está sendo feito com ele, por qual motivo as/os professoras (es) estão enfrentando dificuldades para receber seus salários em dia?; como anda as estruturas física de nossas escolas? Ah, inclusive a dela, - pois pasmem, vereador tem escola aqui em Barreiras! Se as/os profissionais da área de educação, por exemplo são qualificadas (os)?


Como Presidente da Comissão de Educação, vereadora, professora, ser humano, ao invés de MANDAR incluir nomes que não foram selecionados provavelmente pela falta de qualificação profissional e/ou por não atender aos requisitos necessários para atuar na Educação, a vereadora deveria DEFENDER e PROTEGER a EDUCAÇÃO não utilizá-la como cabide de emprego numa política fisiologista e pragmática.


O Ministério Público deve ficar atento a esse “atendimento” à lei (Processo Seletivo), pois algumas pessoas ao atender a lei o faz usando os mesmos mecanismos a que a determinação legal visa combater.


Quanta as/os vereadoras (es) especialmente a vereadora em questão se não sabem seu papel/função/tarefa/atribuição/missão/responsabilidade ou se obstinam em descumpri-los devem deixar a vida política imediatamente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Foi para isso que se aumentou o número de vereadores no Brasil para eles fazerem isso que fazem aqui em Barreiras?


Art. 2º A Câmara tem funções LEGISLATIVAS, atribuições para FISCALIZAR os atos do Poder Executivo, propor medidas de interesse da coletividade, além da competência para disciplinas e dispor sobre a organização de seus serviços internos.


II – Compete à Comissão de Educação, Saúde, Planejamento Familiar, Seguridade e Previdência Social;


a) Promover, fiscalizar as ações e opinar em todas as proposições pertinentes à educação, assim como iniciativas correlatas; (pg 19-20)


(REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE BARREIRAS)


Recebido por e-mail de Claudio Roberto de Jesus