sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Decretado o aumento da tarifa de ônibus: prepara, a tarifa vai cair, vai cair, vai cair!

Por Paula Vielmo

Desde o dia 05 de dezembro de 2015 que a tarifa de transporte público coletivo em Barreiras foi (super) reajustada, na zona urbana de R$2,30 para R$2,80 e na zona rural chegando até a R$25,00, a depender da localidade. Um verdadeiro abuso ao direito do consumidor e mais do que isso, ao direito de ir e vir.


O Decreto nº 524/2015, lançado pelo Prefeito Municipal, Antônio Henrique, de modo surpreendente e repentino, data de 30/11/2015 e foi publicado na Edição 2131 do Diário Oficial, de 01/12/2015, ou seja, divulgado meros QUATRO DIAS antes de começar a vigorar.

A palavra ABSURDO ganha novas sensações com esse fato e parece ser insuficiente para tamanho abuso da população que mais sofre, utilizando um serviço de péssima qualidade e por um preço já elevado. Quem nos dera se o Prefeito fosse tão rápido para fiscalizar a qualidade do serviço quanto foi para atender o empresário do transporte!

Tal aumento, termo correto, haja vista que não tem cara nenhuma de mero reajuste, gerou algumas ações:

- Representação no Ministério Público por parte da Pastoral da Juventude (PJ);
- Representação no Ministério Público por parte da Câmara Municipal de Barreiras;
- Manifestação de rua no dia 04/12/2015, chamada pela Pastoral da Juventude.

Infelizmente não pude estar no ato de rua, pois de 04 a 06/12 estive no 5º Congresso Nacional do PSOL, em Brasília, mas estava acompanhando de longe, feliz com as reações populares e mais ainda com as avaliações positivas da ação. Sem qualquer dúvida, o transporte é uma das causas mais importantes para mim, desde 2007.

Em seguida, o PSOL promoveu em 09/12 um protesto na Câmara Municipal. Antes disso, na véspera, a PJ já havia se manifestado na sessão da Câmara, inclusive fazendo uso da tribuna através de seu Coordenador Guilherme Matheus. Estive nos dois dias.

Imagem: Blog Sigi Vilares
No entanto, é revoltante e triste a rápida aceitação das pessoas em Barreiras de pagarem tal aumento ou apenas pararem de se deslocar através do ônibus devido ao valor cada vez mais elevado. A acomodação é muito rápida...mas não de todas as pessoas!

A partir das representações que provocaram o Ministério Público à agir, o Promotor Alex Santana Neves entrou ontem, 17/12 com uma Ação Cautelar de Ação Civil Pública, por entender que o aumento foi acima do valor de reajuste, fazendo assim o pedido para que o valor da tarifa abaixe. A matéria foi ao ar no BA TV durante 1:39min, confira AQUI.

A partir dessa movimentação do Ministério Público, como agenda da defesa e interesses da população, reascende a chama da esperança de que a tarifa reduza, inclusive para um valor abaixo de R$2,30, praticada anteriormente.


A luta continua!


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O tema da redação do ENEM 2015 e as polêmicas patriarcais

Por Paula Vielmo
Pedagoga e militante feminista/psolista



No sábado, 24/10 quando soube que uma das questões do ENEM abordou sobre feminismo, através de uma citação da clássica filosofa e referência feminista, Simone de Beauvoir, sim, fiquei animada. No domingo, 25/10 quando soube o tema da redação do ENEM, sim, meus olhos lacrimejaram. Sem qualquer ilusão sobre o que representa o ENEM, é inegável a relevância do debate levantado e preocupante o emaranhado de pronunciamentos descriminatórios.

Minha avaliação sobre o ENEM é que trata-se de uma prova em que o conteúdo não foi trabalhado em sala. Parte de uma perspectiva de visão de mundo, conhecimentos gerais, raciocínio lógico, quando a nossa Educação Brasileira ainda é estritamente conteudista. A proposta é interessante, mas avançada para a nossa realidade, sem sombras de dúvidas, o que acaba por poder ser um problema.

O lado positivo: quase oito milhões de pessoas, a maioria jovens, pensando sobre temas da atualidade ou se enraivecendo porque não têm a menor ideia do que as questões abordam e pode servir como uma referência de reformulações curriculares menos conteudistas. O lado negativo: por não representar o nosso modelo educacional, acaba sendo excludente, haja vista que o "capital cultural" exigido pelo ENEM não é oferecido na maioria das escolas públicas do país.

Sobre o tema da redação "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira", inegavelmente para mim, mulher militante, feminista e usuária de "lentes de gênero", assim como para dezenas e centenas de pessoas que se manifestaram publicamente, nas rodas de conversas, pelas redes sociais, foi um avanço. Trazer o debate sobre a violência contra a mulher para a pauta central da principal porta de acesso à Universidade Pública no Brasil é dar visibilidade a um tema caro para nós mulheres, mas de profundo pesar pela persistente gravidade que se mantém.

Diante de diversas declarações que consideraram o tema sem importância, "mimimi", coisa de esquerda, de feminista, minha preocupação veio como educadora militante quando li e vi declarações vindo de nossa juventude, alguns desses jovens conhecidos. Preocupação porque o sistema patriarcal, de dominação masculina e opressão feminina não é visto, e é considerado, obviamente dentro desse contexto, uma bobagem! Ora, o Brasil estar no ranking mundial como o 7º país que mais violenta e mata mulheres, é algo banal? Desconsiderar os dados de órgãos internacionais é ignorância assumida, mas pensar que estes dados devem realmente ser bem piores do que se registra, requer o uso das "lentes de gênero".

GÊNERO! Ah, essa palavrinha de seis letras que foi VETADA do Plano Nacional de Educação - PNE (Lei Nº 13.005/2014) por ser considerada uma ameaça à família tradicional, caiu na prova seletiva mais importante do país! No entanto, mais do que isso, tais declarações nos mostram que a retirada da explicitação do debate sobre as questões de gênero do PNE representam uma problemática educacional a ser encarada, mediante as justificadas que foram contrárias ao tema da redação, ou seja, a escola não consegue combater efetivamente as discriminações, e negar este debate em seu seio significa produzir e reproduzir desigualdades.

Creio ser de conhecimento geral que houveram, também, dezenas e centenas de manifestações de ódio contra o tema da redação. Mais do que isso, a tentativa de desqualificação através de adjetivações de que o exame seria marxista e de esquerda. Lamentável que discutir e garantir dignidade à vida humana, seja uma pauta vista exclusivamente como de esquerda e marxista. Apesar de eu me incluir nestes dois campos, lamento realmente que não seja encarada e pautada como um problema coletivo, que precisa ser superado para muito além dos 9 anos da "Lei Maria da Penha" (Lei Nº 11.340/2006).

Negar a violência contra as mulheres, não pensar sobre as raízes profundas de sua persistência, é somar-se ao coro dos opressores e opressoras e mais do que isso, naturalizar os milhares de cadáveres de mulheres, fruto dessas violência, mas bem antes disso, as violências cotidianas que passam despercebidas e que precisam ser desveladas e combatidas. Sem dúvidas, o ENEM contribuir para reflexão em alguma medida.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Salários da Educação Municipal: "Quando tiver dinheiro paga". Quando tiver dinheiro paga?

Por Paula Vielmo
Pedagoga e militante política


Quinta dia útil do mês de outubro de 2015. Recebo uma denúncia e um pedido de ajuda para elaborar a denuncia: a prefeitura ainda não pagou o salário do conjunto de professoras/es municipais, mas apenas aqueles com nomes entre as letras "A e L". Parece chacota, parece mentira, parece "brincadeira", MAS NÃO É!


Que me lembre, essa mania horrível de pagar alguns em dia e outros/as não, de acordo com a letra do nome, foi iniciado no (des)governo de Jusmari. Tonhão está dando continuidade, pois não é a primeira vez, segundo relatou-me uma professora indignada "estou com o povo do cartão de crédito me ligando todos os dias pra saber quando vou pagar. É um desrespeito com o trabalhador", desabafou a professora, dizendo antes sobre a sua preocupação para 016, ano de eleição e possíveis atrasos cada vez maiores.

Essa prática extremamente desrespeitosa com as trabalhadoras e trabalhadores da Educação Municipal piora com as justificativas dadas pelo próprio Poder Municipal. Segundo informações, o SINPROF - Sindicato de Professores/as ao indagar sobre a data de pagamento teria recebido como resposta: "Quando tiver dinheiro paga. Ninguém aqui vai ficar com dinheiro delas não. Como assim, "quando tiver dinheiro paga?"??? E o dinheiro do FUNDEB, todos os meses transferido para esse fim? E a receita do município? Será que o salário da Educação foi revertido para as dezenas de faixas espalhadas pela cidade para receber a presidenta Dilma?

Se a situação das profissionais do magistério, concursadas e com verba rubricada, está assim, imaginemos como estão as profissionais terceirizadas, em condições ainda mais precárias de trabalho. "As meninas da merenda e portaria receberam o salário de agosto a duas semanas atrás", relatou a professora denunciante deste fato gravíssimo, que fere a dignidade da pessoa humana. Essas trabalhadoras terceirizadas já ganham tão pouco e têm que sustentar as suas famílias mediante atrasos de salários que de tão frequentes acabam sendo naturalizados.

As contas não esperam a vontade do prefeito e seus prepostos para aparecer, elas estão religiosamente todos os meses em nossas casas e também na destas trabalhadoras. O prefeito Antônio Henrique, o Secretário de Educação, meu ex-professor Cosme Wilson, e o Secretário de Finanças, Pedro Neto,  precisam dar uma satisfação para essas trabalhadoras e trabalhadores da educação, mas mais do que isso, pagar em dia os valores já baixos que tais trabalhadoras recebem. E deve pagar tanto concursadas/os como contratadas/os.


Hoje é o quinto dia útil do mês, será que o salário do prefeito, vice e secretários já foi pago ou será que também estão pagando por ordem alfabética e estão tranquilos porque seus nomes estão entre A e L? 

Diante desse cenário caótico, fico a questionar cadê o Poder Legislativo (mesmo considerando-o inoperante, temos que exigir que cumpram efetivamente o seu papel). Cadê a atuação da Comissão de Finanças, Orçamentos, Contas e Fiscalização, constituída pelo vereador Carlão (PSD) como Presidente, vereador Eurico Queiroz Filho (PPS) como relator e vereadora Núbia Araújo (PP) como membro? Cadê a atuação da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, composta pela vereadora Karlúcia Macedo (PMDB) como presidenta, vereador Lúcio Carlos (SDD) como relator e vereador Rui Mendes (PT do B) como membro?

Fiquemos atentas e atentos a essa repetição de desrespeitos aos direitos, e que os sindicatos, poder legislativo e justiça tenham um papel mais ativo diante desses ataques destilados contra as trabalhadoras e trabalhadores de Barreiras e que a população e as/os servidores/as municipais não se calem diante desses absurdos.




quarta-feira, 19 de agosto de 2015

PT de Barreiras: mais do mesmo

Por Paula Vielmo

Na terça-feira, 18/08 pela manhã, ouvi a entrevista do presidente e vice do PT de Barreiras, Siquara e Antônio, respectivamente. Eles estiveram no programa "Ronda da Cidade", com o Jordan Araújo na Rádio Vale, abordando um possível "racha" com o (des)governo de Antônio Henrique (atual PP). Tal decisão teria sido tomada pela Direção Municipal a ser referendada por fórum mais amplo no dia 23/08.

A entrevista foi surpreendente pela tentativa de se desvincilhar da atuação nada boa que os quadros do PT, ocupantes de cargos estão tendo: Paê, vice-prefeito; Adalto Soares, Secretário de Comunicação e Cosme Wilson, Secretário de Educação. Ora, depois de mais de três anos, sem muitas mudanças, argumentar que a razão para o racha seria a falta de atenção dada ao Partido pelo Prefeito Municipal é, no mínimo, ridículo.

A entrevista trouxe aos ouvintes conflitos internos do Partido localmente, o que não é nem um pouco novo. No entanto, avalio que ficou eticamente complicado levar para as ondas do rádio os conflitos que deveriam, pelo bem de qualquer organização, serem debatidos e resolvidos internamente. Não é de bom tom trocar acusações em um espaço que não é o adequado. 

Todo Partido tem um estatuto e um Programa, aos quais os e as filiadas devem seguir. Se isso não acontece, tais regulamentos já determinam o que deve ser feito. No entanto, em Barreiras, o Partido dos Trabalhadores atua de maneira vergonhosa faz anos e anos, através de suas alianças esdrúxulas com três anos de duração. São sucessivos erros táticos, que obviamente repercutem na credibilidade do Partido junto à sociedade, que os entrevistados queriam resgatar.

Mas, eu gostaria de fazer uma análise de bastidor daquela entrevista. Além das relações de poder em voga, onde tendências distintas do PT local estão disputando cargos e contribuições financeiras, conforme podemos inferir do discurso de ambos os representantes na entrevista, há uma tentativa de promoção do Partido para o ano eleitoral vindouro. O PT daqui sempre faz isso, como eu disse, não é novidade. Então, justificar tal possível "racha", o qual eu tenho sérias dúvidas se irá mesmo ocorrer, haja vista os inúmeros interesses do Governo Estadual em jogo, é no mínimo oportunismo político em véspera de ano eleitoral.

Passar mais de três anos sendo cúmplice e AGORA, querer posar de interessados em defender os interesses da população de Barreiras, não cola!

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Tratores por Escola e Posto de Saúde: NÃO PASSARÃO!

Por Paula Vielmo
Pedagoga

Na quarta-feira, 29 de julho, recebi uma mensagem via WhatsApp de uma amiga que é professora no município de Barreiras, com um texto e dois áudios, falando sobre a demolição da Escola Municipal Deputado Juarez de Souza, na Vila Brasil. Era uma professora da escola, muito corajosa diga-se, pedindo socorro. Digo corajosa porque em nossa cidade impera a "Pedagogia do medo". O motivo alegado para a derrubada era a ampliação e construção de uma praça "super moderna".

Obviamente que a situação choca: derrubar escola e Posto de Saúde (também tem um Posto no pacote) para construir praça parece, à todas as pessoas, algo absurdo. Eu, assim como as demais pessoas, também avaliei como um absurdo, ainda mais em se tratando de um bairro periférico, com demanda para escolas; por ser realmente uma escola, com estrutura de tal - e não as casas alugadas ou galpões, transformados em escolas em nosso município - e, por fim, porque as crianças e professoras seriam deslocadas para o "salão paroquial". Ou seja, enviar para o velho esquema de local inadequado.

O texto circulou rapidamente, inclusive falei com essa professora pessoalmente e ela estava surpresa com a rapidez com que a informação correu. E isso fez com que houvesse mobilização tanto da comunidade escolar quanto da imprensa e do poder legislativo através de alguns e algumas vereadoras. No dia seguinte (30), houve uma manifestação na escola, com grande presença da imprensa local que logo disseminou a notícia através dos blogs, jornais e uma matéria na TV Oeste. 

Manifestação na Escola Municipal Deputado Juarez de Souza
No dia da manifestação na escola a tarde e ainda pela manhã, alguns vereadores apareceram para manifestar-se, falando do quão absurdo era aquela situação. Lamentavelmente, tais vereadores, bem pouco ativos, tornaram o ato em um palanque, com direito a discursos e muitos registros fotográficos e de filmagens. Tinha mais câmeras do que gente na escola. Eu vi porque estava lá, para conversar com as professoras e estudantes pessoalmente, prestar a solidariedade e compreender a situação.

No dia 31/07 circulava a "Nota de Esclarecimento Sobre a construção de uma nova obra pública na Vila Brasil", emitida pela Prefeitura de Barreiras.

Sobre a nota de esclarecimento da Prefeitura? Blá blá blá mentiroso. Eu acredito nas professoras. E a nota tem um tom politiqueiro muito ruim, tentando utilizar de um subterfúgio rasteiro de interesses diversos em prejudicar o atual governo. Do jeito que fazem besteiras atrás de besteiras, com uma equipe tão incompetente, o próprio Governo se prejudica. E a cada dia fica mais explícito quais são as prioridades deste Governo de Tonhão e cia, bem como as pessoas desqualificadas e sem qualquer capacidade de diálogo que estão à frente destes processos.

Estudantes e seus cartazes: recado ao Prefeito desde cedo. Larissa, de blusa vermelha
foi minha aluna quando fui recreadora na Escola Alcyvando Liguori da Luz I (2009-2011)
Por ora, a Escola e o Posto de Saúde estão salvos, mas é preciso estar vigilante, pois é prática já conhecida deste Prefeito derrubar as coisas nas madrugadas, tais como as árvores da Praça Castro Alves em mandatos anteriores.

A destruição da escola, para mim, se justificaria se fosse para ampliar a atual e modernizá-la de maneira a manter seu pleno funcionamento. A nota da Prefeitura dá a entender que a obra continuará, todavia, o povo já mostrou disposição para combater qualquer tentativa de destruir a Escola. E tratores pela Escola e o Posto de Saúde, não passarão!

sábado, 13 de junho de 2015

Por um Plano Municipal de Educação com Igualdade de Gênero

Por Paula Vielmo

Recebi nesta sexta-feira, 12 de junho, um vídeo (clique aqui para assistir) em que o vereador Gilson Rodrigues (ex-PMDB, atual PROS, 1º Secretário da Câmara e relator da Comissão de Saúde, Planejamento Familiar e Assistência Social, que aliás, precisa ser atuante! e pasmem, estudante de Psicologia - será que ele quer ser o Malafaia da Barreiras?) convoca a sociedade barreirense, pela primeira vez em mais de três anos de mandato, para que pressione os vereadores em relação a um Projeto de Lei sobre o Plano Municipal de Educação, que vigorará pelos próximos 10 anos. Poderia parecer interessante e relevante, não fosse o conteúdo absurdamente distorcido do vídeo.

Inicialmente, o vereador Gilson demonstra pouco saber sobre a Educação além do que prega o senso comum. Aliás, não há tema em que as pessoas mais gostem de dar “pitaco” do que a educação. Também demonstra saber bem pouco sobre gênero, uma área de estudos extremamente ampla e que não deve ficar restrita ao senso comum do vereador. Convido a realmente refletirmos sobre essas questões, retirando os pré-conceitos.



O vereador, desconhecedor das normativas do Ministério da Educação, proclama sobre a ameaça do que ele chamou de "ideologia de gênero", definido como:

"fazer com que a escola, com que os professores, com que todas as pessoas que estão na área da educação ensinem para as nossas crianças que elas não nasceram nem homem e nem mulher. que elas não são nem menino e nem menina”

Vamos "refletir", como insiste o vereador na abertura do vídeo, sobre gênero, trazendo quem sabe do assunto. As reconhecidas Professoras Doutoras da UFBA nos ajudarão definindo gênero como:

"processos de construção cultural de relações que não decorrem de características sexuais diferenciadas entre homens e mulheres, mas de processos construtores dessas diferenças, produzindo, nesse movimento, desigualdades e hierarquias" (Sardenberg e Macedo). 

Ou seja, a construção do que é ser homem e do que é ser mulher é SIM uma construção social, haja vista que ela se transforma ao longo do tempo e momento histórico. Para a filósofa francesa Simone de Beauvoir, não se nasce mulher, torna-se. Podemos afirmar que também não se nasce homem, torna-se. Aliás, nos tornamos tudo e qualquer coisa ao longo da vida a partir das nossas interações sociais, sobretudo em duas importantes instituições: inicialmente na família e logo em seguida na escola.

Esclarecida a desinformação (ou seria má fé?) do vereador Gilson, vamos refletir que o vereador também desconhece sobre os altos índices de violências contra a mulher no Brasil, incluindo a violência doméstica. Não sabe ele que o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou a tragédia do machismo no Brasil, provocada principalmente por marido, namorado ou familiares. 

O estudo estima que a média é de 472 assassinatos de mulheres por mês. E sabe o vereador que a Bahia, nosso estado, é o segundo que mais mata mulheres no Brasil? Conhece ele os registros da Delegacia de Atendimento a Mulher de Barreiras? Desconhece o vereador que dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam para uma situação mais sombria se for levado em consideração o número de mulheres vítimas de violência em geral. Cerca de 70% das mulheres do mundo sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida, diz a organização. Em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro, calcula a ONU.

Relevante lembrar que as desigualdades e hierarquias de gênero atingem também a sexualidade das pessoas, violentando quem possui uma orientação sexual que não seja heteronormativa (sistema que obriga a ser e/ou parecer heterossexual). Nesse aspecto, o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos homofóbicos, estando a Bahia em 6ª posição nacionalmente. Não podemos ignorar essa realidade! A escola, instituição tão fundamental, não poe ignorar esta realidade. Não trazer o debate sobre o respeito para com o outro, partindo de crenças e valores pessoais, é descumprir a missão de educar numa perspectiva libertadora. 

O Ministério da Educação já possui materiais e diretrizes para combater as discriminações de gênero, que resultam em violências e a escola é uma instituição fundamental para contribuir nesse sentido, haja vista que a nossa educação brasileira e barreirense é fortemente sexista, ou seja, possui como cultura hegemonicamente masculina, branca e heterossexual sendo necessário trazer as discussões sobre a desigualdade e opressões e permitir que outras experiências sejam contempladas. É preciso que as meninas e meninos, desde pequenas/os tenham referencias positivas e não de submissão e a escola tem um papel determinante nessa transformação. É preciso que as pessoas homoafetivas não fiquem com medo de manifestar o seu amor. É preciso que o Brasil deixe de liderar também o ranking de assassinatos de travestis e transexuais. A educação escolar não pode se furtar desse debate!

Ademais, cabe lembrar, sobretudo à nós, trabalhadoras da educação, que o magistério é predominantemente feminino, e uma profissão desvalorizada. Qual a relação com as desigualdades e hierarquias de gênero? O magistério é desvalorizado como profissão porque é exercido por mulheres, ou é exercido por mulheres porque é desvalorizado?

Como cenário para toda essa questão o vereador Gilson alega: “Isso é querer destruir as famílias. Isso é querer deformar a vida das crianças. Isso é querer destruir a célula da sociedade: as famílias".

Pensemos na família como agrupamento não no modelo tradicional (mãe-pai-filho-filha). Tem família com avós, com tias ou tios. Apenas com mãe ou apenas com pai. Tem família em orfanato. Ademais, qual a relação entre compreender que as desigualdades e hierarquias sociais são de gênero e o fim da família? Usa o vereador de má fé para convencer as pessoas para aderir ao seu pedido? Não satisfeito, ele finaliza: "a ideologia de gênero vem para querer destruir a sociedade".

Destruir a sociedade é compactuar com as desigualdades e hierarquias de gênero! Assim, convoco para que o Plano Municipal de Educação seja norteado pela Pedagogia Feminista, entendida como “o conjunto de princípios e práticas que objetivam conscientizar indivíduos, tanto homens quanto mulheres, da ordem patriarcal vigente em nossa sociedade, dando-lhes instrumentos para superá-la e, assim, atuarem de modo que construam a equidade entre os sexos”. (Cecília Sardenberg).

Por fim, chamo para a reflexão: estamos muito mal representadas/os por este tipo de vereador! Além de desinformado, ele se orgulha em conclamar a sociedade barreirense para manter as desigualdades e hierarquias. Ele não é nosso aliado. E se não é nosso aliado, deverá ser combatido, a começar por desconstruir suas falácias.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Político Out Dó

Por Paula Vielmo


Faltando 20 meses para as eleições municipais de 2016, já começou a aparecer pré-candidato como poeira em Barreiras, juntamente com textos e análises das mais bizarras possíveis, sobretudo de quem se diz “imprensa”. Imprensa em tempos de necessária democratização da comunicação, sem qualquer dúvida.

Nesse rebuliço, causa-nos não mais espanto, mas indignação, os critérios para que essa dita imprensa corrupta apresenta uma série de nomes, com o intuito de dar visibilidade e testagem eleitoral, mas sem compromisso com a veracidade da informação.

Dentre os inúmeros casos, irei destacar um, que intitulei criativamente de “Político Out Dó”. Trata-se de um senhor desconhecido enquanto trajetória política, empresários local, que com seu viés neoliberal acha que poder público é como a sua empresa.

Esse caso, não é o primeiro em Barreiras, nem na região ou pelo país afora. É uma “tendência”  trazida para a política representativa, que diante da falência política com esses péssimos representantes, trazem para o centro do Estado o debate sobre a semelhança com uma empresa privada.

A chegada de empresários na política me parece tão prejudicial quanto a de religiosos fundamentalistas: ambos não conhecem tolerância, não conhecem o que significa coletividade ou bem público. São duas ameaças reais e crescentes na política, sobretudo em tempos de eleição.
Pois bem, esse senhor que peguei como exemplo, sem trajetória política, mas muito dinheiro, resolveu sair candidato a prefeito. E dentre todos os casos eu o escolhi pela bizarrice com que tem procedido.

Faltando mais de 20 meses ele começou a fazer propaganda antecipada, contrariando a legislação eleitoral (você votaria em alguém que, antes de ser eleito, já fere a lei?), utilizando de poder financeiro para espalhar pela cidade adesivos e o mais chocante/ridículo: outdoors com seu rosto e mensagens em datas comemorativas, além de velhos releases sobre seu empreendedorismo fascinante.

A primeira vez que vi um desses outdoors, perguntei: quem é esse? E minha irmã me disse quem era. Eu, militante com mais de 15 anos de trajetória política, não sabia quem era o empresário. Obvio, ele não tem atuação politica ativa, ele tem atuação ativa nos negócios e, para mim, política não é negocio!

Pois bem, tão esdruxulo quanto esse “político Out Dó”, é a ampla divulgação que a imprensa barreirense tem dado a ele e, mais recentemente, a reprodução de noticias sobre a saída desse “redentor” do PSDB. A troca de Partidos, aposto que deve-se a um caminho já conhecido na política ruim: buscar uma legenda de aluguel, que ele comprará com o dinheiro que possui, para levar adiante o seu projeto de candidatar-se. Ele parece ter pouca noção de como funciona o processo político-eleitoral, mas está atento à tendência empresarial.  Ow dó!


E diante dessa repercussão toda, eu pergunto: quem é esse fulano? Pra mim ele não representa nada além de um rosto desconhecido, fazendo mais do mesmo e espalhado por outDÓors!