Por Paula Vielmo
Recebi nesta sexta-feira, 12 de junho, um vídeo (clique aqui para assistir) em que
o vereador Gilson Rodrigues (ex-PMDB,
atual PROS, 1º Secretário da Câmara e relator da Comissão de Saúde,
Planejamento Familiar e Assistência Social, que aliás, precisa ser
atuante! e pasmem, estudante de Psicologia - será que ele quer ser o Malafaia da Barreiras?) convoca a sociedade barreirense, pela primeira vez em mais de três anos de mandato, para que
pressione os vereadores em relação a um Projeto de Lei sobre o Plano Municipal
de Educação, que vigorará pelos próximos 10 anos. Poderia parecer interessante e relevante, não fosse o conteúdo
absurdamente distorcido do vídeo.
Inicialmente, o vereador Gilson demonstra pouco saber
sobre a Educação além do que prega o senso comum. Aliás, não há tema em que as
pessoas mais gostem de dar “pitaco” do que a educação. Também demonstra saber bem pouco sobre gênero, uma área de estudos extremamente ampla e que não deve ficar restrita ao senso comum do vereador. Convido a realmente refletirmos sobre essas questões, retirando os pré-conceitos.
O vereador, desconhecedor das normativas do Ministério
da Educação, proclama sobre a ameaça do que ele chamou de "ideologia de
gênero", definido como:
"fazer com que a escola, com que os
professores, com que todas as pessoas que estão na área da educação ensinem
para as nossas crianças que elas não nasceram nem homem e nem mulher. que elas não
são nem menino e nem menina”
Vamos "refletir", como insiste o vereador na
abertura do vídeo, sobre gênero, trazendo quem sabe do assunto. As reconhecidas
Professoras Doutoras da UFBA nos ajudarão definindo gênero como:
"processos
de construção cultural de relações que não decorrem de características sexuais
diferenciadas entre homens e mulheres, mas de processos construtores dessas
diferenças, produzindo, nesse movimento, desigualdades e hierarquias"
(Sardenberg e Macedo).
Ou seja, a construção do que é ser homem e do que é
ser mulher é SIM uma construção social, haja vista que ela se transforma ao longo
do tempo e momento histórico. Para a filósofa
francesa Simone de Beauvoir, não se nasce mulher, torna-se. Podemos afirmar que também
não se nasce homem, torna-se. Aliás, nos tornamos tudo e qualquer coisa ao
longo da vida a partir das nossas interações sociais, sobretudo em duas importantes
instituições: inicialmente na família e logo em seguida na escola.
Esclarecida a desinformação (ou seria má fé?) do vereador Gilson, vamos refletir que o vereador também desconhece sobre os altos índices de violências contra a mulher no Brasil, incluindo a violência doméstica. Não sabe ele que o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou a tragédia do machismo no Brasil, provocada principalmente por marido, namorado ou familiares.
Esclarecida a desinformação (ou seria má fé?) do vereador Gilson, vamos refletir que o vereador também desconhece sobre os altos índices de violências contra a mulher no Brasil, incluindo a violência doméstica. Não sabe ele que o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou a tragédia do machismo no Brasil, provocada principalmente por marido, namorado ou familiares.
O estudo estima que a média é de 472 assassinatos de mulheres por mês. E sabe o vereador que a
Bahia, nosso estado, é o segundo que mais mata mulheres no Brasil? Conhece ele
os registros da Delegacia de Atendimento a Mulher de Barreiras? Desconhece o vereador que dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam
para uma situação mais sombria se for levado em consideração o número de
mulheres vítimas de violência em geral. Cerca de 70% das mulheres do mundo
sofrem algum tipo de violência no
decorrer de sua vida, diz a organização. Em todo o mundo, uma em cada cinco
mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro, calcula a ONU.
Relevante lembrar que as desigualdades e hierarquias de gênero atingem também a sexualidade das pessoas, violentando quem possui uma orientação sexual que não seja heteronormativa (sistema que obriga a ser e/ou parecer heterossexual). Nesse aspecto, o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos homofóbicos, estando a Bahia em 6ª posição nacionalmente. Não podemos ignorar essa realidade! A escola, instituição tão fundamental, não poe ignorar esta realidade. Não trazer o debate sobre o respeito para com o outro, partindo de crenças e valores pessoais, é descumprir a missão de educar numa perspectiva libertadora.
O Ministério da Educação já possui materiais e
diretrizes para combater as discriminações de gênero, que resultam em
violências e a escola é uma instituição fundamental para contribuir nesse
sentido, haja vista que a nossa educação brasileira e barreirense é fortemente
sexista, ou seja, possui como cultura hegemonicamente masculina, branca e heterossexual sendo necessário
trazer as discussões sobre a desigualdade e opressões e
permitir que outras experiências sejam contempladas. É preciso que as
meninas e meninos, desde pequenas/os tenham referencias positivas e não de submissão e a
escola tem um papel determinante nessa transformação. É preciso que as pessoas homoafetivas não fiquem com medo de manifestar o seu amor. É preciso que o Brasil deixe de liderar também o ranking de assassinatos de travestis e transexuais. A educação escolar não pode se furtar desse debate!
Ademais, cabe lembrar, sobretudo à nós, trabalhadoras
da educação, que o magistério é predominantemente feminino, e uma profissão
desvalorizada. Qual a relação com as desigualdades e hierarquias de gênero? O
magistério é desvalorizado como profissão porque é exercido por mulheres, ou é
exercido por mulheres porque é desvalorizado?
Como cenário para toda essa questão o vereador Gilson
alega: “Isso é querer destruir as
famílias. Isso é querer deformar a vida das crianças. Isso é querer destruir a
célula da sociedade: as famílias".
Pensemos na família como agrupamento não no modelo tradicional
(mãe-pai-filho-filha). Tem família com avós, com tias ou tios. Apenas com mãe
ou apenas com pai. Tem família em orfanato. Ademais, qual a relação entre
compreender que as desigualdades e hierarquias sociais são de gênero e o fim da
família? Usa o vereador de má fé para convencer as pessoas para aderir ao seu
pedido? Não satisfeito, ele finaliza: "a
ideologia de gênero vem para querer destruir a sociedade".
Destruir a sociedade é compactuar com as
desigualdades e hierarquias de gênero! Assim, convoco para que o Plano
Municipal de Educação seja norteado pela Pedagogia Feminista, entendida como “o
conjunto de princípios e práticas que objetivam conscientizar indivíduos, tanto
homens quanto mulheres, da ordem patriarcal vigente em nossa sociedade,
dando-lhes instrumentos para superá-la e, assim, atuarem de modo que construam
a equidade entre os sexos”. (Cecília Sardenberg).
Por fim, chamo para a reflexão: estamos muito mal
representadas/os por este tipo de vereador! Além de desinformado, ele se
orgulha em conclamar a sociedade barreirense para manter as desigualdades e
hierarquias. Ele não é nosso aliado. E se não é nosso aliado, deverá ser
combatido, a começar por desconstruir suas falácias.
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