segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Junto & Misturado com o machismo!

Por Paula Vielmo


Reconhecer a sociedade capitalista como sustentada nas opressões é uma lição libertadora, mas que exige desprendimento de velhos dogmas e sobretudo da cultura e educação que recebemos, desde o nosso nascimento. A sociedade capitalista é racista, homofóbica e machista, ela se mantém também através das opressões de chamadas "minorias". Só não vê quem não quer ou não tem condições para tal.
Esse não é um texto raivoso de uma feminista. É o desabafo de uma mulher que se assume racista, homofóbica e machista, e luta todos os dias para se libertar dessa cultura da qual não compartilho, mas está na minha cultura, mesmo não sendo uma escolha individual.

Poderia passar despercebido, mas não vai, pois mais uma vez, um evento em Barreiras se apropria da mulher como objeto de chama de fregueses homens, que apenas por serem do sexo masculino pagam mais caro. O ingresso da festa "Junto e Misturado" que acontece amanhã, dia 27/12, tem a publicidade centrada em dois aspectos:

1. Open Bar
2. Valor do ingresso diferenciado: homem R$20 e mulher R$5

O primeiro elemento da publicidade utiliza do álcool, droga lícita cada vez mais utilizada, para atrair consumidores para o evento. A bebida é um item caro em festas, logo ser uma festa "open bar" é um atrativo a mais.

O segundo elemento da publicidade utiliza a mulher, ser humano do sexo feminino, como atrativo para os consumidores número um, os que pagam mais caro no evento -os homens.

Assim que observei a distinção dos valores nos ingressos, indaguei na página de divulgação do evento: Por que homem paga R$20 e mulher R$5? Eu já sabia, mas queria provocar reflexões naqueles que ainda reproduzem a opressão sexista/machista. Demorou vários dias, até que hoje um rapaz respondeu com naturalidade o que todos os demais se negaram a fazer, com receio:

" O marketing de ingresso mais barato pra mulher serve como uma especia de "chama" pros homens Paula, a galera ja vai pensando, vai dar muita mulher nessa festa, e ainda é open bar, então eu vou.."


Durante muitas décadas, as mulheres lutaram por direitos iguais. E ainda lutam. Por direito ao voto, por direito à serem donas de seus corpos ao invés de seus maridos ou o Estado, por trabalhar fora de casa, por salários iguais aos dos homens (o que ainda não é real), por divisão sexual do trabalho igualitária. Muitas lutas, que não podem ficar submersas a um retrocesso dessa natureza, em que um valor desigual de um ingresso não representa acesso a um espaço de lazer, já que as mulheres ganham menos, mesmo tendo graus mais elevados de estudo. Significa ser "chama" pros homens!

Uma festa como essas, pode ser um perigo para as mulheres, pois os homens que vão até lá desejam beber e "pegar" mulher. Então, uma mulher que deseja ir para lá beber e se divertir, está em perigo, pois estando lá como "chama", ela estaria disponível e disposta a realizar as vontades dos homens. Negar significa perigo, inclusive para sua integridade física.

Para quem leu as linhas acima e achou absurdo, lembro que isso é recorrente em nossa sociedade machista. Não faz muito tempo que foi amplamente divulgado o fato de um homem ter quebrado o braço de uma mulher porque ela disse "não". Muitos não aceitam "não", pois ainda concebem e tratam a mulher como um objeto que deve satisfazer as suas vontades. Nós mulheres, temos vontade própria, sabia?

Que a festa seja um momento de diversão, que as pessoas que quiserem desabar de álcool o façam, mas que as mulheres não sejam tratadas como objetos. É pedir demais por respeito? Na sociedade capitalista, sem a menor dúvida!

Não gostaria de escrever um texto desses, mas não fazê-lo significa ser cúmplice de um grande equívoco, e minha consciência não me perdoaria jamais: "a nossa luta é todo dia, o nosso corpo não é mercadoria"!

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Entendi a ideia central do texto, mas achei a argumentação falha. é natural da ~nossa~ espécie que os homens se sintam atraídos pelas mulheres então é mais do que normal que se aproveitem disso pra fazer o marketing de uma festa. a mulher que quer se sentir respeitada, que faça questão de pagar o mesmo preço que os homens ou que não vá à festa. Mas em momento nenhum vi qualquer tipo de desrespeito ou tentativa de menosprezar as mulheres por parte dos organizadores do evento.

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  3. É fato Ana Luísa, que homens (héteros) sentem-se atraídos por mulheres. Mas a questão não é essa. É a forma que usam esse “marketing” e essa atração para chamar os homens para a festa. Por que não colocar o mesmo valor, se vivemos em um mundo que se diz igualitário? Mais uma vez somos tratadas como frágeis e incapazes de estar no meio social da mesma forma que os homens.
    Talvez as mulheres que vão a essas festas, nunca olharam por esse lado. Afinal isso é comum, e o comum (apesar de absurdo) não incomoda muito (infelizmente). Gostei das ideias do texto!

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  4. Na verdade não é natural, não. É um exemplo da mentalidade absurdamente machista onde o homem é o possuidor do que há na festa (a diversão, a bebida e as mulheres) e a mulher, o objeto usado para que ele vá. A mulher é, nesse caso, igualada ao Open Bar: mais uma vantagem para o HOMEM ir à festa. O nome disso? Marketing. Nome bonito, né?

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  5. Ai segue uma nota de resposta da equipe Junto & Misturado
    http://www.facebook.com/notes/paulo-henrique/junto-misturado-nota-de-resposta/224793104263616

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  6. é simples, as garotas gastam mais para ficar ainda mais lindas e maravilhosas que o habitual, quando vao as festas, nos homens so tomamos banho e pegamos aquela roupa do fundo do bau, logo quem organiza festa sabendo disos da esse desconto, como se fosse um "vale vai mais linda" para as lindas garotas

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