terça-feira, 30 de agosto de 2011

Educação em greve, de novo!

Por Paula Vielmo¹

No dia 01 de agosto de 2011, ou seja, há 30 dias atrás, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia entrou em greve. Todos os 12 campi estão paralisados e apenas o Campus de Salvador funciona parcialmente. No entanto, além da Bahia, existem outros 20 Estados e 211 campi paralisados.

A greve ocorre em uma conjuntura de ataques constantes e frontais a educação brasileira, com o corte de mais de 3,5 bilhões de reais na educação e um Governo de origem dita trabalhadora, que se recusa sistematicamente a negociar com o sindicato da categoria (SINASEFE).

ESTAMOS EM GREVE!

Os servidores dos Institutos Federais - professores/as e técnicos - estão em greve, cuja pauta de reivindicação é vasta nos seus 11 pontos, dos quais destaco diversos Projetos de Leis que tramitam na Câmara Federal e visam retirar direitos dos/as servidores/as federais, a exemplo do congelamento de salários por 10 anos (PL 549/2009) e fim da instabilidade com demissão (PLP 248/98), além de 10% do PIB para a educação, reajuste salárial emergencial de 14,67% e reestruturação das carreiras.

Obstante isso, o título desse artigo é uma referência à maneira como muitas pessoas recebem o fato de ESTARMOS EM GREVE. É "mais uma greve", dizem muitas pessoas, na sua vã ignorância em relação a conjuntura brasileira. Não é mais uma greve, é uma forma legítima de resistir ao sucateamento da educação pública federal e do/a servidor/a federal, uma vez que a ideia de que servidor ganha bem não se aplica a carreira da educação (como nas esferas municipais e estaduais).

Inicialmente, a greve no serviço público gera muita revolta por parte de quem recebe esse serviço e por quem não o recebe e valoriza as privatizações, haja vista as afirmações não verdadeiras de que "servidor/a público" recebe muito bem.

Num país de miseráveis, onde o salário mínimo é de R$545,00 quando deveria ser de cerca de R$2.000,00 (DIEESE), receber acima do mínimo é um privilégio que não deve ser aceito, uma vez que não queremos dividir a miséria, mas sim a riqueza. Assim, trago a reflexão do Profº Gerson Argolo de que é um mito popular o fato de que servidor público ganha muito bem. E servidor/a da educação, como toda educação do país, não recebe muito bem, é o restante de toda a população que recebe muito baixo.

"VAMOS AMIGO LUTE, SENÃO VOCÊ ACABA PERDENDO O QUE JÁ CONQUISTOU"

Apesar de toda a legitimidade da luta por pagamento digno, a pauta é muito maior, mas qualquer um dos pontos tem sido tratado pelo Governo Federal da mesma maneira: com indiferença!

E a indiferença dos Governos, sentida por todo/a trabalhador/a da educação que entra em greve é repetida por muitas pessoas, que discursam sobre a importância fundamental da educação para a transformação e avanço do país, mas não conseguem sustentar com suas práticas, pois são contrárias a toda e qualquer forma de manifestação - ainda mais se for GREVE!

Tenho convicção, desde os tempos de faculdade que é por causa das greves que a educação ainda é pública e gratuita. Se não fossem elas - as greves - já seria educação totalmente paga. Se não fossem as greves, acreditem, teríamos somente terceirizados/as, menos recursos e muitas coisas menos em direção à educação de qualidade desejada.

Avalio que vivemos um tempo de embates e confrontos gigantescos para MANTER o que se conquistou. Não vivemos um momentos de avanços, pois hoje, como o trecho da música de Edson Gomes "vamos amigo lute, senão você acaba perdendo o que conquistou", tamanhos os ataques que o/a servidor/a público tem sofrido ao longo das últimas décadas.

A GREVE ATRASA A VIDA ESCOLAR DO/A ESTUDANTE

Todo início de greve na educação vem seguido de uma afirmação de que os maiores prejudicados são os estudantes, que atrasam seus estudos, dentre outras complicações na vida escolar. Isso é verdade, mas a culpa é de quem? Falta clareza por parte de quem faz tais acusações de que o verdadeiro responsável por essa situação é o Governo.

Para quem desconhece, greve não é feita como primeira alternativa, mas sim, como última alternativa! A greve surge de um processo em que os Governos não querem negociar ou não atendem as negociações. No caso da greve dos Institutos Federais, deflagrou-se porque o Governo não negocia e depois de um mês ainda se recusa a sentar para discutir ou o faz através de um Ministério sem autonomia e muito desrespeito, conforme afirmação de Fernando Haddad, Ministro da Educação de que "não teve tempo de estudar a pauta de reivindicações".

Concluindo, trago a afirmação atual do Professor Gumercindo Milhomem (APEOESP) citado por Paulo Freire em "Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar":

[...]As famílias acusavam os professores de prejudicar seus filhos, descumprindo o seu dever de ensinar, a que Gumercindo respondeu que havia um equívoco na acusação. Professoras e professores em greve, dizia ele, estavam ensinando, estavam dando a seus alunos, pelo seu testemunho de luta, lições de democracia.

O que atrasa a vida escolar, a vida acadêmica e a vida profissional é o descaso dos Governos ao ignorar as greves como se nada de mais fossem, quando se constituem em instrumento de luta.

Para finalizar, retomo as palavras de uma senhora na rua, proferidas contra o Profº Jefferson Costa durante passeata no dia 08 de agosto: "vai trabalhar, professor", e digo, para quem ignorantemente afirma que "não se trabalha" em greve, através das lúcidas palavras de Celia F.S.Linhares (1992):

[...]Nos movimentos de rua que concentram trabalhadores em reivindicação, é comum ouvir-se afirmações como: "vão trabalhar, vagabundos!". Isso significa que o esforço político não é considerado um trabalho.

Assim, mobilização, discussão e greve, constitui trabalho, mesmo não sendo produção material. Por fim, para quem vocifera "greve de novo!", ela será necessária enquanto durar o tratamento injusto com o/a trabalhador/a. E até o momento, a greve é necessária.


¹Pedagoga do IFBA/Campus Barreiras

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo seu comentário!!! Volte sempre :)