domingo, 20 de setembro de 2009

A morte é igual mas o enterro é desigual


Eu não gosto de velórios e enterros. Na verdade, tinha uma grande resitência em ir nestes espaços, não por medo ou algo similar, mas por causa da dor que estes ambientem significam para a maioria das pessoas que ficam e veem seus entes queridos partir.

Pois bem, essa resistência foi quebrada no início do ano em situação que não pude evitar e de lá para cá quando posso vou aos velórios e enterros para dar um abraço de conforto e uma palavra de força, às vezes muito necessário.

Neste final de semana estive em um, infelizmente, e no primeiro enterro que fui na minha jornada de 25 anos de vida, refleti algumas coisas que quero socializar com as/os queridas/os leitoras/es.

Chegando ao cemitério, não pude deixar de observar a falta de infraestrtuura do local, reflexo de toda a cidade de Barreiras. O abandono no cemitério não é diferente do restante do município . O terreno é irregular e não existem árvores para refrescar o ambiente nesse município onde o calor é frequente. Pequenos caminhos entre os túmulos permitem que as pessoas andem entre eles. e só.

A organização do cemitério também é irregular, mas sobretudo é desigual socialmente e fica perceptível claramente pelos túmulos e covas. Alguns túmulos são altos, outro baixos, alguns de cimento, outros de mármore, outros são apenas montinhos de terra com uma cruz afixada. A desigualdade social também está presente na morte. Quem aparentemente tinha dinheiro em vida, possui um túmulo suntuoso e quem aparentemente não tinha fica com o montinho de terra.

Lá, debaixo do sol quente, analisando as desigualdades - e não meras diferenças - pensei sobre a capacidade do capitalismo de tornar tudo um comércio e tudo rentável. A morte custa caro. São apetrechos e elementos que não acabam: caixão, café, carro de som, serviços funerários, pedaço de chão no cemitério...

Foi-se o tempo em que apenas um buraco a 7 palmos do chão era suficiente. Há tempos que usa-se caixões de madeiras diversificadas e duráveis; foi-se o tempo que apenas um lençol servia ou os caixotes de maneira quebravam na primeira pá de terra jogada. Nem pá de terra é preciso mais, diante das tampas de cimento.

A morte é a única verdade universal, é a única que atinge todas as pessoas, a única certeza da vida. No entanto, o processo pós-morte, aqui na terra parece trazer a tona a certeza de que a desigualdade social é uma praga que infesta os lugares mais diversos.

Um comentário:

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