quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Indústria Japonesa X Câmara Municipal de Barreiras


Caro leitor ou ouvinte (penso aqui, naqueles que, infelizmente, não podem ler):

Pode parecer uma incongruência; uma falta de lógica fazer qualquer tipo de relação entre a indústria japonesa e a Câmara Municipal de Barreiras, haja vista a desproporcionalidade entre ambas em vários aspectos. Não obstante, se por um lado, o universo é sistêmico e, portanto, tudo está interconectado e aí, não teríamos incoerência, por outro, temos de admitir que nem tudo pode ser explicado a partir do pensamento lógico, haja vista termos, grosso modo, três formas de conhecimento quais sejam: o científico, que é regido pela lógica, o religioso, e o artístico.

Vejamos onde quero chegar: Segundo Richard Senett, “Na década de 50, os japoneses fabricavam em massa produtos simples e baratos; no início da década de 70, produziam automóveis, rádios, aparelhos de som baratos e de alta qualidade, além de aço e alumínio excepcionais para finalidade especiais. O trabalho rigoroso, em padrões elevados conferiu aos japoneses, ao longo dos anos, um senso especial de respeito próprio e recíproco. Nos anos de pós-guerra, as empresas japonesas adotaram a panacéia do analista W. Edwards Deming, que preconizava, em nome ‘controle de qualidade total’, que os gerentes pusessem a mão na massa da produção e os subordinados falassem com franqueza aos superiores (grifo nosso). Referindo-se a um ‘artesanato coletivo’, Deming estava querendo dizer que o que solidifica uma instituição não é o compromisso comum, mas também, as trocas afiadas (grifo nosso)”. Essa medida devolveu a vida ao país depois da segunda guerra.


Pois bem, como o pensamento lógico funciona pelo método dedutivo, seria lógico deduzirmos que, se numa indústria, cujo objetivo é produzir bens materiais e o poder hierárquico é bem estabelecido, a liberdade de expressão deu certo, entenderíamos que o mesmo aconteceria com as instituições cuja base é o parlamento (do verbo francês parler que significa falar); ou seja, produção de bens simbólicos; e, também pelo fato de o sistema político ser democrático; ou seja, poder regido pelo povo.


Mas, como eu disse, caro leitor, nem tudo é lógico. Esse raciocínio que traçamos a partir da experiência dos japoneses não serve, por exemplo, para Câmara Municipal de Barreiras que segundo ouvi dizer, processou alguns estudantes do Campus IX da UNEB que estiveram na Câmara falando suas franquezas. Nem vou entrar no mérito da veracidade ou não de alguns detalhes do processo; o fato é que eles estavam falando suas franquezas. A Câmara não é um parlamento? O poder não é democrático? Ora, na indústria japonesa, falar com franqueza com seus patrões não deu certo? Por que na Câmara dos Vereadores não deu? Penso que devemos considerar a variável tempo; essa variável é uma entidade muito relativa. Se o tempo da indústria japonesa está em processo de aceleração, ou seja, na mão da história; é provável que o tempo da Câmara dos Vereadores esteja em desaceleração; ou seja, na contramão da história. Porém, vale ressaltar, que o aspecto positivo da variável tempo é que ela é irreversível. Desse modo, ele pode desacelerar, mas não pode voltar atrás. Assim, mais cedo ou mais tarde, eles poderão perceber que os estudantes podem estar certos. Não foi assim, com o período da Ditadura Militar? Se no passado, muitos foram condenados, hoje, estão sendo indenizados. As empresas modernas descobriram que os custos com das indenizações são muito altos e por isso criaram A CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Resta-nos saber se a Câmara dos vereadores, responsável pela gerência do dinheiro público, também criará sua comissão para evitar indenizações.


Só para finalizar, eu disse anteriormente que, além do pensamento lógico, havia mais duas formas de buscar o conhecimento: o religioso e o artístico. Conforme vimos, o lógico não se aplicou ao caso da Câmara. Sobraram o religioso e o artístico. O religioso também não se aplica nesse caso. Sobra o artístico. O fato é que o artístico se subdivide em: música, artes plásticas, literárias e cênicas. Os três primeiros não se aplicam. Sobram as artes cênicas. As artes cênicas por sua vez se subdividem, grosso modo, em: dança, teatro e arte circense. A única possibilidade que vejo é a última; haja vista os malabarismos que os políticos têm de fazer para se livrar da acusação de vilão para a condição de vítima. E conforme sabemos, a profissão de malabarista traz muitos riscos. O problema é que como o malabarista trabalha com o próprio corpo, os acidentes são provocados ou por falha do próprio malabarista, ou por questões estruturais. Se o acidente ocorreu por problemas estruturais, quem paga a indenização é o dono do circo. Convido o leitor a pensar comigo: No episódio Câmara Municipal X estudantes, quem seria o dono do circo? Bom, vou ficando por aqui, pois este texto acabou chegando num oroboro. Daqui de Sampa, vou acompanhar o desfecho dessa história. Mandem-me notícias.


Nelma Aronia Santos
É professora do Campus IX da UNEB
Mestre em Literatura e crítica literária e
Doutoranda em Comunicação e Semiótica – PUC-SP.

2 comentários:

  1. Excelente texto.
    Será que algum dos edis concordaria??

    André

    politicaetcetal.blogspot.com

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  2. Por que tirar a culpa dos estudantes (eleitores) e pôr em representantes escolhidos pela maioria da população cúmplice de vereadores ou prefeita?

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