sábado, 25 de dezembro de 2010

BEM-VINDO(A) A BARREIRAS: REINO DA IMPUNIDADE


Por Paula Vielmo

Num lugar muito, mas muito distante de tudo que se pode imaginar em termos de justiça social e coletividade, vive uma rainha muito malvada, herdeira de um reino rico de povo pobre. Essa rainha tinha uma mania das damas de sua época, apenas vestia-se de rosa. E essa rainha era tão, mas tão mimada, que pintou seu reino de rosa, para disfarçar com a cor de flor, a miséria que todo o povo vivia.

Essa história poderia continuar como um conto de fadas, e eu poderia escrevê-la como tal, mas não vou transformar a nossa realidade em um conto infantil porque o final não é feliz.

Apesar de dizerem que vivemos em um Estado democrático de direito e blá-blá-bla, cada vez mais estou convencida e consciente do quão estamos distantes desse Estado. No entanto, quero e vou, falar de um reino que é real, e assemelha-se, não por mera coincidência ao reino descrito acima. Esse reino, chama-se Barreiras, e a capital é a “impunidade”.

De uns tempos pra cá tenho pensado muito nisso, e falado com algumas pessoas também. Parece piada, mas não é. É o puro extravaso de alguém que está insatisfeita e revoltada diante de tantos absurdos que mais parecem cenas de filmes de ficção; cansada de ver e ouvir cotidianamente a naturalização da corrupção, do fisiologismo e da passividade.

Aqui em Barreiras, para qualquer lugar que se olhe ou se vá, sempre encontramos alguém disposto a passar outro pra trás, a se dar bem. E raramente encontramos alguém que queira construir coletivamente, na verdade, que queira construir algo e não apenas seguir algo ou alguém.

Esse cenário certamente não é exclusividade nossa, mas como moro aqui desde a infância e me formei politicamente nesse espaço contraditório, tenho que dizer que as coisas aqui são distorcidas, incoerentes e levianas.

Os poderes legislativo e executivo fingem que não veem os graves problemas e constantemente inventam mentiras, como a repetidamente dita pelo bispo-vereador Daniel de que “Barreiras está um canteiro de obras”. Canteiro de obras que só ele enxerga...; da prefeita rosinha que propagandeia uma saúde, educação e infraestrutura que queremos e merecemos, mas só existe no reino imaginário dela, a Rainha Má (ou seria mãe?).

Enfim, estou saturada de ter que caminhar nas calçadas lotadas de colchões, de areia, de material de construção, de barracas, de propagandas, mesas, bares. De ter que ir para a rua, disputar espaço com os mal educados motoristas; de escorregar nas calçadas de lajota ou de ter que caminhar olhando para baixo porque a qualquer momento posso tropeçar em calçadas desniveladas, ou ainda ter que fazer um grande esforço para subir ou descer calçadas altas; de ter que esperar ônibus lotados e velhos, em paradas sob o forte sol de Barreiras.

Aqui, as leis que temos não valem. Não valem primeiro porque são falhas, e segundo porque não são aplicadas. No reino da impunidade, existe um quarto poder, o Poder do Zé, dono das empresas de ônibus e controlador geral do transporte.

No reino da impunidade, existem Barreiras ideológicas e morais, dificílimas de serem transpostas, porque são culturais.

Mas e ai, o que fazer, quando se luta, luta, vai pro embate e não se alcança? Quando as pessoas te olham como se fosse de outro planeta ou sempre pensam que está fazendo algo com segundas intenções ou interesses pessoais, porque é exatamente assim que elas agem? O que fazer quando isso tudo te sufoca, quando parece estar indo para a guilhotina?

Não existem receitas, existe uma realidade objetiva que precisa e deve ser transformada, e apesar do cansaço, escrever alivia, porque da luta não me retiro, jamais!

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