terça-feira, 4 de agosto de 2009

Juiz libera circulação de guia que chama mulheres brasileiras de “máquinas do sexo”

Abaixo, informações sobre um dos absurdos que a nossa sociedade e justiça machista geram. É completamente revoltante ler ações como essa, desse juiz que não viu problema algum em uma mulher ser chamada num guia turistico de "máquina de sexo"! Essa justiça me envergonha!
Mais abaixo, a nota de repúdio que diversas mulheres militantes, representantes de movimentos sociais emitiram referente a essa polêmica que deve ganhar dimensão e gerar indignação social.
"Suplicamos expressamente, não aceiteis o que é habito como coisa natural" (Brecht)



O juiz José Luis Castro Rodriguez, da 21ª Vara Federal do Rio de Janeiro, negou ontem (21) o pedido de antecipação da tutela, formulado pela Embratur, para que fosse retirado de circulação o guia “Rio for Partiers” (´Rio para Festeiros’), que divide as mulheres cariocas em quatro tipos - dentre eles, estão as “popuzudas”. O mérito da ação ainda não foi julgado. A publicação é de responsabilidade da Editora Solcat Ltda.

A Advocacia-Geral da União encaminhou à Justiça Federal, a pedido da Embratur, ação para retirar de circulação o guia “Rio for Partiers”, sob o argumento de que ele estimula o turismo sexual, “viola a dignidade humana e expõe o povo brasileiro a situação vexatória".

O guia divide o estilo das cariocas em quatro tipos. Segundo o texto, “as popozudas são máquinas de sexo com grande bunda”. O livro sugere que, com elas, “bom investimento é o motel... se você também é sarado”. Prossegue: “elas malham, vestem calças apertadas que entram no bumbum, pintam o cabelo de louro e fazem de tudo para ficarem lindas”.

“Rio for Partiers” descreve os outros três tipos de cariocas: a “Britney Spears é linda e filhinha de papai, mas esqueça delas”.

Para a publicação, “as hippie/raver são mais divertidas, fáceis de se chegar, boas de papo, difícil de beijar, fácil de beber e se divertir com elas”. De acordo com o texto, “as com mais de 30 anos gostam de se divertir, dançar, beber e beijar”. O leitor é aconselhado a “tratar elas como damas e elas o tratarão como um rei, talvez não esta noite, mas amanhã com certeza”.

O guia recomenda que o turista “não tente pegar sua brasileira na praia”, principalmente no fim de semana, bem como ele não deve tentar a abordagem na rua. Recomenda: “tente derretê-la com uma aproximação suave”. E ainda: “tente começar a beijar o mais rápido possível”. Outra recomendação: o turista não deve insistir para ir à casa dela, e sim sugerir um passeio por onde estão os melhores motéis.

A decisão judicial que negou a antecipação de tutela refere que “a simples classificação da mulher – ou do homem – brasileiro em tipos, segundo critérios ligados, em tese, ao seu comportamento sexual, não implica, por si só, afronta aos princípios norteadores da Política Nacional de Turismo ou violação à dignidade da pessoa humana”.

O juiz fundamentou ainda que o pedido da Embratur poderia ser classificado como uma pretensão de censura, o que contraria a Constituição do país.

Com base no artigo 12 da Lei da Imprensa, o procurador federal Marco Di Lulio - que pretende interpor um agravo de instrumento ao TRF da 2ª Região - sustentou que “o guia, além de estimular a prática de exploração sexual, usa na capa, sem autorização, o selo Brasil Sensational, do Ministério do Turismo, criado para divulgar a imagem do turismo no país”.

A assessoria da Embratur afirmou, em nota, que “em nenhum momento houve qualquer pedido de utilização da marca Brasil”. A nota dizia ainda que "o Ministério do Turismo, por meio da Embratur, condena qualquer utilização de imagens, expressões ou apelos que remetam à exploração do turismo com conotação sexual e, por este motivo, não faz cessão de uso da marca Brasil para publicações que vão de encontro a este conceito”.


Nota de Repúdio

Nós, mulheres representantes de diversos movimentos sociais, repudiamos a Editora Solcat Ltda pela publicação do guia “Rio for Partiers” e a decisão do Juiz José Luis Castro Rodriguez, da 21ª Vara Federal, que negou o pedido da Embratur encaminhado pela Advocacia Geral da União para que esse guia fosse retirado de circulação. O guia estimula a prostituição classificando as mulheres cariocas em diferentes tipos e instruindo o leitor sobre como garantir relações sexuais com elas. Dentre os tipos classificados encontram-se mulheres que são consideradas “máquinas de sexo” e o guia explica como identifica-las.

O referido guia reduz as mulheres à mercadoria, um produto a ser comprado e usado por turistas em sua visita ao Rio de Janeiro. Na venda de sexo, o comprador, homem, se encontra numa posição de poder, na medida em que a mulher é considerada apenas um objeto, para a satisfação exclusiva do seu comprador. Nesta posição de submissão, essas mulheres são expostas a diversos atos de violência.

Sabemos que muitos países têm a prostituição como estratégia de desenvolvimento pelo alto lucro gerado. Repudiamos a existência do turismo sexual e consideramos vergonhosos paises que estimulam este “turismo” onde se naturaliza a compra e venda de mulheres em prol do lucro de multinacionais, companhias aéreas, de turismo e até mesmo os governos.

Reconhecemos a postura da Embratur como correta e repudiamos a atitude machista do Juiz José Luis Castro Rodriguez em negar a retirada de circulação do guia sexual que representa a mercantilizaçã o, exploração das mulheres e incentivo à submissão das relações humanas ao dinheiro. Nós mulheres organizadas lutamos diariamente contra a mercantilizaçã o de nossos corpos e nossas vidas. Reafirmamos: somos mulheres e não mercadoria!


Sindicato dos Servidores das Justiças Federais - Sisejufe RJ
Marcha Mundial das Mulheres
Juventude do PT-RJ
Comissão Defesa Direitos da Mulher da ALERJ
Articulação de Mulheres Brasileiras
Movimento de Mulheres de Cabo Frio
CEDIM
Secretaria de Mulheres do PT-RJ
Secretaria de Mulheres do PCdoB União Brasileira de Mulheres
União Estadual dos Estudantes -RJ
DCE PUC-Rio
SASERJ
Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
Casa da Mulher Trabalhadora - CAMTRA
União Nacional dos Estudantes
Secretaria da Mulher Trabalhadora CUT-RJ

2 comentários:

  1. Se o próprio governo aplaude, acha mesmo que algum cidadão comum vai contra? Sem pensar que as prórpias mulheres fazem sua cova... resta esperar que não achem que são todas iguais...

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  2. Muito bom que este blog promova a divulgação da luta feminista pela valorização da dignidade da mulher.

    Se já não acontece aqui, o próximo passo é pregar a igualdade entre mulheres e homens, com o fim do androcentrismo que reina com soberania até na academia de ciências sociais.

    Paula, te convido a ler alguns artigos que escrevi contra a atitude de se falar/escrever "o homem", palavra que designa humanos machos, como sinônimo de "ser humano" -- sempre falam "o homem" nesse sentido, nunca "a mulher":
    Artigos contra o androcentrismo

    bjos

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