20 de julho de 2007, uma data histórica para a Bahia, tanto quanto o 2 de julho de 1893, pois representa uma segunda independência. Nesta data morreu Antônio Carlos Magalhães - ACM, o terrível "cabeça branca".
Nesse 20 de julho, um ano depois, no mesmo dia em que comemora-se o "dia do amigo", é inevitável a felicidade por esse momento histórico. Não é uma comemoração pela morte de uma pessoa, mas a morte de um obstáculo ao progresso político da Bahia e uma vergonha nacional.
No entanto, assim como nos lembramos da morte de ACM, lembramos também que ele recebeu, ainda em vida, um golpe fatal da sua "querida Bahia": a eleição de Jaques Wagner para governador do estado. Ele teve o que chamamos de "morte política", e ainda em vida, o que muito nos alegra. Porém, a reflexão prossegue um pouco mais quando percebemos que mesmo com mudança de governo, o fim do dito "carlismo" ou pelo menos uma brutal ruptura (pois tem ACM Neto seguindo os caminhos de vovô) com esse sistema político, os rumos da Bahia não estão muito diferentes. Muito nos decepciona lembrar, e é preciso lembrar, que elegemos Jaques Wagner porque não queríamos e não aguentávamos mais a política do "malvadeza". Mas parece que o novo governo de velhas práticas não lembra disso.
Enfim, mesmo com tudo que foi exposto, é preciso comemorar, SIM, a liberdade da Bahia. 1 ano sem ACM - coitado do demônio! E viva a liberdade!!!
Segue abaixo um texto muito interessante escrito pelo coordenador geral do DCE/UFBA na data da morte de ACM (em 2007):
A UFBA não lamenta a morte de ACM
Vi e ouvi, com desgosto, as recentes declarações dadas pelo Reitor da UFBa Naomar Almeida à TV Bahia sobre a morte, já tarde demais, do senador ACM nesta última sexta-feira. Segundo o Reitor Naomar, “a nossa universidade expressa o pesar pelo falecimento de Antonio Carlos Magalhães”.
Até entendo a boa conduta de nosso reitor e a sua delicadeza ao tratar de um acontecido dessa importância para o cenário político tanto do Estado quanto do país. Naomar, enquanto homem influente deste cenário, dificilmente quebraria qualquer protocolo a ponto de não tratar com a devida seriedade o assunto.
E, como é óbvio, nunca ouviríamos de nosso educado Reitor palavras ásperas e satisfeitas relacionadas ao falecimento do senador. Aquela mesma boa conduta nos ensina que desejar a morte alheia é, no mínimo, falta de educação.
Mas não posso deixar de tecer alguns comentários, estes sim ásperos, porém insatisfeitos pelo conjunto das declarações do Reitor da Universidade a qual também faço parte.
Não restam dúvidas de que lamentar a morte de Antonio Carlos significa jogar à sombra do esquecimento tudo de negativo que este homem representou na vida política de nossa cidade, Estado e país, desde a Ditadura até o dia de sua morte.
Do ponto de vista da luta pela justiça e igualdade social, o que mais importa quando analisamos a longa passagem do Cabeça Branca pelo poder político do Brasil, ele sempre representou o regresso.
Seus sucessivos mandatos de Deputado Estadual e Federal, de Prefeito, de Governador, de Ministro e Senador da República nunca estiveram à serviço da democracia. Pelo contrário, nosso conterrâneo falecido foi historicamente porta-voz do autoritarismo e da perseguição política.
Competente e eloqüente nos discursos, Antonio Carlos não teve dúvidas em nenhum momento, da UDN ao DEM, de que a Esquerda e os movimentos sociais eram seus principais inimigos na disputa política. Assim como nós, da Esquerda e os movimentos sociais, também nunca pestanejamos em estarmos do outro lado da trincheira que não a deste desprezível ex-Senhor da Bahia.
Quando nosso Reitor expressa pesar, não nos causa surpresa. Porém nos deixa em estado de agonia. Agonia porque não precisamos ir até a triste história da Ditadura Militar para buscar justificativas para as nossas felicidades pela morte desse monstro. Jovens que somos, nem eu nem meus companheiros e companheiras estudantes viveram este sombrio período de nosso país. Herdamos, mas não vivemos.
No entanto, se não foi na Ditadura Militar que conhecemos as práticas autoritárias de ACM, foi já no século XXI que encontramos os nossos motivos para hoje, numa feliz sexta-feira, dar adeus com euforia a um homem que só fez mal por onde passou.
Nunca esqueceremos, professor Naomar, da tragédia do dia 16 de maio de 2001, prestes ao seu primeiro Reitorado.Ali sentimos literalmente na pele a violência inconseqüente das decisões políticas protagonizadas por ACM. Sangramos, corremos, gritamos e jogamos pedra. Tudo isso pela democracia.
Não tenho certeza quanto à importância que tem para o Reitor o fato de termos sangrado naquele fatídico dia. Mas, ainda que não tenha, faço questão de lembrar ao Magnífico que neste mesmo dia sangrou também a UFBa.
A nossa universidade sangrou quando foi desavergonhadamente invadida por policiais mandados pelo senhor da ditadura na Bahia. Naquele momento que, não coincidentemente, berrávamos pela cassação de um mandato que quando não nos fez pelo autoritário, o fez pela corrupção.
Não, professor Naomar. Definitivamente a UFBa não lamenta a morte de ACM.
Não tenho a pretensão de retificar a opinião que é sua, Magnífico Reitor. Mas enquanto membro da mesma Universidade que você, e enquanto representante de um dos setores que constroem cotidianamente a UFBa, lamento pelos seus pesares. Que, repito, são apenas seus.
Para nós, a Era a qual ACM nos reprimiu e nos perseguiu, finda exatamente no dia 20 de julho de 2007. Agora, mais do que nunca, esta Era será conhecida pela contundente expressão título da obra do jornalista João Carlos Teixeira Gomes: Memória as Trevas.
Não sei quanto a você, Magnífico, mas a “boa conduta” que se dane.
A ordem agora é comemorar.
E a palavra-de-ordem, para não perder a prática, continua sendo a mesma. Vamos tirar a Bahia das Trevas.
Gabriel Oliveira
Coord. Geral do DCE (em 2007)
Oi Paula! Parabéns pelo Blog!!! Um ótimo espaço para discutir PROPOSTAS.
ResponderExcluirEstou contigo em Barreiras.. Boa sorte!
Abraço