Nos dias 17 e 18 de novembro, pelo nono ano consecutivo, os quilombos do Território Velho Chico no estado da Bahia realizam a comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra reunindo-se em uma das comunidades para celebrar suas conquistas e renovar as forças para as lutas que são constantes. Este ano quem sediou a festa foi o quilombo Barra do Parateca, situado no município de Carinhanha, dando show em organização, união e receptividade. O evento contou com a participação de lideranças quilombolas da região e do estado, bem como lideranças políticas que contribuem com a luta dos quilombos como o deputado federal Luiz Alberto e o vice-prefeito de Serra do Ramalho Bartolomeu Guedes, além da prefeita de Carinhanha e de alguns vereadores das comunidades de todo o território. Neste ano de 2012 o evento contou ainda com integração das atividades da IV Semana da Consciência Negra da UNEB/DCHT campus XVII que realizou durante a semana várias mesas-redondas, comunicações e apresentações artísticas com foco nas relações étnico-raciais, bem como resultados de pesquisas realizadas nos quilombos da região pelo Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade e Linguagem do campus VI da UNEB/Caetité que compôs a organização do evento. No dia 16 foi realizada ainda a inauguração da Casa da Memória do quilombo Araçá/Cariacá que tem como objetivo dar acesso ao público a elementos que marcam e contam a história da comunidade como objetos antigos, fotos, estudos realizados, instrumentos de trabalho cotidiano, entre outros.
Todas estas atividades foram de fundamental importância para fortalecer o evento que a cada ano recebe novos visitantes, agrega atividades, mas sem perder de vista que o espaço de destaque é para as trocas de experiências das luta das comunidades quilombolas e para as suas manifestações artístico-culturais que abrilhantaram os dois dias do evento no quilombo. O samba da umbigada do quilombo Rio das Rãs, a Folia de Reis dos quilombos Lagoa das Piranhas e Jatobá, a Banda Bico do quilombo Parateca/Paud’arco, o Maculelê e a Capoeira dos quilombos da Barra do Parateca e Araçá/Cariacá, sambas, coreografias, músicas e poesias de várias comunidades, bem como representações religiosas como a realizada pelo terreiro de Umbanda Cosme e Damião, foram algumas das expressões de destaque na festa. Estas manifestações evidenciam em seus formatos, estética, rituais e composições a relação direta com a ancestralidade africana, sendo ainda um instrumento de transmissão dos valores, da tradição, da história e da cultura das comunidades.
As falas das lideranças quilombolas no “20 de novembro” dos quilombos, como é conhecida a festa na região, chamou a atenção para a urgência de uma política de reparação social mais eficiente para estes grupos étnicos que sofreram e vem sofrendo a negligência do Estado brasileiro no que se refere à população negra e quilombola, a exemplo do quilombo Rio dos Macacos sobre o qual o pesquisador Clíssio apresentou a situação atual de conflito com a Marinha do Brasil.
A alegria dos/as quilombolas ficou evidente em todos os momentos, pois se trata da alegria com compromisso político de quem sabe seus direitos e luta por eles, mas que não perde o encantamento pela vida, não perde a sua memória social e suas tradições.
¹ militante do Movimento Negro Quilombola, pedagoga do IFBA/ Campus de Barreiras e mestranda em Educação pela UFBA
Shirley, obrigada e parabéns pelo texto! É uma grande contribuição no sentido de conhecermos um pouco mais sobre essa rica cultura, preservada na resistência!
ResponderExcluirBeijos em luta
Obrigado, Shirley, pelo texto, pois é gratificante saber que os povos quilombolas não só existem, mas continuam dando exemplo de organização na luta pela construção e reconhecimento de seus processos civilizatórios.
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