sexta-feira, 20 de novembro de 2009

20 de Novembro: Dia Nacional da Consciência Negra


Novembro NEGRO

*Por Claudio Roberto

“Consciência não tem cor!” Essa consideração, aparentemente de igualdade racial, é a mais profunda prova de que o Brasil é um país racista e de que não reconhece/assume que existiu e existe as praticas de discriminação, infelizmente tão comuns, e manifestadas às vezes de forma escancarada e em atitudes subliminares em meio à nossa sociedade e o que é mais lamentável em nossas escolas e/ou universidades. A declaração: “Consciência não tem cor!”, vem pronunciadamente à tona na Semana da Consciência Negra que tem o seu ponto mais elevado no dia 20 de novembro Dia Nacional da Consciência Negra e dia da morte do líder Zumbi, do Quilombo de Palmares.

No amanhecer do dia 20 de novembro de 1695, após lutar com bravura, Zumbi caiu morto em combate nas mãos assassinas dos bandeirantes, matando um homem, ferindo outro e jamais se redendo. Zumbi tornou-se um símbolo vivo para as gerações futuras como exemplo de luta e amor à liberdade. Hoje, Zumbi é considerado um dos principais símbolos da luta contra todas as formas de opressão e exclusão que continuam a castigar os descendentes de africanos no Brasil.

Celebrar a Consciência Negra é resgatar e trazer para a memória nacional o sentido político da luta, da resistência e da garra das/dos negras (os) no Brasil. O Novembro NEGRO possui hoje uma valorização inserida no contexto de luta contra o “mito da democracia racial”, que inculca na mentalidade social da nossa sociedade a idéia de que os diferentes grupos étnico-racial aqui existentes viveram e ainda vivem relações raciais harmoniosas e menos tensas do que aconteceu em outros países escravocratas do mundo. A comemoração de Zumbi no Novembro NEGRO surge para representar o negro ativo e rebelde que resistiu à escravidão e lutou pela liberdade até a morte.

Pelo seu conteúdo histórico e político o Dia Nacional da Consciência Negra é necessário para a educação das crianças brancas e negras, sobretudo destas últimas, a fim de que possam aprender desde cedo a história de personalidades negras como Zumbi e apresentar a resistência negra tão omitida em nossos livros didáticos. Ainda, contribui para que as crianças negras cresçam com uma imagem positiva de si mesma e das/dos suas/seus ancestrais. Uma vez que a apresentação das/dos personagens negras (os) em nossos livros didáticos, filmes, novelas e textos literários como poesias e poemas, é a de quem aceita sua condição escrava sem pestanejar e ainda ajuda as/os senhoras (es) de escravas (os), como um sujeito dócil e subordinado à elite branca, biologicamente inferior e mantém uma relação de cordialidade com as/os senhoras (es) de escravas (os). A construção de uma imagem positiva de nossas (os) ancestrais negras (os) é importante para todas (os) nós, negras (os) e brancas (os), pois poderá nos ajudar a compreender, aceitar, reconhecer e respeitar as diferenças.

Somente com uma Consciência Negra e a alma negra, poderemos aprender e conhecer sobre a verdadeira história e cultura do Brasil e do povo brasileiro construída com as bagagens e memórias de vários povos, sobretudo o indígena e africano na construção deste país e na produção da identidade brasileira. O discurso de que “Consciência não tem cor!” serve apenas para o apaziguamento da consciência branca/eurocentrica, que ao penetrar no imaginário da população negra ou branca, serve como instrumento de perpetuação do domínio ideológico da população negra, que antes resistia nas senzalas hoje resiste e luta nas favelas. População negra maçicamente fora das universidades, analfabeta , quando estuda com uma educação pobre, desempregada, quando chega ao “mercado de trabalho” com os piores salários, com baixa expectativa de vida, quando tem moradia com as piores condições e maçicamente maioria nos presídios. Não se pode deixar de falar do genocídio praticado todos os dias contra a população negra, fundamentado na consciência branca que prega e defende a pena de morte como uma política de segurança. Pois, todos os dias jovens negros são executados sumariamente nas periferias e nos bairros mais pobres do país e a nossa elite branca se cala diante disso.

Já é hora de enegrecer a educação, sobretudo a universidade. Há algum tempo a Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas/Campus IX, Barreiras-Bahia vem construindo uma ampla discussão da temática étnico-racial com a realização da Semana da Consciência Negra, somando forças na luta contra o racismo e pela igualdade racial no Brasil. A educação/escola/universidade deve ser o primeiro campo de batalha. A elite branca no Brasil não aceita abrir mão do monopólio do conhecimento. Ainda, os nossos Parâmetros Curriculares são extremamente eurocentricos e negam a raiz africana das ciências e a sabedoria popular forjada por séculos pelos nativos desta terra. Pois, segundo os Parâmetros Curriculares extremamente eurocentricos a História ensinada é sempre a de um pólo, que é o dominador (elite branca) que determina e constrói os rumos da História, negando assim a interação com o outro pólo, o dominado que determina a verdadeira História que não é contada. Um importante avanço, para correção desta distorção é a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira e a inclusão do dia 20 de novembro no calendário escolar como Dia Nacional da Consciência Negra.


*Claudio Roberto de Jesus é estudante de Pedagogia da UNEB campus IX, militante do Partido Socialismo e Liberdade.

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