terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"O ano termina e nasce outra vez"


Cortar o Tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente


Carlos Drummond Andrade


Eu acredito, que daqui pra diante vai ser diferente! Aliás, que de agora em diante já pode ser.

Mas acredito também que não podemos apenas renovar nossas esperanças a cada 12 meses. É preciso utilizar essa esperança para fazer a diferença que queremos, é preciso ir à luta com coragem e convicção de que estamos nessa por vontade e arcando com as consequências dessa opção consciente e muitas vezes dolorosa.

Que o ano de 2009 seja um ano de muitas lutas coletivas e de vitórias!!! Em 2009, "OUTUBRO VIVE"!!!

Obrigada a todas e todos que construiram o "idéias são à prova de bala" em 2008, opinando ou apenas lendo silenciosamente. Continuamos no ano que vem!

Forte abraço e saudações em luta,


Paula Vielmo




quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Filas, imensas filas...

Falar das imensas filas para toda ação desejada é algo frequente pelo país, principalmente na mídia, que constantemente faz reportagens mostrando as cenas deprimentes. No entanto, de uns tempos para cá, devido a vivência da realidade das filas, resolvi escrever sobre elas, enquanto espero em uma (na qual fiquei 1 hora e 22 minutos).

É fila para as mais diversas coisas: para matrícula, nos postos de saúde, nos órgãos públicos, nas agências bancárias, no trânsito, nos supermercados. Até mesmo na sala de aula existem as filas: cadeiras enfileiradas, umas atrás das outras, e também fila para o recreio. Desde a infância aprendemos a ficar em fila. Mas quando se trata de determinados serviços - como os primeiros três citados - além de filas, são minutos longos de espera, até mesmo horas. E geralmente em pé.

Tenho colecionado tempo longo em filas neste mês de dezembro: 40 minutos no banco Caixa Econômica Federal; no Banco do Brasil nunca menos de 30 minutos; no fórum: 1h15 para autenticar documentos, os quais a senhora "responsável" nem sequer olhou para os originais; 1h22 no Ministério do Trabalho. No entanto, ficar nas filas me rendeu/ rende observações e reflexões sobre essa situação - além de dores nas pernas.

As pessoas nas filas resmungam da demora, algumas falam indiretas, mas sobretudo, existe um terrível "hábito" instituído: é preciso esperar. E essa espera é passiva e acomodada. Espera que assemelha-se a todas as demais aceitações populares (assaltos aos cofres públicos, descaso com a educação e demais serviços, aumentos de tarifas) que são um aceite da total falta de respeito com o povo. E o povo deve exigir respeito, deve levantar-se contra essa realidade e dizer que não aceita esse descaso.

E eu, nas filas, o que sou? Também uma passiva (mesmo que morrendo de raiva da situação). De fato penso e visualizo uma cena de revolta popular, incitando o povo a combater essa situação, mas falta coragem para, sozinha, fazer qualquer coisa, mesmo nas filas super demoradas. Mas ouçamos a súplica do sábio poeta revolucionário Brecht:

Desconfiai do mais trivial,
na aparência do singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.