Por Paula Vielmo
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
Bertolt Brecht
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
Bertolt Brecht

Passei o dia 14 trabalhando e somente no dia 15 pude me apropriar do fato, assistindo o vídeo do programa e procurando comentários e textos na imprensa local de Barreiras. Consegui achar o vídeo, mas apenas um texto local, superficial e sem identificação de autoria em um site de jornal. Os demais se limitaram a postar a gravação da reportagem da televisão. Além disso, achei na imprensa local uma ampla divulgação da rápida nota de esclarecimento que foi elaborado pela Assessoria da Prefeitura. Neste texto, procurarei de maneira sintética, abordar a reportagem, a nota de esclarecimento, a repercussão do fato e a normalidade da violência municipal, tudo misturado e desordenado.
A repressão aos movimentos sociais, populares e manifestos de rua são bem mais corriqueiros do que a televisão mostra. Essa prática, sobretudo por parte do Estado como poder, atua para manter a ordem, o que significa retirar do caminho as pessoas que representam algum obstáculo. A repressão coíbe muitas pessoas de se manifestarem, mesmo diante da conquista da liberdade de expressão, algo compreensível diante de uma nação que a pouco tempo viveu um período ditatorial. Em contrapartida, outras vão para o enfrentamento, como aconteceu com a população da comunidade do Conjunto Habitacional Arboreto I e II na manhã de 14 de fevereiro de 2014 em Barreiras, velho oeste da Bahia.
Em breves 1 minuto e 08 segundos desvelou para o estado baiano o que é o Prefeito, causando indignação generalizada, encarada por estas bandas em menor intensidade, verificada através da transformação do ocorrido em piada. Rapidamente, surgiram "memes" com fotos e frases. A situação passou de deprimente para engraçada, provocando uma perigosa manutenção da passividade hegemônica da população barreirense que, como muitas outras pessoas, olhou para os/as manifestantes como "baderneiros/as" e concordou que deveria mesmo "liberar" o acesso. Adotou-se uma perspectiva egoísta em relação ao que aquela comunidade está vivenciando em virtude da mudança do tráfego, demonstrando que grande parcela da população barreirense internalizou a violência, banalizando o desrespeito aos direitos humanos.
A reportagem na televisão, meio que transmite com grande alcance e repercussão, trouxe à tona através das imagens e da fala do prefeito o que vivenciamos em Barreiras e nesta administração, mas também no governo anterior, que enviava seus capangas para reprimir manifestantes (leia aqui, aqui e aqui). Todavia, me chamou a atenção, além de toda a violência, a fala dele "passa, passa por cima desses filhas da puta", que demonstra a capacidade realmente destrutiva do Prefeito, mas também uma violência de gênero, verificada mais ainda através da composição do manifesto: formado majoritariamente por mulheres e crianças. Sacou?
A atitude do prefeito foi anunciada em portais virtuais de grande acesso, como o G1, mas é, para mim, o reflexo direto da sua administração municipal e de todas as pessoas que o acompanham, seja através do voto, da defesa ou das alianças para garantir (re)eleição. A manutenção de um homem violento, desequilibrado em relação ao diálogo e habituado com a truculência, possuí cumplicidade e ampla rede para sustentar-se.
Para nós, moradoras/es de Barreiras, a reação dele não é novidade. Todavia, não pode ocupar um lugar de "trivial" no cotidiano. A afirmação de que "eu tô acostumado com isso" desvela uma prática conhecida, mas abafada, sobretudo pelo medo. Não é "normal" e nem deve ser, agir com truculência em relação aos manifestos. Ele age assim porque possuí poder para isso, seja como prefeito, seja como homem rico e conhecedor da lentidão da justiça brasileira. Em todos os casos, ele possuí vantagem sistêmica sobre a população do Conjunto Habitacional Arboreto I e II e do presidente da Associação que foi agredido fisicamente.
Ao se manifestarem em relação a pouca segurança por causa do tráfego de veículos pesados nas proximidades do local em que residem, aquela população pobre, foi mais uma vez vítima, agora com relação à repressão física através do punho - literalmente - do prefeito municipal Antonio Henrique. As imagens filmadas daquele homem truculento mandando a máquina romper o bloqueio a todo custo de violência, desvelou uma prática conhecida da população em virtude do perfil e histórico do prefeito, o que provavelmente intimidou a imprensa local a falar sobre o assunto de maneira menos tímida.
Esta imprensa local, que apenas reproduziu em seus sites o vídeo, publicou rapidamente a "Nota de esclarecimento da Prefeitura sobre incidente envolvendo o Prefeito Antônio Henrique em manifestação em Barreiras", emitida pela ASECOM, dirigida pelo PT. Nesta nota, recheada de manipulações textuais para dar a impressão que foi um equívoco e que o prefeito apenas desejava garantir o trânsito, não substituí o poder e impacto das imagens, que comunicam uma outra mensagem.
Na nota, o objetivo é desqualificar a manifestação, acusando de não conseguirem negociar em virtude da "intencionalidade política das lideranças da manifestação". Ora, existe alguma manifestação humana que não seja política? O ser humano é essencialmente político e obviamente um manifesto que reivindica possui pauta política. Insinuar que um prefeito que não dialoga tentou o diálogo é tão calunioso quanto insinuar que havia manipulação do manifesto.
Dentre as inúmeras tentativas de defesa do prefeito, justificam que ele fora ofendido verbalmente. Ora, que prefeito sem controle emocional é esse? Violência tem justificativa? E por fim, um parágrafo de meras duas linhas e meia em que "O Governo Municipal lamenta a exploração política do episódio, uma vez que o Prefeito estava imbuído somente do propósito de desobstruir a via, para evitar maiores problemas", tentando, mais uma vez, deslocar o fato de termos um prefeito violento, levando para o campo da oposição.
Obviamente, a oposição vai explorar politicamente o caso, e isso deve ser realmente feito para jamais naturalizar este tipo de ação, pois se depender de certos Partidos aliados que cresceram à base de manifestação e agora se posicionam contra, cada dia mais os movimentos socais serão criminalizados. Porém, não basta distribuir imagens com frases engraçadas que logo cairão no esquecimento. É necessário analisar profundamente, bem mais do que consigo neste breve texto, as condições para essa situação e acima de tudo, não aceitar o que é hábito como natural e acreditar que podemos e devemos mudar as relações de poder em Barreiras, abandonando essa velha política, porque nada é impossível de mudar!
Ao se manifestarem em relação a pouca segurança por causa do tráfego de veículos pesados nas proximidades do local em que residem, aquela população pobre, foi mais uma vez vítima, agora com relação à repressão física através do punho - literalmente - do prefeito municipal Antonio Henrique. As imagens filmadas daquele homem truculento mandando a máquina romper o bloqueio a todo custo de violência, desvelou uma prática conhecida da população em virtude do perfil e histórico do prefeito, o que provavelmente intimidou a imprensa local a falar sobre o assunto de maneira menos tímida.
Esta imprensa local, que apenas reproduziu em seus sites o vídeo, publicou rapidamente a "Nota de esclarecimento da Prefeitura sobre incidente envolvendo o Prefeito Antônio Henrique em manifestação em Barreiras", emitida pela ASECOM, dirigida pelo PT. Nesta nota, recheada de manipulações textuais para dar a impressão que foi um equívoco e que o prefeito apenas desejava garantir o trânsito, não substituí o poder e impacto das imagens, que comunicam uma outra mensagem.
Na nota, o objetivo é desqualificar a manifestação, acusando de não conseguirem negociar em virtude da "intencionalidade política das lideranças da manifestação". Ora, existe alguma manifestação humana que não seja política? O ser humano é essencialmente político e obviamente um manifesto que reivindica possui pauta política. Insinuar que um prefeito que não dialoga tentou o diálogo é tão calunioso quanto insinuar que havia manipulação do manifesto.
Dentre as inúmeras tentativas de defesa do prefeito, justificam que ele fora ofendido verbalmente. Ora, que prefeito sem controle emocional é esse? Violência tem justificativa? E por fim, um parágrafo de meras duas linhas e meia em que "O Governo Municipal lamenta a exploração política do episódio, uma vez que o Prefeito estava imbuído somente do propósito de desobstruir a via, para evitar maiores problemas", tentando, mais uma vez, deslocar o fato de termos um prefeito violento, levando para o campo da oposição.
Obviamente, a oposição vai explorar politicamente o caso, e isso deve ser realmente feito para jamais naturalizar este tipo de ação, pois se depender de certos Partidos aliados que cresceram à base de manifestação e agora se posicionam contra, cada dia mais os movimentos socais serão criminalizados. Porém, não basta distribuir imagens com frases engraçadas que logo cairão no esquecimento. É necessário analisar profundamente, bem mais do que consigo neste breve texto, as condições para essa situação e acima de tudo, não aceitar o que é hábito como natural e acreditar que podemos e devemos mudar as relações de poder em Barreiras, abandonando essa velha política, porque nada é impossível de mudar!