segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Breves registros do que passou: junho a agosto

Por Paula Vielmo

Faz cerca de três meses que não escrevo. Não é falta de pautas, nem de tempo, mas um tal de desânimo que retira o sentido e precisa de um tempo para a reanimação. Todavia, como o tempo não pára, muitas coisas importantes acabaram sem registro no período mais adequado, mas para fins de registro mesmo, irei fazer comentários breves sobre tais pautas, ao invés de textos sobre cada uma.

JORNADAS DE JUNHO E A MOBILIZAÇÃO EM BARREIRAS

A mobilização nacional ocorrida em junho e julho de 2013 foi, realmente, histórica. No entanto, não significou levante popular, mas uma mobilização midiática, incentivada sobretudo pela mídia televisiva, diante da dimensão que os rumos estavam tomando. Foi interessante para levar as pessoas às ruas, exemplo das estimadas 8 mil pessoas que ocuparam a Avenida de Barreiras, muitas das quais participando de um protesto pela primeira vez.

Porém, isso não se manteve. Ao contrário do que se propagou, o gigante não acordou. Ele já voltou a dormir "em berço esplêndido", e nosso povo voltou para a sua rotina.

Em Barreiras, a mobilização não teve foco, organização ou caráter de ato de rua. Simplesmente seguiu a moda nacional e os parâmetros da mídia burguesa. Eu chamei de desfile cívico, e realmente fiquei decepcionada com o que presenciei. De toda maneira, é preciso considerar que existe disposição para a luta por parte do nosso povo, falta realmente o despertar!

MARCHA DAS VADIAS 2013

Em 01 de agosto aconteceu a segunda edição da Marcha das Vadias de Barreiras, trazendo o debate sobre a violência de gênero e os assustadores números de violência contra a mulher, também em Barreiras.

Foi menor do que em 2012, tanto em termos de atividades preparatórias quanto de público presente na Marcha ou de divulgação por parte da imprensa local. Sinceramente, isso não me surpreende, porque é muito raro a imprensa local noticiar algo que seja tão polêmico e que, de fato, mexa com as estruturas da nossa sociedade machista. De toda maneira, a gente estava lá pela causa, mesmo sem apoio!

A MDV deste ano foi menor, mas mais qualificada. Todas as pessoas que foram sabiam do que se tratava, não estavam alienadas ao tema e nem agiram como massa de manobra (ao contrário do que aconteceu no desfile-cívico).

Sobre o 7 de setembro vou escrever algo específico, porque teve desdobramentos que merecem denúncia e registro!

Cachorro não gosta de osso

Por Robson Vieira
Postado originalmente em: 


Dizem que cachorro gosta de osso, por sinal discordo. Já parou para experimentar essa teoria furada!? Duvida do que falo? Pois então faça o teste e tire suas conclusões. Coloque duas porções: um filé bem apetitoso e um osso. O cachorro certamente escolherá o filé, ele come osso quando não tem outra opção.

No processo de acesso e consumo dos produtos culturais acontece um fenômeno parecido, o povo consome muita coisa ruim por que nem sempre tem acesso a coisas de boa qualidade. Tem muita gente comendo osso por ai, a tal ponto que consumir filé terá que ser um exercício gradativo para não correr o risco de morrer engasgado. Pela qualidade e quantidade de coisas boas que temos na nossa cultura dá pra suprir o mais faminto do ser. Fome é pra ser saciada, a fome cultural também.

Não quero com isso dizer que existe supremacia de uma determinada cultura sobre outra, o que há são culturas diferentes. No entanto, não posso negar que, a meu ver, existe cultura com conteúdo e culturas empurradas goela abaixo sem direito ao famoso “quilinho” o que na certa há de provocar uma indigestão. Por cultura de conteúdo entendo tudo aquilo que nos faz pensar, refletir, que politiza, provoca e mexe com as nossas sensações humanas, afinal tudo tem que ter um razão de ser, do contrário não faz sentido. 

Penso que sem objetivo, função e funcionalidade tudo perde o sentido. Certa vez ouvi dizer que cultura é tudo aquilo que nós fazemos e os macacos não fazem, concordo. Por tanto, não discuto a identificação cultural dos fenômenos, coloco em cheque a sua função. Por isso questiono a característica cultural das coisas e nunca sua catalogação enquanto produto cultural. 

Para melhor entendimento, pense comigo, qual a função cultural desse excesso de músicas carregadas de cacofonias e pornografias gratuitas? Em que edifica essas novelas e demais produtos televisivos desprovidos de conteúdos e repletos de apelação e bestialidade? Por que tudo isso ganha corpo enquanto muitas coisas boas não conseguem se quer ser vistas? Há um jogo político poderoso e muito bem articulado. O dinheiro público utilizado na cultura, na maioria das vezes, fica nas mãos de quem mais tem. E aí se repete a saga: uns poucos ficam comendo filé e o resto a roer osso. Por tudo isso tenho cada vez mais concordado que a televisão brasileira é mais educativa quando desligada. O que existe é uma falsa impressão de que ao termos o "controle" em nossas mãos temos o controle da situação, na pratica é bem diferente. Comemos produtos prontos, o cardápio não está aberto a sugestões. É isso ou é isso e ponto final. Reafirmo, a televisão brasileira é ruim de segunda a sexta-feira, no sábado e domingo consegue ficar pior. Dirão: temos TV a cabo, mais isso não é pro “cabo” de qualquer um, quem não tem filé acaba comendo osso mesmo. 

Sortudo que sou, hoje no Centro de Cultura da Pontifica Universidade Católica de Goiânia, tive a oportunidade de participar de um banquete cultural, a gravação de mais um DVD do Grupo Sons do Cerrado, no qual fazem uma releitura de músicas folclóricas da manifestação cultural natalina dos povos do Cerrado, pesquisa musical realizada em Correntina, Bahia, cidade rica em musicalidade, pelo grupo Sons do Cerrado ganhou estética e arranjos tornando-se em produto. 

Estranho é saber que esse material nunca foi objeto de pesquisa das universidades baianas, por outro lado, temos a presença sempre constante de universidades goianas estudando esse universo e faz isso com maestria. Quero crer que a recém criada Universidade Federal do Oeste da Bahia possa assumir a missão de reconhecimento, valorização, estudo e pesquisa das riquezas culturais de nossa região. Dentro da gigante Bahia temos muitas outras bahias totalmente singulares, muitas delas, como a nossa, necessitada de políticas culturais que correspondam com as suas pulsantes produções e conteúdos. 

Que na omissão do estado, nós cidadãos, continuemos com o nosso processo de produção e disseminação de uma cultura transformadora. Precisamos provocar, temos ao menos que tentar acordar muita gente. Cultura em movimento é sempre mais bonita. Chega de comer e aceitar banquete de osso, vamos exigir filé. 

Bom apetite cultural para todos!