Por Shirley
Pimentel de Souza
Na terça-feira
dia 19/11 quando fui buscar meu filho na Creche Escola Primeiros Passos, em
Barreiras/BA, fui surpreendida com a notícia de que a Creche havia sido
denunciada por maus tratos a uma criança. Minha surpresa se deu principalmente
pelo fato de minha análise enquanto pedagoga e principalmente enquanto mãe, ser
muito positiva acerca do trabalho desenvolvido por aquela instituição. Assim, não
dei tanta importância ao fato no primeiro momento. No dia seguinte ao ouvir os
relatos das pessoas sobre a reportagem comecei a ficar apavorada e resolvi
assistir ao vídeo. De fato não era a atitude mais adequada pedagogicamente para
educar uma criança que cometeu alguma indisciplina, mas estava longe de ser a
cena descrita no texto da reportagem que enfatizava que a criança havia sido “amarrada
e deixada sozinha em um quarto escuro” ou título da reportagem em alguns blogs
que dizia “crianças são privadas de alimentação e amarradas em creche”. As
pessoas que me abordaram para falar do assunto já vinham com uma posição de
condenação da creche sem sequer ter ouvido outras versões da história. Como
estava achando tudo aquilo muito estranho a única coisa que eu respondia era
“gente, meu filho adora a creche. Vamos analisar com calma pra não fazer
julgamento errado”.

No dia 21/11 foi feita uma reunião com as famílias dos estudantes para esclarecer os fatos e, na minha avaliação, ficou bastante evidente a armação que foi feita para criar o “show midiático” que se tornou o caso. Não quero aqui fazer uma defesa da Creche em questão, visto que a polícia, que é o órgão oficial que tem autoridade no assunto, ainda está investigando o caso. Porém, alguns elementos me chamaram a atenção e quero destacar aqui dois deles: O primeiro elemento que me deixou intrigada e que me motivou a escrever este texto foi a forma como os jornais virtuais e blogs da região trataram o tema, no geral apenas reproduzindo a notícia apresentada pela Rede Globo. Destaco este ponto, visto que uma das características destes meios de comunicação alternativos é justamente a de mostrar pontos de vista negados pelos meios de comunicação de massa, em especial a televisão, que historicamente tem posturas unilaterais e com interesse na notícia mais vendável e não necessariamente na realidade dos fatos. Deste modo, é importante refletir sobre a confiabilidade na informação que nos é passada pelos diversos meios de comunicação, visto que, como neste caso, mais de vinte blogs copiaram os textos uns dos outros, fazendo pequenas modificações de palavras e simplesmente reproduzindo uma versão da notícia, alguns exagerando nos elementos apresentados e outros fazendo juízo de valor. Assim, o fato que inicialmente ocorria com uma criança específica foi generalizado e colocado no plural (crianças). No decorrer da reprodução da notícia, além de amarradas em quartos escuros as crianças também eram privadas de água e alimentação. E tudo isto ocorria regularmente e até então nenhum pai ou mãe havia percebido nada de anormal com seus filhos. Isto no mínimo é uma situação muito estranha de se conceber.
O segundo
elemento que me chamou a atenção se refere à polêmica que se levantou acerca da
indisciplina quando a creche evidenciou que, ao cometer alguma indisciplina, a
criança “perde o direito” e é colocada no “cantinho do pensamento”. Tanto na
reunião com as famílias, quanto nas conversas com outras pessoas sobre o
assunto, as opiniões não são as mesmas sobre as formas de disciplinar as crianças
e no geral os discursos são carregados de senso comum e também de preconceitos
sobre a temática. Ouvi comentários que vão desde “isto é falta de surra” até
“criança nesta idade não tem noção do que faz”. No geral os comentários
demonstravam estilos educativos ou muito autoritários ou muito permissivos,
sendo ambos bastante problemáticos, visto que não dão oportunidade para que a
criança crie autonomia nem compreensão das regras sociais necessárias à
convivência em sociedade. A temática da (in)disciplina é muito ampla e complexa
e envolve estudos na área da psicologia, da pedagogia e ainda outras como a
sociologia e a história. Assim, gostaria apenas de chamar a atenção para a
necessidade da parceria entre família e escola, pois mesmo cada uma destas
instituições tendo papeis bastante específicos no processo de formação da
criança, existem intercessões nestes papeis que precisam ser compartilhadas,
debatidas e definidas com clareza, visto que trata-se da atuação das principais
instituições educativas da criança (família e escola). Então cair no discurso
de culpar uma ou outra não resolverá o problema.
Para finalizar
gostaria de destacar o quanto é preocupante o fato de nos informarmos e
formamos opiniões a partir de visões unilaterais apresentadas pela mídia e em
especial a mídia televisiva. Assim, seria importante que praticássemos mais
frequentemente a nossa capacidade filosófica de questionar frente às
informações midiáticas: a quem interessa esta notícia, neste formato que está
sendo posto? Qual o contexto social, cultura, político, econômico e espacial
que o fato aconteceu? O que está sendo apresentado condiz com a verdade? A
verdade tem apenas uma face ou várias? Posso julgar e condenar a partir apenas
do que me foi apresentado por esta mídia? Creio que estes são apenas alguns dos
questionamentos que precisamos fazer antes formar opinião sobre qualquer fato
apresentado pela mídia, seja ela qual for, inclusive esta que você esta
utilizando agora para ler este texto. Não existem verdades absolutas e sim
perspectivas da realidade.
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