domingo, 5 de agosto de 2012

“Ninguém nasce heterossexual, torna-se heterossexual”

Por Rose Cerqueira*


A identidade sexual é um tema que divide opiniões? Talvez.

E na esperança de suscitar ainda mais a divisão de opiniões a respeito do tema, que algumas questões precisam ser postuladas, principalmente nas rodas de conversa, nos bares da vida.

Aprendemos a ser heterossexual? Aprendemos a ser homossexual? A identidade é determinada biológica ou socialmente? Onde se manifesta a identidade?

Para responder a essas questões tem-se que levar em consideração que a sociedade não é estável, ela se movimenta. O velho Marx dizia que a realidade social é determinada pela relação diálética entre o mundo e as ideias.

Ao contrário do que teoriza os autores Iluministas, a identidade não se trata de algo estável, a identidade pode ser fragmentada ou múltipla. À medida que os sujeitos interagem dentro dos sistemas culturais, esses são modificados. Desse modo, a identidade é um processo cultural e não biológico, como por vezes nos fazem acreditar as instituições de manutenção da sociedade burguesa, naturalizando nossos comportamentos, como por exemplo, a cor rosa é de menina e a cor azul é de menino.

Quem nunca ouviu ou leu a frase: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”? O que Simone de Beauvoir nos diz com isso, é que o conceito de mulher está diretamente ligado as nossas funções no mundo. Tornamos-nos mulher porque ser mulher é desempenhar determinadas tarefas, se vestir de determinada maneira, enfim, ditam como os indivíduos que nascem com uma vagina devem se comportar socialmente.

A sociedade heteronormativa compulsória instituiu normas que regulamentam os corpos e definem que, enquanto algo biológico, o sexo determina o gênero e consecutivamente o direcionamento do desejo e das práticas sexuais. Essas concepções estão enraizadas em discursos da psicologia, biologia, igreja, televisão e em consequencia, da instituição família.

Judith Butler lembra que antes mesmo do individuo nascer é iniciado um processo de masculinização ou feminização do corpo, através de marcas que nomeiam o corpo como: “é uma menina” ou “é um menino”, que supõe o sexo como um dado anterior a cultura e lhe atribui um caráter imutável. A partir daí está estabelecido “defintivamente” nossos papeis sociais, homem heterossexual e mulher heterossexual, não tolerando qualquer desvio.

A ideia de heterossexualidade é instituída em cada novo indivíduo que nasce, através de um processo gradual, como um dado natural, que aponta para uma lógica de que o corpo somente pode ser identificado através de uma ideia binária de macho e fêmea que sempre aponta o desejo sexual para o sexo oposto.

Desse modo, a heterossexualidade deve ser entendida não como uma prática sexual, mas como um regime político que faz parte da administração dos corpos e da gestão calculada da vida no âmbito da biopolítica, um conceito destinado a produzir corpos. Ser heterossexual também é uma construção e a autoafirmação da heterossexualidade é um posicionamento político.

*Coordenação Regional NE1 da ENECOS - Executiva Nacional dxs Estudantes de Comunicação Social