Por Jaciara Santos – Jornalista
Fonte: Portal de notícias À Queima Roupa
A quem o governo do estado pretende enganar com o anúncio de que vai patrocinar aulas de reforço para estudantes de 3º ano do ensino médio voltadas para o Enem e vestibular? Porque, por mais nobres que sejam os objetivos, não há como se desfazer a impressão de que tudo não passa de uma manobra para enfraquecer a greve dos professores, já se avizinhando do 70º dia. Pode até não ser, mas a estratégia lembra um pouco aquelas táticas extraídas de um manual de guerrilhas e que têm como única finalidade desgastar e desmoralizar as forças inimigas.
Na mídia convencional, a notícia vem dando margem a inúmeras (e as mais convenientes possíveis) interpretações. Anuncia-se que “os estudantes do 3º ano do ensino médio terão aula mesmo com a greve dos professores da rede estadual”. Tem mais: boazinha que nem ela, a Secretaria de Educação do Estado da Bahia está preparando “um pacote de medidas” para evitar maiores prejuízos aos alunos.
Bom, não? E a ideia é que todos nós (eu disse todos nós?) possamos nos convencer do quanto o governo do estado é responsável, consciencioso e comprometido com a Educação. Deixar que os meninos fiquem fora do Enem e do vestibular 2013? De jeito nenhum: aulas complementares e de reforço neles!
Mas tem um porém. Nem todo estudante poderá cursar a faculdade ano que vem sem concluir o ensino médio agora em 2012. Ah, mas ele pode entrar pela porta do Enem, não é? Nem sempre. Algumas instituições de ensino superior ainda condicionam o ingresso do aluno à aprovação no vestibular e exigem o certificado de conclusão do antigo segundo grau. E aí?
Aí, apela-se para o tudo ou nada. Com bala$ na agulha, o governo aposta na força da comunicação para vencer a guerra. Aparentemente cooptados, representantes de movimentos sociais lançam apelos emocionais: negros estão sendo prejudicados pela greve e terão seu futuro irreversivelmente comprometido. Quanta hipocrisia! Como se apenas e tão somente houvesse estudantes negros nas escolas em greve.
Por uma questão de coerência, seria prudente lembrar que há radicalismos de ambos os lados. O endurecimento começou quando o governo se recusou a abrir as contas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), única forma de mostrar à sociedade se tem ou não condições de atender ao pleito salarial dos professores. O que há de tão tenebroso nessa contabilidade que o Estado precisa manter escondido? Melhor – ou menos indecente – imaginar que se trata apenas de uma tomada de posição, uma birra…
Por seu turno, os professores também demonstram inflexibilidade. E, a bem da verdade, a categoria perdeu o timming do ponto de retorno. Voltar agora, sem uma única conquista, seria jogar uma pá de cal sobre as bandeiras já conquistadas em 60 anos de história.
Enquanto nada se resolve, o governo lança seus torpedos. Do corte de salários ao anúncio de reforço de aulas para terceiranistas vale tudo. E o governo federal, através do Ministério da Educação faz cara de paisagem. Ministro Mercadante
E o governo federal, através do Ministério da Educação, faz cara de paisagem. O mesmo ministro que, no sul do país, diz defender o piso do professor não move uma palha para mediar a situação em Salvador e que tem como motivação primária a questão salarial. Será que se a Bahia fosse governada por um partido de oposição, o poder central não já teria se manifestado?
Estranho também o silêncio das forças vivas que compõem a sociedade civil. O que pensa a Ordem dos Advogados do Brasil sobre o assunto? E as demais entidades, sempre tão ágeis em se manifestar em situações de menor relevância?
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