terça-feira, 11 de maio de 2010

Dia das Mãe$


No último domingo foi Dia das Mães e mesmo tendo passado, cabe algumas reflexões sobre essa data.

Inicialmente, é preciso registrar que tenho sérias restrições a datas comemorativas como elas acontecem, pois todos os dias devem ser dia de tudo. No entanto, entendo que as datas serveriam como momento de reflexão específico sobre algo, mas isso raramente ocorre nessa sociedade medíocre em que vivemos.

No caso específico do Dia das Mães, é uma das maiores datas para fervilhar o comércio, aquecer o mercado de vendas, estimular o consumismo. Essa data, ao meu ver, tem esse caráter exageradamente consumista (segundo o jornal local, fica atrás apenas das vendas de natal), por relacionar-se ao sexo feminino, culturalmente ligado ao consumismo e mais exposto às exigências do mercado de consumo.

O apelo consumista pôde ser visto nos comérciais, principalmente da televisão, e nesse caso vou me ater ao que vemos em Barreiras nessa data: quase todos ainda relacionam mãe ao lar, associando os presentes majoritariamente a utensilios de uso doméstico, reforçando a figura da mulher como ligada às tarefas domésticas, ainda hoje, apesar de muitas conquistas das mulheres, quase que exclusivamente nossas - ocasionando dupla jornada de trabalho e ainda valorizando essa sobrecarga de trabalho como algo incrível, típico de uma "super mulher" ou "super mãe".

Essas propagandas de louças, geladeiras, microondas, liquidificador e diversos outros eletrodomésticos e eletroeletrônicos, além de associar a figura da mãe ao lar, ao querer transformar as "mães" em produtos rentáveis, o fazem abafando a individualdiade das mesmas, pois todos são objetos de uso de toda a família, como televisões, aparelhos de DVDs, sofás, entre muitos outros. Elas acabam sendo apenas "iscas" para vender cada mais. E continuam sendo, pois ainda hoje vi uma propaganda de "bota fora" pós Dia das Mães.

Essas situações, lembrou-me de um livro que estou lendo (Sexo contra sexo ou classe contra classe, de Evelyn Reed). No início do capítulo "o mito da inferioridade da mulher", a autora aborda como surgiu o mito de que o homem é naturalmente - e não socialmente - superior a mulher porque a mulher é "naturalmente" - ao invés de socialmente - inferiorizada pelo fato de ser mãe. Cito um trecho abaixo:


Não foi a natureza, e sim a sociedade quem roubou da mulher seu direito de participar nas tarefas mais altas da sociedade, exaltando somente suas funções animais da maternidade. E esse roubo foi perpetuado mediante uma dupla mistificação. Por um lado, a maternidade se apresentava como uma aflição biológica. Por outro, esse materialismo vulgar se apresenta como algo sagrado. Para consolar as mulheres como cidadãs de segunda classe, as mães são santificadas, adornadas com uma auréola e dotadas de "intuições" especiais, sensações e percepções que vão além da compreensão masculina. Santificação e degradação são simplesmente dois aspectos da exploração social da mulher na sociedade de classes.

Mas isto não existiu sempre: possui somente alguns milhares de anos.


Por Paula Vielmo

Um comentário:

  1. paulinha e suas postagens sensacionais, estou preprando um texto pro meu zine sobre alguns feriados tb.

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