quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Veja o indispensável partido neoliberal"



Estou publicando esta entrevista pela relevância intelectual: está sendo provado, cientificamente, que a VEJA é neoliberal.


Carla Luciana Silva é autora da tese de doutorado "Veja o indispensável partido neoliberal", trabalho produzido na Universidade Federal Fluminense (UFF) que discute a função da publicação da editora Abril na legitimação do discurso neoliberal.


Em entrevista à Fórum, a pesquisadora analisa a publicação como o meio de comunicação que contribui na consolidação da gestão do capital no Brasil, a partir de 1990. Confira a entrevista.

Fórum - Segundo seu artigo, a revista Veja tem agido de forma mais eficiente que partidos políticos. Em que sentido se dá essa ação?
Carla Luciana Silva - A revista tem uma aparência de neutralidade, de imparcialidade, o que é característica própria a qualquer veículo de comunicação. É por isso que os próprios meios de comunicação buscam insistentemente convencer de que são neutros e imparciais, portadores da verdade. Esses elementos, que chamo de padrão liberal de imprensa, permitem que a revista seja lida e aceita por uma parcela da população que é reticente a partidos políticos. Pessoas que dizem ser apolíticas ou descrentes com o sistema político. No entanto, consomem os produtos dos meios de comunicação, que são formas concretas de ação política, seja dos donos das revistas, seja daqueles que a sustentam. A revista, nesse sentido, tem uma ação pedagógica de convencimento, de ensinar aos seus leitores aquilo que ela propõe como sendo a verdade. Ela se espalha em lugares inacessíveis aos partidos: consultórios, escritórios, bibliotecas públicas. A justificativa para isso é levar informação. Mas o que leva efetivamente é opinião, que se transforma em ação política dos seus leitores.

Fórum - Por que Veja passou a "satanizar" movimentos sociais em geral e, em especial, o MST?
Silva - Porque sua posição é muito clara: a reprodução do sistema capitalista da forma como está estruturado. A satanização não é criação da revista, segue um padrão internacional, o do "modelo de propaganda" [propaganda model], mostrado por Noam Chomsky [linguista estadunidense] . Todos aqueles que de alguma forma contestam o regime são "satãs" em potencial. Isso porque a figura do diabo é muito popular, associada a tudo que é ruim, ao mal, ao indesejado, ao pecado. Assim, a utilização dessas expressões para se referir aos movimentos sociais é uma forma de negar ao leitor a possibilidade de que o mesmo conheça o programa desses movimentos. Ficam apenas com a informação - ou desinformação -, mas com uma carga pesada de ideologia, assumindo o lado do grande capital na luta de classes.

Fórum - Existe uma linha ideológica nos ataques sistemáticos da publicação aos movimentos sociais?
Silva - Sim, essa coerência é total, e é ampliada a qualquer grupo de esquerda ou governos que contestem o sistema capitalista. As vítimas podem ser o MST, o governo do [presidene venezuelano Hugo] Chávez. Nos anos 1990 a revista apoiou a Renovação Carismática [Católica], porque esse grupo assumia uma postura totalmente contra a ação concreta das Comunidades [Eclesiais] de Base e da Teologia da Libertação. Essa postura é permanente. Vemos isso na construção de um mundo "ideal": o do consumo e do mercado como lugares da plena satisfação humana. E por outro lado, os movimentos sociais seriam ameaça a esses benefícios do capitalismo, que são mostrados, segundo um padrão liberal, como sendo acessíveis a todos que se esforçam e sabem jogar as "regras do jogo". Podemos ver isso na análise dos 30 anos do maio de 1968, quando a revista publicou uma série de fotografias em preto e branco, congelando, cristalizando aquele passado de lutas e de conquistas sociais, e mostrando como aqueles lutadores hoje teriam aprendido a lição e hoje atribuíam aquela ação aos rompantes de juventudes, conflitos de geração. Assim, mais uma vez se oculta a expressão real da luta de classes.

Fórum - Que tipos de interesses estariam por trás desse tipo de postura da publicação?
Silva - Acredito que os interesses são os da reprodução do sistema do capital, mais propriamente no neoliberalismo. A revista ajudou a construir essa forma de gestão do capital ao longo dos anos 1990. E isso foi possível graças a sua ação política, amalgamando as dimensões sociais, políticas e econômicas. Podemos destacar as relações da revista com seus anunciantes, sobretudo o capital financeiro privado e as multinacionais, sejam do ramo automobilístico, e do entretenimento.

Fórum - A senhora acha que, uma vez adotada essa postura conservadora, existe alguma chance de Veja mudar o seu perfil futuramente?
Silva - Tenho estudado e orientado trabalhos sobre a revista que abrangem toda a sua existência. Está cada vez mais claro que a revista tem uma atuação coerente ao longo de sua existência. Não há razões para que ela mude. Ela não está em disputa, não dá espaço para o pensamento contraditório. Portanto, não vejo qualquer perspectiva de mudança da revista. Cabe salientar que sendo assim, os movimentos sociais jamais devem colocar como objetivo ser pautados pela revista, ser entrevistado por ela ou algo do gênero. Devem, isso sim, ter seus próprios meios de comunicação que atinjam a seu público específico, os construtores das lutas sociais. A grande mídia busca pautar a agenda social, mas aos movimentos sociais cabe propor sua própria agenda, de acordo com suas estratégias específicas de luta, e isso abrange a sua comunicação.

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer)”


http://www.revistaforum.com.br/

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