terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Chuvas em Barreiras: um desejo que torna-se uma tragédia anunciada

Por Paula Vielmo
(amante de chuvas)


Em tempos de reformulação do PDU - Plano Diretor Urbano, 
talvez esse textinho seja provocativamente útil.


Salvo falha da memória, o ano de 2015 foi de profunda estiagem, com raros pingos de água caindo do céu. Numa região conhecida por sua numerosa produção agrícola, isso é terrível. Não para o agronegócio que mantém as suas monoculturas latifundiárias utilizando até a última gota das águas dos rios, com seus inúmeros pivôs, mas de tragédia absoluta para os pequenos produtores rurais, que segundo um amigo agrônomo quando questionei como estavam plantando, disse "não estão".

Nesse cenário, somado ao clima de baixa umidade constante, de muita poeira e pouco vento; de problemas de saúde, sobretudo no sistema respiratório (mais das crianças e idosos); de queimadas e de fumaça se infiltrando de maneira violenta em nossos pulmões, um desejo latente: chuva!

Sim, a chuva tão desejada, tão esperada, tão necessária, demorou horrores para chegar, mas chegou! Queria que fosse um texto, uma reflexão, um relato e, sobretudo, uma vivência, totalmente positiva. Não é.

Fonte da imagem: Rádio Barreiras
A chuva por nós, tão aguardada, agora nos lembra a situação caótica em que nossa cidade encontra-se, sem qualquer infraestrutura no centro ou bairros não centrais para receber tanta água. Estamos, sem qualquer dúvida, diante de uma cidade despreparada e sem planejamento para receber de maneira saudável e positiva a água advinda da natureza.

Se antes, sair de casa significava deparar-se com poeira, agora não é mais nem com lama, mas com inundações que inviabilizam o direito de ir e vir; se os buracos eram "quase naturais", haja vista as décadas e décadas de suas existências sem mudanças, eles agora crescem com a força das águas ou se tornam invisíveis, aumentando a possibilidade de acidentes seja de automóvel, bike, ou a pé;

Os pedestres tem que conviver com a falta de educação dos motoristas, acelerados, jogando água para todos os lados, sem qualquer possibilidade de proteção, pois não há calçadas; Não há calçadas! E inacreditavelmente, agora está pior.

Bairro: Loteamento Rio Grande.
Fonte da imagem: Rádio Barreiras
Os usuários do transporte coletivo, antes expostos ao sol escaldante devido a ausência de paradas de ônibus cobertas (sim, as fatídicas placas nos postes continuam lá, firmes e fortes, saí governo e entra governo), estão expostos à água que caí sem parar.

As cenas são chocantes. E são reais! 

Eu, adoradora e amante de chuva, não consigo sequer aproveitar com total alegria esse momento, em virtude das condições degradantes, desumanas e caóticas em que Barreiras está, literalmente, submersa! E a responsabilidade é dos sucessivos governos e o total descompromisso, irresponsabilidade e falta de planejamento. 

A chuva é previsível, o orçamento público é de mais de 300 milhões por ano e a gente continua vivendo esse dilema, entre saber se é bom ou ruim ter chuva?! 

Até quando, ficaremos reféns da inoperância de Saulo, Jusmari, Antônio Henrique e semelhantes? Até quando teremos uma Câmara Municipal que se preocupa com a pequena política, enquanto o povo praticamente se afoga? Até quando a justiça ficará omissa, com os olhos vedados por conveniência e não por imparcialidade?

Que seja logo, a chuva precisa ser aproveitada como um bem natural ao qual temos que reverenciar , e de modo algum, temer. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Até quando o Centro Histórico será dominado pelo desconforto acústico?

Por Paula Vielmo

Primeiro domingo de 2016, mas me senti no ano todo de 2015. Obviamente necessitamos para transformações e mudanças, de muito mais do que "virar a folha do calendário", mas em tempos de início de ano e de perspectivas latentes, cabe o trocadilho para estimular a reflexão. Tudo bem, mas afinal, sobre o que trato?

Refiro-me aqui de algo que me incomoda faz muito, muito, muito tempo e diz respeito ao nosso patrimônio cultural e histórico, mas mais do que isso, diz respeito às condições de lazer a que estamos submetidos/as aqui em Barreiras, velho oeste da Bahia. Não somente aqui, mas é aqui que moro, logo, é aqui onde essas questão mais incomodam, pois estão bem próximas.

Faz realmente muito tempo que o chamado "Centro Histórico" virou um "Centro de Desconforto Acústico" (ou seria Poluição Sonora?), onde inúmeros bares disputam mais do que clientela, mas o som que dominará o espaço. Sim, considero uma relação de dominação, onde estabeleceu-se uma disputa nada saudável - sobretudo aos nosso ouvidos - de sons cada vez mais altos.

Além disso, a privatização do bem público salta aos olhos diante da banalização do inaceitável. Até pintar o asfalto, certos bares já fizeram. Sério, PINTAR O ASFALTO!

Foto: Paula Vielmo (07/01/2016)

Sabemos que temos um Poder Público altamente descompromissado e inoperante em relação a todas as demandas da população, mas é necessário frisar que é de responsabilidade do EXECUTIVO/ PREFEITURA fiscalizar as festas e sons expostos em via pública no Centro Histórico, bem como a possível poluição sonora a que as pessoas que frequentam o local ou que residem na região, estão submetidas. E tem legislações sobre isso e é de responsabilidade do LEGISLATIVO/ VEREADORES(AS) fiscalizar o cumprimento ou não das leis. Que tristeza, essa sensação permanente de que estamos em uma terra sem lei!

Bastaria uma regulamentação e conscientização dos donos e donas dos bares/karaokês e um revezamento de sons, considerando a distância pequenina entre os estabelecimentos para tornar/retornar o Centro Histórico ao local de lazer dos mais agradáveis da cidade. É possível e é necessário!

E aí, Prefeitura, que é que você vai fazer? O que a Câmara vai fazer?


Observação: troquei a foto no texto, pois era do Vieirinha e causou atrito com o pessoal do Bar, que eu a-do-ro. Nunca foi minha intenção atrelar o Vieira ao desconforto acústico, pois considero-o exemplo de resistência cultural em Barreiras, então troquei por essa foto que eu mesma tirei, após o texto ter sido escrito.