terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Entre nós": sobre a violência doméstica contra a mulher.

"Começou quando eu engravidei do meu primeiro filho".

"Entre Nós" é um projeto fotográfico independente, feito por alguém que não aguenta mais ouvir sobre mulheres que sofrem violência dentro das próprias casas - histórias, muitas vezes, sobre pessoas muito próximas e queridas.

Depois de pesquisar, ouvir e conversar com muitas mulheres - sobre sofrer violência e não contar para ninguém, sobre sofrer e contar, sobre o efeito devastador que isso causa na vida da pessoa, sobre procurar ajuda, sobre medo, sobre culpa, sobre impotência, sobre silêncio, sobre todas as milhões de complexidades que este tema envolve - este projeto foi a forma que eu encontrei de me posicionar, de dizer "não concordo". Não pretendo, com isso, trazer as respostas, mas sim incomodar e gerar uma discussão sobre o assunto. Não se trata, portanto, de uma campanha, mas de uma proposta de reflexão sobre um tema que não é suficientemente falado no Brasil.

"Eu esperei ele mudar. Faz 11 anos  que eu estou esperando".
Sim, existem crianças que apanham em casa, idosos que apanham em casa, homens que apanham em casa. Mas, neste projeto, estamos falando exclusivamente sobre a violência doméstica contra a mulher: ela acontece em todas as classes sociais e em todas as idades, e está muito mais próxima do que às vezes podemos imaginar. Os números são assustadores (veja alguns dados e exemplos em Links Úteis).

Todas as mulheres retratadas aqui são atrizes, mas encenando situações de histórias reais: não se trata, portanto, da Maria ou da Joana, pessoas específicas, com casos específicos. Estas personagens são a representação de um contexto enorme, realmente complexo, e de um situação que afeta muita, muita gente - e que, principalmente, não pode deixar de ser discutida.

Estas fotos são uma forma de protesto.


Texto retirado integralmente do site do projeto "Entre nós". Confira todas as fotos CLICANDO AQUI!


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A expansão da UFBA

Por Nelson Pretto¹

A
Comissão de Patrimônio, Espaço Físico e Meio Ambiente da Universidade Federal da Bahia tem estudado algumas propostas para a sua expansão em termos de área física. É sabido e visível que estamos já espremidos tanto no campus de Ondina como no Canela. Ao longo dos últimos anos, a UFBA ampliou seus espaços para além da capital, implantando os campi de Barreiras, que depois deu origem à Universidade do Oeste da Bahia, de Vitória da Conquista e um outro em Camaçari, que até agora não mostrou o foco de sua implantação sem ter efetivamente saído do papel. Estão sendo estudados, segundo seu Plano de Desenvolvimento Institucional, a “criação do Campus UFBA no Subúrbio Ferroviário de Salvador e um outro na Chapada Diamantina, com sede em Lençóis”. Não resta dúvida que a UFBA olha para diversos outros espaços e áreas e isso, em princípio, é muito bom.

No entanto, esta expansão precisa ser mais discutida no interior da própria universidade e, principalmente, com a sociedade baiana.
A questão norteadora das futuras discussões que espero que em breve aconteçam, deve ser prioritariamente compreender qual o modelo de universidade queremos para a Bahia. Um Estado que saiu da lamentável situação de só ter a UFBA como instituição federal de ensino superior, para a privilegiada situação de ocupar o 3º lugar no país em número de Federais por estado, contanto com cinco Instituições: além da UFBA, temos a UFRB no Recôncavo, a do Sul da Bahia, a do Centro Oeste e a do Vale do São Francisco, esta em pareceria com Pernambuco.
A UFBA cresceu, tendo hoje cerca de 40 mil alunos entre graduação e pós-graduação, com a implantação de muitos cursos noturno (em 2012.1 eram 7.679 alunos nos cursos noturnos), sendo esta uma aspiração de muitos, no interior na própria comunidade universitária e na sociedade. No entanto, precisamos pensar que tipo de universidade está sendo implantada, especialmente no período noturno. O que temos visto, basicamente, é que à noite, nossos alunos têm aulas e nada mais. O que sempre criticamos quando da absurda e desordenada expansão do sistema privado de ensino superior, está sendo a nossa prática: a implantação de escolões de terceiro grau! À noite, não há pesquisa, não há extensão, não há vida universitária! E mesmo para as atividades de ensino, as condições concretas estão longe de serem as minimamente adequadas para uma instituição que se valha do título de superior. São condições verdadeiramente inferiores, de trabalho, de infraestrutura e, como consequência, também de ensino.
É com base nesta experiência que temos que pensar sobre as possibilidades de expansão da UFBA. Durante o rico evento UrBA 2013, realizado em novembro último na Faculdade de Arquitetura, participei de um debate sobre o tema. Umas das apresentações realizadas foi a do superientende do IPHAN na Bahia, meu ex-aluno Carlos Amorim, que apresentou a possibilidade da UFBA vir a se agregar ao esforço de revitalização da região do comércio na cidade baixa aqui em Salvador. Com isso, alguns históricos prédios poderiam ser usados pela Universidade. De novo, a questão central volta à tona: usados para que? Para mais salas de aulas? Será essa a expansão que almejamos? Podemos pensar o mesmo para o chamado subúrbio ferroviário: que UFBA lá queremos?
Se a resposta for apenas ocupar salas de aulas para que alunos daquelas regiões possam receber aulas, estas oferecidas por professores que até lá se deslocariam para oferecer os conteúdos curriculares, seguramente esta não é uma adequada opção para a expansão da UFBA. Estaremos perdendo, assim, uma grande oportunidade de, efetivamente, entender a Universidade como um ente que tem como indissociável o ensino, a pesquisa e a extensão, tudo isso inserido fortemente naquelas regiões para, efetivamente, fazer a diferença na produção da ciência, de culturas e conhecimentos, estes fortemente articulados e enraizados com a realidade local que, conectada pelas redes digitais, seria, ao mesmo tempo planetária. Essa é a grande UFBA que queremos e não uma expansão pela simples expansão.
¹ Professor (e ativista) da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Secretário regional da SBPC-Bahia. Membro da Academia de Ciências da Bahia
Retirado originalmente de Terra Magazine

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sessão Extraordinária da Câmara Municipal de Barreiras: nada de extraordinário, tudo igual!


Por Paula Vielmo



A primeira postagem de 2014 não traz muitas novidades em termos de acontecimentos e fatos, pois vai abordar a sessão extraordinária da Câmara Municipal de Barreiras ocorrida na terça-feira, 07 de janeiro de 2014.Tal sessão foi convocada para "apreciar vetos parciais do executivo municipal opostos às leis orçamentárias 1.049/2013, que dispõe sobre as Diretrizes Orçamentárias - LDO, 1.050/2013, que institui o Plano Plurianual PPA, 1.051/2013, que estima a receita e fixa a despesa do Orçamento Anual LOA, bem como a Lei 1.040/2013, e ainda para votação do projeto de lei nº. 019/2013 de autoria do Poder Executivo municipal que dispõe sobre a organização administrativa da Prefeitura Municipal de Barreiras" (Fonte: CMB), resumindo, para votar os vetos do prefeito à LDO, PPA e LOA e a reforma administrativa que propunha a criação de três novas secretarias municipais.

A sessão, marcada para 19:30 começou às 19:41. Os vereadores/as começaram a chegar a partir das 19:20, mas no horário marcado nem todos haviam chegado. O vereador Hipólito (PTC) chegou após a chamada e os vereadores Carlão (PSD) e Digão (PP) não compareceram (nem foi justificada a ausência por nenhum dos coleguinhas). A galeria da Câmara ficou lotada, sobretudo por muitos governistas e pessoas com cargos no governo municipal. Estava preparado o cenário perfeito para o grande espetáculo de stand-up coletivo que aconteceria nas mais de três horas a seguir.

Representar, nos palcos ou o povo, é uma arte e requer talento. Arte e talento são dois atributos que os vereadores e vereadoras de Barreiras, altamente incompetentes e despreparados para a boa política - entendida como aquela que beneficia os interesses coletivos, ou seja, da população -, não possuem. 

Após a leitura da pauta pela vereadora Karlúcia (PMDB/1ª Secretária), o vereador Aguinaldo (PTdoB) sugeriu um minuto de silêncio pelo falecimento da mãe de B.I. (PROS) e houve a queda repentina de um vidro, assustando os presentes. Em seguida desses episódios a palavra foi franqueada e vivenciamos mais de duas longas horas de falas esvaziadas por parte dos protagonistas da comédia stand-up tragicômica daquela noite: os "nobres" vereadores.

Vereador Otoniel
O primeiro a subir na tribuna foi o vereador Otoniel (PCdoB). Ele melhorou o discurso e escolheu uma linha interessante naquela noite: sobre o aumento dos gastos do município com a criação de mais três Secretarias, principalmente na folha de pagamento do funcionalismo público. Todavia, o discurso do vereador foi interrompido pelo faniquito do vereador Aguinaldo, que solicitou "aparte" e não aguentou esperar nem suportou as vaias de algumas pessoas da galeria. O vereador começou a berrar e bater na mesa, incorporando o papel de faniquito clássico. Depois disso o discurso de Otoniel se perdeu e ele finalizou na pequena política das suas indicações que haviam sido vetadas: postos de saúde, asfalto, apoio aos grupos de capoeira...tudo muito legislativo.

Vereador Aguinaldo
Esse episódio foi a motivação de vários que se seguiram no que trata de silêncio da população. O presidente da Câmara, vereador Tito (PDT) pediu que não houvesse manifestação na galeria, como prevê o Regimento Interno da Câmara. O povo de Barreiras já é passivo, então atender essa solicitação, sobretudo com maioria de governistas, não foi difícil. Que povo (tragicamente) obediente!

Vereadora Karlúcia
A próxima fala foi do vereador Aguinaldo (PTdoB), que dos dez minutos, como de praxe, utilizou quase dois para "agradecimentos, felicitações e futilidades afins". Depois defendeu o prefeito, com argumentos de pequena política de que apoiou fulana e agora está com ciclano: lindo de se ver a fidelidade ao prefeito, mas traição total ao povo! A vereadora Karlúcia (PMDB) subiu à tribuna com algumas várias folhas de um discurso entregue pela assessoria (durante a sessão, sem qualquer disfarce), mas se perdeu ao passar as folhinhas e depois disso...alguns gaguejamentos e nada aproveitável.

Vereadora Marileide
Em claro revezamento entre discursos prós e contras os vetos, subiram à tribuna o vereador Lúcio (Solidariedade), para defender o prefeito e os vetos. Em seguida a vereadora Marileide (PSL) subiu com um compêndio de direito como parte de sua personagem e fez seu discurso, nos moldes de sempre: citação de leis e leis, e reconhecimento de que antes votou a favor das emendas e agora votaria a favor dos vetos porque era inconstitucional. Ora, ambos (Lúcio e Marileide) são da Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final da Câmara e não perceberam que era "inconstitucional" antes dos vetos de Tonhão?! Como assim, Marileide?!

Eis que sobe o presidente Tito, ocupando a tribuna em defesa das emendas, de que não eram inconstitucionais e dizendo que todos os projetos encaminhados pelo Executivo em 2013 foram aprovados, exceto o de aumento da tarifa de ônibus por causa de intervenção do Ministério Público. Após, entram em cena com suas falas limitadas em tempo e conteúdo, os vereadores Gilson (PROS), Alcione (PHS), Eurico (PPS), Rui Mendes (PTdoB), Vivi (PCdoB), Núbia (PP) e por fim, B.I. (PROS). Era mais tentativa de justificar a contradição que viria a seguir do que propriamente falar da ordem do dia.

A galeria estava bastante esvaziada às 22:13 quando começou a votação. Compreensível, porque suportar aqueles discursos nada com nada realmente é muito difícil. Inicialmente a votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), seguida da LOA (Lei Orçamentária Anual), parecer do PL 019/13 e do PL. Até então a votação seguia padronizada: 11 votos a favor dos vetos do Prefeito (Aguinaldo, Vivi, Beza, Eurico, Hipólito, Gilson, Lúcio, Graça, Marileide, Núbia, Rui)  e 05 (Alcione, B.I., Célio, Karlúcia e Otoniel) contra, mas de repente aconteceu uma reviravolta quando Alcione, apoiado por Otoniel, ambos membros da Comissão de Planejamento, Trânsito e Obras leu a resposta de um requerimento feito à prefeitura, protocolada às 19: 11. 

Vereador Rui
Foi citação de regimento interno da Câmara aqui e ali, até que o vereador Rui disse, sem qualquer vergonha como era o jogo: "somos 11 hoje e seremos 11 daqui a dez dias, vota logo hoje!" E assim foi feito e aprovou-se a criação de mais três secretarias com o mesmo placar de 11x05, criando mais de 350 cargos para as Secretarias de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Serviços Públicos e Trânsito e Segurança Cidadã. Observemos que o vereador Vivi, apesar de ser do PCdoB, que "se diz" oposição ao governo de Tonhão, continua votando com o governo sem qualquer constrangimento e fidelidade partidária.

Fazia tempo que eu não frequentava as sessões, e sinceramente, aquela noite me lembrou como é difícil fazer tal acompanhamento: é muita pequena política em cena para suportar quando já se tem uma leitura mais ampla sobre o processo político, o sistema representativo e suas limitações e a convicção da necessidade de ruptura com tudo o que está posto. Aquela noite foi a reafirmação de que a política representativa está falida, não funciona em Barreiras e em nenhum lugar, pois as negociatas e interesses pessoais e de agrupamentos se sobrepõem aos da sociedade coletivamente. Foi um espetáculo de tudo o que não deve ser feito como boa política!